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Seu talento vale dinheiro

04 de dezembro de 2011

Aproveitar uma habilidade nata para ser empreendedor pode representar um diferencial ao ganhar espaço no mercado. Mas o aspirante ao mundo dos negócios precisa gerenciar seus conhecimentos

Márcia Neri

Desde a infância, Maria Amélia Campos Dias, 43 anos, adoça a vida daqueles que provam dos seus quitutes. Quando sobrava algum dinheiro do apertado orçamento da família, o pai passava na quitanda para comprar os ingredientes. Pelas mãos da filha, eles eram transformados em delícias. Os colegas de escola esperavam ansiosos pelo dia em que a menina levava o bolo que garantia a alegria da turma no intervalo das aulas. A habilidade na cozinha certamente é nata, mas a mineira de Bambuí demorou a acreditar que poderia usá-la também para empreender. Acostumada a fazer tortas e bombons para festas de conhecidos sem receber pela mão de obra, ela precisou ser convencida pelo marido e por amigos de que deveria cobrar pelas encomendas.

Ainda ressabiada, no fim da década de 1990, a doceira fez cursos no Brasil e no exterior. A experiência garantiu segurança para ela atender clientes de cidades próximas. "Foi nessa época que Ronaldo, meu companheiro, percebeu que poderíamos prosperar além das fronteiras de Minas. Ele entendia que o interior havia ficado pequeno para nós", lembra. A mineira, mais uma vez, desconfiou de que seria capaz. "Tenho muita disposição para colocar a mão na massa, mas a visão empreendedora foi dele. Aliás, é assim até hoje. Conquistamos espaço no mercado porque meu talento teve o amparo de um administrador", brinca.

Assim como a doceira, muitos profissionais com aptidões especiais - artistas, esportistas, estilistas, entre outros - hesitam em se lançar no mundo dos negócios e precisam de um estímulo externo. Quando decidem apostar em si, se veem diante do desafio de administrar a própria habilidade e o empreendimento. "Talentos não são formados; administradores, sim. Quem sabe administrar bem, mesmo sem habilidades natas, consegue empreender e ser bem-sucedido. Já uma pessoa habilidosa precisa se capacitar para se tornar um empresário", afirma a consultora Leila Navarro. A opinião da especialista é compartilhada pelo superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Distrito Federal (Sebrae-DF), Antônio Valdir Oliveira Filho: "Uma aptidão excepcional é um ótimo ponto de partida. Porém, para ter sucesso em uma empresa, é fundamental aprender a administrar e planejar. Sem isso, qualquer talento quebra".

Quando o interior ficou pequeno para o talento de Maria Amélia, Brasília se tornou um objetivo. Em visita à casa de uma irmã que morava na capital, Ronaldo aceitou uma encomenda de 60 tortas de diversos sabores. Maria Amélia passou duas noites em claro para atender o cliente. Isso foi em outubro de 2000. Três meses depois, o mineiro alugou uma casa no Lago Sul e voltou para Bambuí com a notícia. Em poucos dias, a família estava de mudança. "Quando cheguei, novas encomendas me esperavam. Na época, contava apenas com a ajuda do Ronaldo e de um amigo. Passávamos 48 horas seguidas trabalhando na cozinha de casa. A demanda foi crescendo tanto que até as minhas filhas, que eram adolescentes, foram escaladas para colocar os doces nas forminhas", recorda.

Formalidade

Em 2005, Ronaldo e Maria Amélia saíram da informalidade e alugaram uma sala. Não demorou muito e o espaço ficou pequeno. Hoje, a fábrica de doces tem sua base em uma sobreloja de 500m², onde são preparados os quitutes apreciados em festas de aniversário, casamentos, confraternizações familiares e corporativas. O casal também montou dois cafés, empregando, ao todo, 160 funcionários. Por mês, a empresa entrega cerca de 500 mil doces e 700 bolos. "Também temos uma cozinha de salgados em plena produção. Crescemos, mas até hoje enfrentamos desafios e passamos sustos. Não é fácil ser pequeno ou médio empresário no Brasil. Quem formaliza um negócio ganha de presente uma carga tributária desestimulante e, o que é pior, sem qualquer retorno", diz Ronaldo Gonçalves Dias, 47 anos. Para ele, resta ao empreendedor acreditar na capacidade do negócio e apostar no futuro. "Estamos construindo uma fábrica de 1.500m². Se levássemos em consideração a falta de incentivo por parte do governo e os entraves práticos e burocráticos impostos ao empreendedor, não nos atreveríamos. Mas empreendedores são inquietos. Precisamos de mais espaço e apostaremos nisso."

Anualmente, são criados mais de 1,2 milhão de empreendimentos formais no Brasil. Desse total, acima de 99% são micro e pequenas empresas. Em 2005, quando o casal mineiro abriu formalmente a Maria Amélia Doces, era nessa categoria que a fábrica se enquadrava. Oliveira Filho, do Sebrae-DF, assegura que, apesar das dificuldades vivenciadas pelos empreendedores, o Brasil ainda é um país com muitas oportunidades de negócio. "O mercado consumidor se fortaleceu com o atual cenário de estabilidade econômica. A realidade do Distrito Federal favorece o segmento de comércio e serviços e quem está disposto a trabalhar não deve temer, desde que saiba planejar os passos e encarar os desafios que virão. Quem quer empreender tem ótimas oportunidades aqui", garante.

Obstáculos

Migrar da informalidade para a formalidade pode ser traumático. Não foi o caso de Maria Amélia e Ronaldo porque ele tinha uma experiência empresarial. "Era dono de uma autopeças antes de vir para Brasília. Eu percebi, no talento de Maria Amélia, uma grande oportunidade, mas consegui manter os pés no chão", explica o mineiro. Isso não significa, porém, a ausência de pedras no caminho. Como muitos empresários à frente de novos negócios, além das preocupações inerentes à administração da empresa e do capital humano, a oportunidade de crescer veio acompanhada de desafios nem sempre esperados: a seleção da mão de obra, por exemplo. Maria Amélia precisou formar todos os funcionários. "Contratamos auxiliares de limpeza. Se a pessoa demonstra interesse, vamos ensinando. Nunca empreguei alguém já qualificado porque simplesmente não encontramos esse trabalhador no DF. Temos exemplos de colaboradores que começaram na faxina, passaram por todos os setores da fábrica e hoje são gerentes da produção ou do atendimento", reforça a empresária.

O superintendente do Sebrae lembra que há opções de capacitação no Distrito Federal, mas admite que a região tem uma característica especial por conta da alta renda per capita. Produtos e serviços considerados supérfluos em outras partes do país encontram aqui um excelente mercado. "Determinadas atividades, no entanto, exigem uma qualificação especial, mais refinada, e essa mão de obra é realmente escassa. O empresário deve estar consciente de que terá que formá-la sem o receio de repassar o pulo do gato aos seus colaboradores. Deve ainda ter calma para lidar com os reveses de qualquer negócio", observa.

Especialistas acreditam que o crescimento no poder de compra da população nos últimos anos e a maior consciência do empreendedor em relação à administração do negócio têm contribuído para o aumento na taxa de sobrevivência das empresas nos últimos anos. O dado mais recente, divulgado em outubro último pelo Sebrae, demonstra que para cada 100 empreendimentos criados, 73% sobrevivem ao primeiros dois anos de atividade. "A taxa supera países modelo em empreendedorismo, como a Itália. No DF, esse índice é de 75% para o geral e de 81,5% para o rol de empreendedores que buscam os serviços do Sebrae. Quem procura capacitação e consultoria antes de os problemas se solidificarem, aprende a resolver melhor os contras", avalia Oliveira Filho.

Geradoras de empregos

De acordo com o Sebrae, as micro e pequenas empresas respondem por mais da metade dos empregos com carteira assinada no Brasil. Somados à ocupação que os empreendedores geram para si mesmos, esse tipo de negócio é responsável por dois terços do total de postos existentes no setor privado da economia.

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