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Programado para morrer

23 de janeiro de 2012

Por Tatiana de Mello Dias

A obsolescência programada reduz a durabilidade de produtos para estimular o consumo, mas um documentário vem mostrar o lado sombrio desta prática raramente admitida pela indústria

SÃO PAULO - A cineasta Cosima Dannoritzer usa o mesmo celular há 13 anos. "Ele nem tira fotos, mas eu tenho uma câmera para isso", diz. Depois de ouvir lendas urbanas sobre obsolescência programada - a prática da indústria de determinar uma vida útil curta em seus produtos para vender mais -, ela decidiu investigar o tema. E a realidade se tornou ainda mais estranha para ela.

Em seu documentário, The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada, em inglês), Cosima mostra que a indústria tem práticas escusas para determinar a validade dos seus produtos. E isso ocorre especialmente na indústria da tecnologia.

O caso da primeira geração do iPod é emblemático. Casey Neistat, um artista de Nova York, pagou US$ 500 por um iPod cuja bateria parou de funcionar 8 meses depois. Ele reclamou. A resposta da Apple foi "vale mais a pena comprar um iPod novo". O caso virou uma ação de rua nos cartazes publicitários da Apple, retratada no vídeo iPod's Dirty Secret. O filme foi visto por Elizabeth Pritzker, uma advogada de São Francisco. Ela entrou com uma ação coletiva em nome dos consumidores - naquela altura, a Apple já havia vendido três milhões de iPods pelos EUA.

No caso do primeiro iPod, a empresa fez um acordo com os consumidores. Elaborou um programa de substituição das baterias e estendeu a garantia dos iPods por US$ 59. A Apple disse ao Link que "a vida útil dos produtos varia muito com o seu uso".

"Eu acredito que o desenvolvimento do iPod foi intencionalmente uma obsolescência programada", diz a advogada no documentário.

De diretora, Cosima abraçou a causa e virou ativista contra o consumismo. "Na indústria da tecnologia, muitos consumidores estão sempre procurando pela última versão, para ter novas funções, mas também para seguir a moda", afirma. "Muitas formas de obsolescência programada estão juntas. Na forma tecnológica pura, mas também na forma psicológica em que um consumidor voluntariamente substitui algo que ainda funciona só porque quer ter o último modelo."

Uma dessas travas eletrônicas é a que está em impressoras a jato de tinta. No filme, um rapaz vai à assistência para consertar sua impressora. Os técnicos dizem que não há conserto. O rapaz então procura pela web maneiras de resolver o problema. Ele descobre um chip, chamado Eeprom, que determina a duração do produto. Quando um determinado número de páginas impressas é atingido, a impressora trava.

A Epson nega. A assessoria de imprensa afirma que não há nenhum prazo para seus produtos. "Rejeitamos totalmente a afirmação de que eles são fabricados para apresentar defeitos depois de algum tempo", disse. "A almofada de tinta e o Eeprom mencionados no programa são instalados para manter a alta qualidade da impressora e não para controlar a vida útil do produto."

Crescimento. A prática, porém, não é de agora. A história da obsolescência programada confunde-se com a história da indústria no século 20. E tudo começou com lâmpadas.

Na década de 1920, um cartel que reunia fabricantes de todo o mundo decidiu que as lâmpadas teriam uma validade: 1.000 horas (embora a tecnologia da época já pudesse produzir lâmpadas mais duráveis, e uma lâmpada de 100 anos que ainda permanece acesa é citada logo no início do documentário). Assim, as empresas conseguiriam garantir que sempre haveria consumidores para seus produtos.

Com a crise de 1929 o consumo caiu. E a obsolescência programada se consolidou como uma estratégia da indústria para retomar o crescimento.

 

 

Por que você fez o filme?

Eu ouvia um monte de lendas urbanas sobre obsolescência programada. Todas elas iam pela mesma linha: era uma vez um inventor que patenteou um produto que duraria para sempre - lâmpadas, pneus, carros, o que seja - e então o inventor ou a invenção desapareceram sob circunstâncias misteriosas. Você pode procurar pela internet. Está cheia dessas histórias. Eu queria saber se havia alguma verdade nelas. E, na verdade, a realidade se tornou ainda mais estranha.

A indústria assume isso?

A maioria dos fabricantes vão dizer que eles nunca fariam algo do tipo porque seria contraproducente e afugentaria os clientes. Mas isso não é verdade porque, por exemplo, a maioria das impressoras jato de tinta tem a vida útil muito curta, independentemente da marca que você compra. Nós não temos alternativa. Outros fabricantes vão dizer que isso não é um problema, contanto que os preços continuem baixos. Eles não estão totalmente errados. Mas tudo isso cria um grande problema para o meio ambiente, sem mencionar para os nossos bolsos.

Quais são as piores empresas?

Meu filme não é sobre empresas específicas. O problema com a obsolescência programada é que isso está espalhado em todo o sistema. É um dos pilares que sustenta o crescimento da economia. O pior para mim é que o consumidor não está sendo avisado sobre a duração do produto. Se nós tivéssemos essa informação, poderíamos fazer uma escolha consciente sobre qual modelo ou marca comprar. Outro grande problema é que a obsolescência programada contribui para a criação de montes de lixo. E, por último, mas não menos importante, um monte de criatividade é dedicado à diminuir a vida útil, e para mim isso é uma perversão. Design e engenharia deveriam melhorar nossas vidas, e não ajudar a criar lixo.

A obsolescência programada fez sentido no passado. E hoje?

A obsolescência programada sempre faz sentido quando você pensa em manter o crescimento da economia e a criação de empregos a curto prazo. O problema é a longo prazo. Nós estamos usando os recursos naturais muito mais rápido do que o necessário porque uma vez que algo é jogado fora, a maioria dos materiais não é reutilizada, incluindo alguns metais extremamente raros, e em adição a isso nós estamos criando montanhas de lixo. Nós estamos começando a ver as consequências, que não são aceitáveis.

Você vê sinais de mudanças por parte da indústria?

Quando eu comecei a procurar alternativas, eu fiquei preocupada que só acharia poucos acadêmicos aposentados cujas ideias não funcionariam na prática. Mas eu fiquei gratamente surpresa por encontrar várias abordagens que funcionam. Há empresas vendendo produtos mais duráveis convencendo seus consumidores de que esse é um bom investimento. Uma lâmpada que dura 25 vezes mais e custa 25 vezes mais não é mais cara.

Quais são as melhores práticas da indústria?

Eu acho que as melhores são as que calculam o custo total de um produto, e que pegam de volta os produtos quebrados para reciclá-los. Uma impressora barata parece barata apenas porque os custos reais não foram incluídos no preço, mas eles eventualmente terão de ser pagos na forma de problemas ambientais ou de saúde.

As pessoas estão preparadas para consumir menos e melhor?

Geralmente, a maioria das pessoas está preocupada com o fluxo de caixa, pagando o mínimo possível. Mas alguns consumidores começaram a comprar produtos de maior duração. Também há modelos como o aluguel de uma máquina em vez de comprá-la, ou dividir um produto com os vizinhos, ou iniciativas que ajudam as pessoas a começarem a consertar um produto. Uma vez que nós sabemos que nossos gadgets têm um final, é muito mais fácil se encorajar a fazê-los durar mais.

Como podemos mudar a cultura consumista?

Eu acho que devemos ficar longe da ideia de que "bem-estar" está sempre relacionado à posse de objetos, de preferência algo que ninguém mais tenha. Eu encorajaria as pessoas a pensarem no que estão comprando produtos como presente. A maioria das pessoas hoje nos países desenvolvidos já tem tudo, então eu acho que poderíamos pensar em presentes diferentes: um item de segunda mão, uma doação, em vez de comprar coisas que se tornarão lixo muito rapidamente, e não têm a ver com as reais necessidades daquela pessoa.

 

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