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Alvo dos ladrões são as paredes de peroba, material nobre e em extinção Em Sabáudia, há casas em que só se restou o piso; criminosos se aproveitam de lacuna em legislação
ambiental ESTELITA HASS CARAZZAI A porta de entrada é mera formalidade na capela de São Jorge, na zona rural de Cambira (região norte
do Paraná). É mais fácil entrar pelas laterais depois que as paredes da igreja, feitas de tábuas
de peroba, foram roubadas por ladrões. "Aquilo foi uma coisa incrível", conta o padre Francisco Adami, 72. Além da porta de entrada, só sobraram
o telhado, as janelas e algumas paredes secundárias, com tábuas pequenas. Até então, Adami não sabia que o material das paredes da capela é precioso e que seu valor
pode chegar a R$ 25 cada tábua. Árvore de madeira nobre e ameaçada de extinção, a peroba é muito cobiçada por
indústrias moveleiras de Minas Gerais e São Paulo que fazem móveis rústicos. A indústria vem alimentando uma "caça ilegal" no norte do Paraná: bandidos têm demolido casas
inteiras em propriedades rurais atrás das tábuas de peroba, que era abundante na região há cerca
de 50 anos, quando a capela foi construída. Além da igreja de Cambira, pelo menos outras sete construções foram depenadas por ladrões nos
últimos 12 meses. Os ladrões esperam o imóvel estar vazio para atacar. Na pequena Sabáudia, cidade vizinha, há casas em que as paredes foram todas levadas e só restou o
piso. A polícia diz que os crimes se intensificaram nos últimos dois anos. "Esse negócio de móveis
rústicos é o que está acelerando os furtos", diz o escrivão Clodoaldo de Souza, de Sabáudia. BRECHA LEGAL O furto de madeira nobre, mesmo que de espécies ameaçadas de extinção, não é
considerado crime ambiental. E, como tem pequeno potencial ofensivo, a maioria dos bandidos, presos em flagrante, são
liberados. Foi o que ocorreu com sete deles em Sabáudia. Os criminosos foram indiciados e respondem a processos por furto,
mas estão soltos. "Isso incentiva os criminosos. Se forem pegos, eles apostam que a polícia não vai conseguir provar o crime.
E aí, se eventualmente forem condenados, a pena é mínima", explica o delegado Valdir Abraão da
Silva, da regional de Apucarana, que também investiga o caso. Para a polícia, vários grupos atuam na região. Em Sabáudia, a delegacia local pretende encaminhar
nesta semana um inquérito ao Ministério Público, para que o órgão entre na investigação. Aos frequentadores da capela de São Jorge, em Cambira, só resta a opção de frequentar as missas
em um sítio próximo, para onde elas foram transferidas. Já o padre Adami quer reconstruir a igreja, mas teme que o crime se repita. "Quem é que vai cuidar para que
não venham mais ladrões?"