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Publicado em 31/07/2017
Fonte: Revista Meio Ambiente
As condições para a aquisição de um automóvel novo são cada vez mais favoráveis por incentivos do governo e maior poder aquisitivo da população. No entanto, basta observar uma avenida de grande tráfego para se deparar com uma infinidade de modelos em fim de vida útil.
Pesquisas já comprovam, há tempos, que um veículo com 20 anos de uso emite oito vezes mais poluentes que um zero quilômetro. O acúmulo de frota sem condições ideais de uso parece inevitável, ainda mais que o Brasil, ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, fornece isenção de impostos e benefícios aos antigos.
Dados do Detran – Departamento Nacional de Trânsito ressaltam que em 2013, cerca de 3,6 milhões de novos utilitários e comerciais leves chegaram às estradas e apenas 538 mil de igual característica deixaram de circular. Soma-se a isso o fato do Brasil já ser o quarto maior mercado consumidor de carros do mundo e reciclar uma ínfima parcela do que produz.
Para tanto, falta legislação amadurecida que regule o setor e, com isso, o envolvimento de toda a cadeia, incluindo desmontadores, recicladores e destinadores em um sistema inteligente que preze a redução de impactos ambientais e tenha como chamariz a viabilidade econômica de todo o processo, o que já é plenamente possível.
Na Turquia, por exemplo, o reaproveitamento do aço dos automóveis atinge cerca de 80%. O país é referência internacional nesse quesito e os altos índices se devem à necessidade, já que os turcos não dispõem de grandes reservas de minério de ferro em seu território. Com isso, a escassez conferiu sustentabilidade ao setor.
Para Eduardo Augusto dos Santos, diretor da AIC Automotive Intelligence Consulting, são vários os benefícios incutidos, como o reaproveitamento das peças em condições de uso, uma vez que são originais e já aprovadas pela indústria. “Essa sem dúvida é a principal parte dessa cadeia reversa, pois a reutilização impede a extração de matéria-prima, a fabricação de novos componentes e até mesmo a fundição de peças em excelente estado de uso, o que evita a extração desnecessária de minério, fabricação de peças novas e suas consequências ambientais, como a emissão de poluentes”, explica.
Outro fator importante, ainda de acordo com o especialista, é a triagem de peças por tipo de material, como plásticos e seus variados, alumínio, cobre, aço, bem como catalisador, líquidos e óleos, borrachas, pneus e demais materiais que, se classificados, valem dinheiro e geram muito interesse no mercado.
“E isso tudo criaria novos empregos, formação de mão de obra, além de movimentar a cadeia produtiva”, diz Santos, que ainda lembra que as próprias empresas de desmontagem utilizam materiais de veículos em suas instalações, como em montagens de docas e prateleiras.
Um outro aspecto importante é a remanufatura de peças usadas. “Esse processo reaproveita as carcaças de peças dentro de um critério pré estabelecido de remanufaturação e retorna ao mercado com garantia de um ano do fabricante”, afirma.
Caminhões
A JR Diesel, empresa com quase 30 anos de existência, já coloca em prática esse conceito. Lá, 85% de um caminhão que chega, sempre fruto de leilões oficiais, é revertido em peças de reposição, 10% em materiais recicláveis e apenas 5% é descartado. “Temos a ideia de colocar vidraças na fachada da empresa para mostrar às pessoas que não temos nada a esconder. Apesar da atividade ser popularmente conhecida como desmanche, é importante que saibam que o nosso negócio é absolutamente legal”, conta Arthur Rufino, diretor de Marketing e Desenvolvimento da companhia.
Ele explica que após a desmontagem do veículo, além da rastreabilidade que comprova a origem da peça e é gravada em uma etiqueta, aplica-se uma classificação de qualidade A, B ou C. “O nível A diz que aquela peça está em perfeitas condições de uso pelo consumidor final, então terá o preço cheio da tabela. A nível B possui condições de reuso, mas precisa de algum tipo de reparo, seja visual ou funcional”. Nesse caso, o diretor destaca que o cliente pagará menos, pois será responsável pelo conserto.
“Já a peça nível C, entendemos que não tem condições de ser reaproveitada ou é uma peça de segurança que simplesmente não pode ser vendida, independente da condição dela. Nesse tipo, fazemos a logística reversa, vendendo à indústria original que a fabricou”, destaca. Essa indústria, por sua vez, aplica o processo de remanufatura, onde a peça é totalmente desmontada. Assim, os componentes saudáveis são reaproveitados e o restante vai para a reciclagem. “Os componentes saudáveis voltam à linha de produção junto com os novos e nasce uma peça remanufaturada com garantia de, em média, um ano e com um preço para o consumidor final cerca de 40% menor”, esclarece.
Para Rufino, a esperança da empresa é que a sociedade reconheça a sustentabilidade do negócio. “No Canadá, por exemplo, essa peça remanufaturada é conhecida como greenpart, porque as pessoas compraram a ideia de que a usada tem um benefício ambiental muito expressivo”, conta. “Lá não se fala de preço, fala-se simplesmente que a sua manutenção ficou mais verde”, completa.
Segundo ele, após estudos de agências ambientais do país norte americano, constatou-se que para a fabricação de um motor de carro, são emitidos 270 kg de CO2 na atmosfera. Dessa forma, a partir do momento que se compra uma peça que já foi utilizada, de fonte confiável, evita-se que mais essa quantia de poluente seja emitida para atender a demanda.
Conforme o diretor, essa filosofia no Brasil traria um duplo benefício: economia financeira e redução de emissões ao meio ambiente. “Assim, um veículo em fim de vida útil não ficaria poluindo o lençol freático, o solo e a atmosfera”. E essa solução seria muito bem-vinda, visto que os pátios do Detran contam com mais de 1,5 milhões de veículos sem condições de circulação.
Metal
O metal é o material mais abundante em um carro. Representa até 76% de seu peso. Ele se transforma em aço, que pode ser reciclado infinitas vezes sem perder propriedades. Após a descontaminação, a carroceria é moída ao passar entre cilindros trituradores, o que reduz a carcaça a pequenos pedaços. Um imã atrai o aço e o separa de outros materiais, como plástico, alumínio e vidros. Retirado dessa sobra, o alumínio é levado à reciclagem. Após o processo, tem-se a sucata ferrosa, vendida por 450 reais a tonelada. O material vira aço e é utilizado na carroceria e na parte interna de novos carros.
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