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Dar preço às emissões de cada um pode ser a solução

06 de dezembro de 2011

Amelia Gonzalez, Camila Nobrega e Martha Neiva Moreira

O jornalista e ambientalista André Trigueiro, o economista e ambientalista Sergio Besserman e a economista Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) voltaram juntos, no mesmo voo, da Dinamarca, onde participaram da Conferência das Partes das Nações Unidas (COP-15) em 2009. Foi um tempo difícil, de frustração com a não assinatura de um acordo climático pelos líderes mundiais. Esta lembrança foi o mote da conversa entre os três participantes na antessala do evento Encontros O Globo/Razão Social que aconteceu dia 24 de novembro com uma proposta de debate sobre economia verde mediado pela jornalista Amelia Gonzalez, editora do caderno Razão Social.

A memória da COP-15 surgiu inevitavelmente, já que estávamos às vésperas da Conferência de Durban (COP- 17, que termina dia 9 de dezembro) e que, segundo Sergio Besserman, atualmente presidindo a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro, dificilmente também conseguirá qualquer acordo entre os 152 países membros da ONU participantes: - O movimento local de cidades e empresas é muito importante. O problema é planetário e a humanidade tem que se conscientizar disso, mas não se pode esperar um acordo entre mais de cem países, que nunca sai.

A saída, para o economista, é que os consumidores comecem a pagar a conta do impacto no planeta dos produtos que ela está consumindo. Ele entende que, cada vez mais, as externalidades, ou seja, o custo da matériaprima poluente, da emissão de carbo- no etc., devem ser contabilizados no preço final dos bens de consumo.

- Vários dos serviços que a natureza oferece estão se esgotando. Por isso, o custo ambiental tem que ser colocado no preço das mercadorias. O mercado de carbono, por exemplo, só vai funcionar quando as emissões de gás carbônico forem controladas e precificadas e se a gente entender por economia verde uma economia que propicia a continuidade do desenvolvimento humano, também econômico, social e a nova relação com os limites do planeta. Isso é a economia do século XXI. Mas tudo isso é muito novo.

Pela primeira vez, a humanidade está se deparando com a necessidade de tomar uma decisão que diz respeito à vida dos humanos daqui a 50 anos. E ainda não fomos capazes de tomar alguma decisão. Há uma necessidade de expansão da nossa consciência. Nós nos comportamos durante milhões de anos como se usar os recursos naturais fosse de graça, como se os recursos naturais fossem servidos de bandeja para nós. Mas a conta chegou, é agora. Está na hora de mudar. Embutir no preço das coisas as externalidades é o que vai fazer as coisas mudarem. Se a gente entender isso como economia verde, aí é a economia da esperança. Se a gente entender de outra forma, é modismo - disse Besserman.

Marina Grossi concorda com Besserman, e afirma que a humanidade não está dando conta do desafio que está enfrentando. Instada a falar sobre o papel das empresas em direção a esta economia verde (tema do encontro) ela trouxe uma notícia boa: - Acabo de voltar de Copenhague, onde houve uma reunião preparatória para a Rio+20 (conferência mundial de meio ambiente que vai acontecer no Rio de Janeiro ano que vem)e tive acesso ao resultado de um questionário feito com empresários de todo o mundo. O documento deixava claro que os donos e gestores de empresas acham que estão fazendo pouco pela sustentabilidade, embora tenham certeza de que o tema é importante para o negócio deles - disse ela.

Marina lembrou que os três participantes do Encontro trabalham na área da sustentabilidade há muito tempo e que muita coisa já aconteceu: - Posso dizer que do ponto de vista do clima e da sustentabilidade já houve uma mudança. Estamos em um momento de inflexão. Há 20 anos, o governo estava de um lado, e as empresas de outro. Mas as corporações foram criadas para atender a uma necessidade das comunidades e elas precisam entender que têm uma função pública.

Elas já perceberam que aquelas que não investirem em sustentabilidade estão fora. Não tem como reverter, voltar atrás, não há caminho sem volta. Acho que esse entendimento já começa a acontecer, pois percebo governos e empresas do mesmo lado desenvolvendo projetos comuns. Para ilustrar a mudança que ela está percebendo no comportamento das empresas, Marina lembrou que já ouviu de um empresário que produz pneus, a seguinte frase: "Não quero mais vender aterrissagem segura para as pessoas": - A indústria automobilística que for mais inteligente vai pensar na questão da mobilidade e não de vender mais carros, porque não dá para comportar esse número de carros . O que é a mobilidade? É vender transporte, serviços, um modelo mais inteligente que possa dar mobilidade necessária num trânsito que possa fluir. Elas precisam pensar no serviço para o bem-estar das pessoas. Em geral eles tinham uma posição muito defensiva.

Nós fizemos um programa, no Cebds, chamado Visão 2050, listando nove temas importantes para o Brasil a serem levados para a Rio+20. Porque entendemos que o desafio é chegar a 2050 com nove bilhões de pessoas e 98% dos países em desenvolvimento. Quais as mudanças necessárias? O primeiro ponto são valores: a gente não muda isso se não mudar o padrão de consumo. Se a gente continuar a achar que o sucesso individual é ter um carrão legal, não vamos por esse caminho. E as empresas também, se continuarem a vender produto como sempre, não vamos conseguir - disse.

Como jornalista, André Trigueiro trouxe para o debate uma notícia: - Hoje Suzana Khan (subsecretária de economia verde do Estado do Rio) compartilhou no seu twitter a informação de que o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) dá conta de que as emissões de carbono deverão dobrar nos próximos 40 anos e que chegaremos ao fim do século com aumento de 3 a 6 graus centígrados na atmosfera, portanto mais do que o teto estabelecido na COP 15 - disse ele.

Trigueiro prefere apontar réus para esta crise, instando a plateia, com mais de 200 pessoas, a incomodar quem precisa ser incomodado: - A humanidade chegou a um ponto de saturação: a ela não interessa mais qualquer modelo de desenvolvimento. Se é verdade que vivemos mais e que temos avanços importantes na medicina e nos conceitos de direitos humanos do que no tempo dos nossos antepassados, também é verdade que estamos experimentando uma angustia existencial, uma dificuldade de percebermos no futuro.

Algo que gera desespero, perplexidade. Há uma dor invisível que não é divulgada pela mídia e uma perplexidade que é divulgada pela mídia. E ela tem origem no fato de nossa espécie ser capaz de promover o ecocídio. O business as usual é sinônimo de ecocídio, da falência múltipla dos ecossistemas que determina o nosso bem-estar. É paradoxal e temos motivos para sentir angústia. Eu sou uma pessoa angustiada e quero continuar sendo. Quando o assunto é clima, a perplexidade aumenta. Trigueiro lembrou ainda que o Protocolo de Kioto entrou em vigor em fevereiro de 2005, termina no ano que vem e que, de lá para cá, as emissões só fizeram crescer.

- As civilizações do passado deixaram de existir na hora em que elas deixaram de ser sustentáveis, vide o caso da Ilha de Páscoa. Nós precisamos nos dar conta desses riscos. Acelerar crescimento não combina com o conceito de economia verde nem de desenvolvimento sustentável. A geografia da agricultura do Brasil vai mudar porque o clima vai mudar. Jirau, Santo Antonio e Belo Monte não produzirão energia esperada porque o ciclo da chuva está mudando. Não se deve construir hidrelétrica como sempre se construiu. Não nos interessa, por exemplo, qualquer modelo de exploração do petróleo para obtenção do combustível. É isso que está em jogo. Mas a sociedade é imediatista e ainda tem dificuldade de vislumbrar um novo modelo, que passa também pela precificação do carbono.

No final do debate, que ofereceu à plateia possibilidade de questionar e se pronunciar, o tema paradoxo voltou à mesa. Para Besserman, não dá mais para vilanizar empresas, governos ou indivíduos: cada um tem sua parcela de responsabilidade sobre os rumos do planeta. Os três debatedores concordaram ainda que, para se chegar a 2050 com nove bilhões de habitantes, tendo 98% das nações ainda em desenvolvimento, será preciso tomar decisões como sociedade planetária: - O movimento ambientalista não pode ser o movimento do bem contra o mal. Essa ideia de que o ser humano tem que salvar o planeta é equivocada. A perspectiva é outra, porque o planeta vive ciclos naturais e se mantém aqui. Precisamos salvar a nós mesmos. E a conta já chegou. É nos próximos 20 anos que temos que agir. Nesse sentido, a economia verde, caracterizada por uma economia de baixo carbono, tem aura de uma economia da salvação - disse Besserman.

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ANDRÉ TRIGUEIRO: "A sociedade é imediatista e ainda tem dificuldade de vislumbrar um novo modelo, que passa pela precificação do carbono."

MARINA GROSSI "Há 20 anos, o governo estava de um lado e as empresas de outro. Já conseguimos ver hoje ambos do mesmo lado"

SERGIO BESSERMAN "Vários dos serviços que a natureza oferece estão se esgotando. O custo ambiental tem que entrar no preço das mercadorias."

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