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Fabricantes de calçados, têxteis e móveis dizem que nova política industrial não
reduz carga tributária e vão pressionar o Legislativo Lu Aiko Otta Os fabricantes de calçados, têxteis e móveis vão pressionar o Congresso Nacional para reduzir
a alíquota de 1,5% a ser cobrada sobre o faturamento, em troca da desoneração dos 20% da contribuição
previdenciária recolhidos sobre a folha salarial. Conforme publicou o Estado em sua edição de quarta-feira, esses três setores avaliam que a mudança
não representará redução efetiva da carga tributária e, em alguns casos, trará até
aumento. Apesar das queixas, até agora não há orientação no Executivo para negociar modificações.
No entanto, a Medida Provisória 540, que regula essa e outras ações do plano Brasil Maior, ainda precisa
passar pelo crivo do Legislativo, onde o texto pode ser alterado. O texto recebeu 242 emendas, várias delas sugerindo
a redução da alíquota. Ao contrário do que argumenta a indústria, os técnicos que elaboraram a medida dizem que houve redução
da carga. A alíquota de 1,5% foi determinada com base na tributação média paga por esses setores,
explicaram. Eles calcularam quanto as empresas recolhem de contribuição previdenciária patronal e verificaram
quanto esse valor representava sobre o faturamento. Chegaram à conclusão que, para manter a tributação
no mesmo nível, a alíquota deveria ser de 1,7%. Portanto, a cobrança de 1,5% representa, na média,
uma desoneração tributária. O problema é que a média é, como o próprio nome diz, o meio do caminho. Há, assim, as
empresas que ganham e as que perdem com a mudança. No setor de tecnologia da informação, por exemplo, a desoneração é positiva para as
empresas que desenvolvem sistemas e programas, pois nelas os salários representam 70% dos custos. Porém, não é vantagem para as empresas que se dedicam à comercialização, segundo
o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Gérson Schmitt. A desoneração
deixa de ser vantajosa se o gasto com salários é inferior a 12,5% do total de despesas da empresa, disse ele. Emendas. A entidade apoia uma emenda do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que retira do sistema de desoneração
as empresas que representam, distribuem ou revendem programas de computador. Outra entidade representativa do setor de tecnologia
de informação, a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e
Comunicação (Brasscom), considera a mudança positiva. O setor recolherá 2,5%, enquanto a indústria
ficou com 1,5%. Entre as emendas à MP 540, estão as dos deputados Renato Molling (PP-RS) e Zeca Dirceu (PT-PR), que reduzem
a alíquota sobre o faturamento do setor têxtil de 1,5% para 0,8%. Esse é o nível defendido pela
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit). Outros parlamentares,
como Gorete Pereira (PR-CE) e Pepe Vargas (PT-RS), propuseram que o regime de desoneração seja optativo. Há várias propostas para incluir outros setores no novo sistema, como o de serviços, transporte urbano,
assistência técnica em informática e fabricação de tapetes e carpetes. O ministro da Fazenda,
Guido Mantega, disse esta semana que outros setores serão contemplados. O sistema começou com têxteis,
calçados, móveis e tecnologia da informação, a título de teste. As emendas à MP 540 também pretendem modificar o Reintegra, programa que devolve às indústrias
3% do valor das exportações. O deputado Renato Molling, por exemplo, quer que a alíquota seja elevada
a 6%. A proposta de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor automotivo para incentivar
a inovação tecnológica e o conteúdo nacional também recebeu emendas. O deputado João
Carlos Bacelar (PR-BA) quer estender o benefício à indústria petroquímica. PARA ENTENDER Empresários querem mais A indústria digere mal a decisão do governo de ter criado um tributo sobre o faturamento para compensar a
perda de arrecadação que terá com a retirada da contribuição patronal ao INSS sobre a folha.
Os empresários pressionam por uma desoneração total. Essa sim, lhes daria mais fôlego para competir
com as mercadorias importadas, que invadirão o mercado brasileiro com mais intensidade devido à retração
nas economias mais ricas. O governo, porém, rejeitou essa hipótese porque teria de abrir mão de uma arrecadação
anual de R$ 95 bilhões. É um dinheiro que faria falta para financiar outras despesas, como o aumento do salário
mínimo ou o reajuste dos servidores que está sendo negociado. Faltaria, sobretudo, para tocar os investimentos
que são prioridade da presidente Dilma Rousseff.