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A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou o 10º Encontro Nacional da Indústria, em Brasília, nos dias 11 e 12 de novembro. O objetivo do ENAI foi discutir a crise econômica brasileira e os entraves ao aumento da competitividade. Durante os dois dias, os representantes da indústria debateram com ministros, parlamentares, empresários e especialistas o tema “Brasil: ajustes e correções de rota”.
Um dos palestrantes mais aguardados foi o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O encerramento foi feito pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que proferiu palestra magna sobre a economia global pós-crise.
Em tom mais otimista ao que o empresariado brasileiro está acostumado a ouvir em relação ao país, Clinton disse que preferiria estar na situação do Brasil que na de muitos países do mundo. Segundo ele, apesar da gravidade da crise, o cenário doméstico é mais favorável que o de países que, por exemplo, enfrentam elevadas taxas de desemprego na população jovem, como a Grécia, ou atravessam uma guerra civil e a ameaça de um estado terrorista, como a Síria.
Carta da Indústria
O Brasil atravessa um dos momentos mais complexos de sua história. "É um momento que exige correção de rotas, sentido de urgência e enfrentamento de questões econômicas, políticas e institucionais que são obstáculos ao desenvolvimento pleno do país", diz Carta da Indústria, divulgada durante o 10º ENAI.
Para o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, que liderou uma comitiva de industriais paranaenses que participaram do evento, essa correção de rota é urgente. “O grande desafio é sensibilizar governo e Congresso Nacional para que adotem, de fato, uma agenda de reformas pensando no desenvolvimento do país em longo prazo”, afirma.
A Carta da Indústria identifica os principais problemas e contém propostas para a superação
da crise. O documento aponta as ações indispensáveis para o país voltar a crescer. Na visão
dos industriais, os compromissos fundamentais são:
• Ajuste macroeconômico
- A estabilidade e a previsibilidade são fundamentais para o crescimento. É essencial garantir
as condições para o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. Mas
esse ajuste tem de ser alcançado com uma agenda crível e com uma trajetória que gere confiança
nos agentes sobre a sua sustentabilidade e eficácia.
• Sustar iniciativas
fiscais desequilibradoras - É fundamental sustar iniciativas que agravam o quadro fiscal de longo prazo,
aumentam custos para as empresas, deterioram as condições de competitividade e geram incertezas sobre o futuro.
• Qualidade do ajuste fiscal - O problema fiscal brasileiro deve
ser enfrentado de forma estrutural. As fontes de pressão sobre o gasto público precisam ser combatidas na origem.
Regras automáticas de expansão das despesas e a falta de atenção às mudanças demográficas
precisam ser revistas. Ao não enfrentar as fontes de pressão, criam-se as condições para ajustes
provisórios e de baixa qualidade que penalizam investimentos e elevam a ineficiência do Estado. E mais
grave: antecipam a necessidade de ajustes que amplificam a insegurança sobre o futuro.
• Carga
tributária - É inaceitável o aumento da carga tributária, seja pela criação
de novos tributos ou pela elevação das alíquotas dos existentes. O aumento de recursos precisa vir da
racionalização das despesas e do crescimento da economia.
• Simplificação
radical do ambiente de negócios e melhoria da qualidade regulatória – É necessária
a mudança de percepção dos produtores e investidores sobre a qualidade do ambiente de negócios
no Brasil - notadamente nas áreas tributária e de relações do trabalho - e que se destravem os
obstáculos regulatórios que inibem as decisões de investimentos de vários setores da economia
brasileira.
• Foco nas exportações - Garantir
foco nas exportações por meio de iniciativas que promovam a desburocratização, facilitação
do comércio, abertura de mercados e mudança de preços relativos que tornem atraente a atividade exportadora.
• Infraestrutura - É a grande oportunidade para a economia
brasileira. As mudanças mais expressivas dos marcos regulatórios foram feitas. O fundamental é atuar
para que as condições de atração do investimento sejam realistas, rentáveis e seguras.
A qualificação e independência das agências reguladoras é uma condição importante
para aumentar a segurança jurídica dos investidores.
• Produtividade
e inovação. O desenho das políticas e as iniciativas empresariais devem privilegiar a produtividade
e a inovação. É importante que o ajuste macroeconômico não desative instrumentos e ativos
que não podem sofrer interrupções, a exemplo das atividades de Pesquisa & Desenvolvimento.
Leia a Carta da Indústria na integra, neste site.
Sindicatos
A inovação e a tecnologia da informação e suas relações com os sindicatos foram debatidas durante o 10º ENAI. Para o palestrante Silvio Meira, professor associado da Fundação Getúlio Vargas Rio (FGV), a internet digitalizou os negócios e as pessoas e afeta as formas de articulação sindical.
Além das transformações tecnológicas, os sindicatos também têm o desafio de inovar no modelo de gestão e atuação junto às bases. Um exemplo disso vem do Ceará. O Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria (Sindpan) do estado inverteu a lógica e contratou agentes de mercado para abordar empresas e apresentar os serviços oferecidos pela entidade aos associados. O sindicato tem registrado aumento no número de empresas na base, que se associam de maneira espontânea.
Outro exemplo de inovação sindical que ajudou o setor aconteceu em Amazonas, onde o Sindicato das Indústrias
de Construção Civil (Sinduscon) agiu para acabar com as dúvidas sobre o órgão responsável
pela aprovação de novos projetos. As empresas passaram a ir direto à prefeitura para registrar e aprovar
projetos, agilizando os processos.
Hans Bethe, que comanda o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas,
Mecânicas e de Material Elétrico de Blumenau e Pomerode (SIMMMEB-SC), lembrou que, em períodos de crise,
há oportunidades para os sindicatos. Com a recessão, algumas indústrias passam por momentos delicados
e estão endividadas. Essas situações são oportunidades para que sindicatos mostrem seus serviços
e competências para ajudar as empresas.
Com informações da CNI e da Fiep