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Trabalhador brasileiro produz, em média, um quarto do desempenho do profissional americano

Especialistas acreditam que aumento da produção depende da capacitação dos colaboradores, além de investimentos em infraestrutura e políticas públicas

Nos últimos anos, a indústria brasileira cresceu menos que a economia e sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) é de 25% - dez pontos percentuais a menos em comparação com os anos 1990. As informações foram divulgadas no mês de novembro de 2014 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), durante o Encontro Nacional da Indústria (Enai). Segundo a instituição, a produção industrial está abaixo do índice registrado na pré-crise de 2008 e o Brasil está se comportando como “mero coadjuvante” no cenário industrial mundial.

Em artigo publicado na Folha de São Paulo, em janeiro de 2015, Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Fundação Getúlio Vargas, cita que um trabalhador brasileiro produz, em média, apenas um quarto do que produz um trabalhador americano. Ele elenca três fatores, do ponto de vista contábil, que podem explicar a deficiência brasileira no quesito produtividade: os trabalhadores brasileiros são menos educados e qualificados (isto é, possuem um menor capital humano); os trabalhadores brasileiros têm a seu dispor menos infraestrutura (menos capital físico); e ineficiência da economia (os trabalhadores com mesmo capital humano e físico que os trabalhadores em países avançados produzem menos que estes últimos).

O vice-presidente da Fiep, Valter Orsi, enfatiza que o desempenho da indústria está piorando ano a ano. No período de 2000 a 2013, a indústria brasileira ficou praticamente estagnada e os números de 2014 apontam queda na produção. Na opinião dele, a baixa produtividade é uma consequência de um conjunto de situações. A primeira seria a questão da logística. “O país tem dificuldades no transporte rodoviário, ferroviário e aéreo”, relata.

A capacitação também é citada por Orsi como um problema que precisa ser resolvido. “Nesta área, deixamos muito a desejar. A capacitação dos nossos colaboradores é aquém das nossas necessidades. Não oferecemos ferramentas para aumentar a produtividade e acabamos perdendo competitividade por essa razão”, destaca.

Por fim, ele salienta que a defasagem na infraestrutura do parque fabril brasileiro é outro fator que afeta a produção. “Faltam investimentos e modernização nas fábricas. As indústrias não estão evoluindo. O índice de produtividade está próximo de zero. Somos um dos países com menor produtividade do mundo”, opina Orsi.

Enquanto o Brasil vive um momento de estagnação no crescimento, outros países se recuperam. A crise mundial de 2008 estimulou as economias avançadas a reavaliarem suas estratégias, entre elas, a produção industrial. Nesses países, a indústria do futuro já está no presente. As impressoras em 3D e a massificação de robôs provoca uma revolução nos métodos de produção. A atividade industrial nos Estados Unidos, epicentro da crise, já retoma sua capacidade de competir e se reestrutura. A maioria dos países emergentes faz o mesmo: se torna mais competitivo e se insere no mercado global. Essa também deve ser a prioridade do Brasil, na visão da CNI.

Tripé do crescimento

Marcos Rambalducci, professor de economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Londrina, aponta os caminhos que podem mudar os rumos da produtividade brasileira. As melhorias na infraestrutura, principalmente no que diz respeito à logística, são observadas pelo economista como fundamentais para que o país seja capaz de produzir mais. “Se ao invés de construírem estádios fossem feitos investimentos no sistema modal de transportes, teríamos um efeito multiplicador na cadeia produtiva”, avalia.

Outra questão que deve ser priorizada é a educação. “O capital nas mãos de quem tem conhecimento agrega valor aos produtos desenvolvidos. A inovação dos processos está associada à educação e permite que, com os mesmos produtos disponíveis, o índice de produtividade seja maior. Quanto maior o nível de escolaridade, maiores serão as chances de inovar e, consequentemente, de aumentar a produtividade”, analisa Rambalducci.

O último fator é a criação de políticas públicas, entre elas, um maior estímulo à atividade industrial. Na visão do economista, especialmente em Londrina, é possível perceber incentivos na prestação de serviços, cujo campo de atuação está circunscrito a uma área delimitada. Por outro lado, a atividade industrial oferece um ganho em escala e aumenta a produtividade. “Um cabeleireiro, por exemplo, tem sua produção diária limitada. Esse é um exemplo de produto 'no tradable', expressão em inglês para produtos 'não negociáveis', isto é, que não podem ser exportados”, frisa o economista.

Valter Orsi ressalta que todas essas medidas dependem da participação do governo. Além de readequar a infraestrutura, é preciso equilibrar as contas para motivar novos investimentos por parte dos industriais. “Os empresários precisam de segurança para investir e aumentar os postos de trabalho. Além disso, de nada adianta o empreendedor investir se não houver a contrapartida do governo. É preciso criar um ambiente favorável para aumentar a competitividade, trabalhar fortemente para diminuir o custo Brasil e a inflação. Por que não competimos com a China? Apenas mandamos matéria-prima para lá”, observa.

Estudo 

Um estudo divulgado pela CNI, em fevereiro, aponta que a produtividade cresceu bem menos no Brasil do que em outros 11 países entre 2002 e 2012. No período, a taxa média de crescimento do índice que mede quanto se produz por hora trabalhada por ano foi de 0,6%, o menor da comparação inédita feita pela CNI. A Coreia do Sul aparece no outro extremo com uma alta de 6,7% a cada ano. Nos Estados Unidos, o aumento foi de 4,4%. No Brasil, o crescimento acumulado entre 2002 e 2012 foi de 6,6%. Leia mais sobre o estudo no Portal da Indústria.

Com informações da Acil e da CNI

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