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Cotações recordes do algodão chegam com força ao varejo. Alta já atinge 37%
SÍLVIO RIBAS e JORGE FREITAS
O brasileiro está pagando caro para se vestir. A escalada do preço do algodão, iniciada em agosto de 2010, está chegando mais forte às roupas, sobretudo com a entrada da coleção outono/inverno. Para especialistas, esse efeito retardado sobre o varejo continuará pelo menos nos próximos dois meses, apesar da cotação da matéria-prima estar em declínio.
A variação do vestuário dentro da primeira prévia do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) de maio mostra avanço de 1,34% para 1,60%, conforme dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Em abril, o segmento foi responsável pela segunda maior alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): 1,42%, ante 0,56% em março, perdendo só para os combustíveis, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os reajustes mais expressivos do grupo foram nos itens infantis, que subiram 1,97%.
O aumento dos preços nas roupas em Brasília levou a bancária Nila Fernandes, 56 anos, a comprar em São Paulo, onde duas ou três peças básicas do vestuário feminino podem custar R$ 200 numa loja de departamentos. "Aqui, tudo é mais caro e não existe preço promocional, que possa se adequar ao bolso de quem precisa administrar uma casa", disse.
Coleção
O lojista e atacadista Juscelino Mattos acredita que a coleção
outono/inverno chegará às lojas com aumento de 37% nos preços, depois de a de verão estar sendo
vendida 25% mais cara, puxada pela maior escalada de preços do algodão em 42 anos. "O comércio têxtil
vai enfrentar uma alta devido à baixa produção das safras de algodão em 2009 e em 2010, causada
pela estiagem e as quebras de produção no Paquistão", afirmou.
A falta de produto foi compensada com a subida de preços, em torno de 30%. O mercado, contudo, deve continuar aquecido, estimulando novos plantios. Em 2012, a expectativa do setor é de ganhos de produção no Brasil e no exterior, particularmente na China.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o preço do algodão e a retração das vendas afetaram a produção, que recuou 7% em janeiro e em fevereiro em relação a igual período de 2010. O presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho, também destacou a crescente perda de competitividade para importados asiáticos. "Se as importações de roupas e de tecidos mantiverem o ritmo atual, a balança comercial do setor vai fechar 2011 com deficit histórico de US$ 5,6 bilhões", disse.
Pressões estão no limite
Os produtores de algodão admitem que a escalada nas
cotações chegou ao limite suportável pelo mercado. "A escassez e a especulação levaram
a um pico de preços difícil de repassar à indústria e ao varejo. Essa realidade e a expectativa
do início da colheita provocaram quedas sucessivas nas cotações do algodão, acentuadas nos últimos
10 dias", disse Haroldo Cunha, presidente do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). Após dispararem até
a primeira quinzena de março, os preços do produto despencaram, segundo dados do Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). Em 31 de março, a arroba de algodão
era negociada a R$ 128. Ontem, estava a R$ 79, um recuo de 38,5%.