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Publicado em 25/07/2017
Fonte: Gazeta do Povo - Professor Carlos Magno Corrêa Dias
Os segmentos diretamente impactados pela Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0 são
exigidos a pensar alternativas de soluções sustentáveis futuras quando o mundo dos “humanos imortais”
acontecer de fato. No artigo em referência faz-se um alerta sobre a necessidade da instituição de novos
paradigmas sobre sustentabilidade para nortear os caminhos da humanidade em decorrência das tecnologias geradas pela
Indústria 4.0.
A quarta revolução industrial (a RI 4.0), ou indústria 4.0, atualmente
bate em nossas portas trazendo cloud computing, robôs autônomos, manufatura aditiva, técnicas
de padrões abertos, realidade aumentada, big data analytics, cyber security, machine
to machine (M2M), IoT/IIoT, frameworks, smart factory, integração e interoperabilidade,
dentre muitos outros conceitos.
Embora a RI 4.0 seja ainda uma revolução desconhecida de muitos
já é intensamente utilizada e vem permitindo aumentar a capacidade de resposta, a eficiência e a qualidade
dos serviços, processos ou produtos gerados para atender as novas demandas dos mercados ou das pessoas que passam a
requisitar procedimentos mais inteligentes e com maior flexibilidade ou abrangência.
A RI 4.0 mais que
um movimento que amplia fortemente a realidade da indústria automatizada e informatizada gerada durante a terceira
revolução industrial (RI 3.0) constitui uma nova forma de pensar tanto a indústria quanto o mundo em
que vivemos e a realidade pessoal de cada um, onde, necessariamente, a resiliência e a sustentabilidade devem conduzir
à integração estrita horizontal e vertical da informação e da comunicação.
Assim, tanto os profissionais quanto as pessoas em geral deverão estar familiarizados com as tendências
e tecnologias requeridas para que possam tomar decisões estratégicas de forma alinhada com a nova demanda do
mercado e com as inúmeras possibilidades de um novo viver atendendo contínuas extensões que se apresentam
diariamente.
Inevitavelmente, o avanço e os progressos das correspondentes tecnologias estão permitindo
revolucionar a vida humana. Em decorrência dos surpreendentes desenvolvimentos tecnológicos a expectativa de
vida humana cresce ano após ano. O que era ficção científica há poucos anos atrás
hoje passa a ser realidade presente como é o caso das inovadoras impressoras 3D que já permitem a criação
de órgãos humanos artificiais eficientes e de baixíssimo custo. Com o uso de impressoras 3D é
possível, também, gerar pele humana, bem ossos artificiais para substituição de peles queimadas
ou ossos necrosados. A ficção tornou-se realidade.
Descobertas e trabalhos em nanociências
e em nanotecnologias permitem o desenvolvimento de tratamentos altamente eficazes para a cura de diversas doenças que
antes consumiam a vida das pessoas sumariamente. Técnicas revolucionárias em nanoengenharia com a utilização
de nanomateriais mostram-se poderosíssimas para a cura de alguns tipos de câncer antes tidos como incuráveis.
A vida humana passa a ser ampliada e a longevidade vislumbra a imortalidade não mais como ficção
científica. Previsões dão conta que no ritmo que a RI 4.0 avança muito provavelmente a imortalidade
será atingida ainda neste século. A morte não mais será um limitante, pois sendo possível
substituir quaisquer dos órgãos doentes por outros artificiais construídos a exata semelhança
dos originais será possível sim viver para sempre. Seremos, então, imortais.
Mas, imagine,
por hipótese, que a humanidade atinja, de fato, como algumas previsões insistem em alardear, a imortalidade
ainda neste século. A simples ideia (sem mudança completa do conceito de vida) é insustentável.
As populações não poderão morrer e sempre gerarão seus descendentes que, também,
não morrerão. Um ciclo assustador terá início, pois muito provavelmente, a despeito da “evolução”
tecnológica que manterá para sempre a vida é possível que possamos regredir a um estado de barbárie.
Pensemos em alguns dilemas possíveis: “as tecnologias me garantem a vida eterna, mas não tenho
o que comer”. Por outro lado, “se a Terra é um planeta limitado, em pouco tempo não haverá
mais lugar para todos habitar uma vez que os seres humanos não morrerão mais e continuarão a gerar outros
humanos que, também, não morrerão”.
Se vamos conseguir a imortalidade ou não
está não será, porém, a questão primordial para a sustentabilidade. O ponto central da
questão é que, inevitavelmente, nas próximas décadas, o rápido avanço das tecnologias
da RI 4.0 proporcionará, de um lado, surpreendente aumento do tempo de vida humana e exponencial melhoria da qualidade
de vida e, de outro lado, exigirá, por exemplo, absurda produção de alimentos para manter as populações
sempre crescentes e com muito mais tempo de vida. Mais terras serão, também, necessárias para produzir
alimentos. Terras ocupadas para a produção de comida serão disputadas com os espaços para habitação
das mesmas pessoas que deverão comer.
Diante da problemática em consideração e sem
radical modificação dos atuais protocolos de desenvolvimento em tecnologia certo é que as questões
sobre sustentabilidade deverão acompanhar muito proximamente a velocidade da RI 4.0 que aumenta velozmente e que pretende
ser ubíqua (onipresente). Sempre foi necessária a integração entre as tecnologias e a inteligência
quando se pensa em modificar a forma como nós podemos viver melhor e mais. Mas, no caso da atual revolução
industrial parece que questões sobre sustentabilidade estão passando batidas.
Veja-se que a RI
4.0 vem transformando nossas vidas com acesso a uma grande variedade de produtos, serviços e soluções
mais eficientes onde por intermédio da informação a realidade é ampliada e o planeta é
encolhido, pois ao passarmos a conhecer praticamente tudo em tempo real a vida se desenvolve mais plenamente com menores distâncias.
Mas, todavia, as questões sobre sustentabilidade continuam sendo orientadas por paradigmas clássicos que não
conseguem acompanhar a atual transformação (revolução) tecnológica que nos impulsiona para
uma nova maneira de viver e acompanhar o funcionamento do mundo. São exigidos, então, novos paradigmas para
nortear a sustentabilidade.
Além do mais, pensar a sustentabilidade para o presente ritmo no qual as populações
aumentam e se mantém já é tarefa das mais complexas. Garantir sustentabilidade para futuras gerações
que viverão muito mais e com maior qualidade de vida será trabalho que exigirá esforços complexos
e conjugados de todos. Todavia, se uma humanidade imortal se instaurar ainda neste século sem a correspondente evolução
da concepção de sustentabilidade, muito possivelmente homens imortais habitarão um mundo insustentável.
Impõe-se, então, pensarmos a sustentabilidade para as possibilidades futuras nos segmentos diretamente
impactados pela RI 4.0. É preciso analisar a viabilidade e as consequências de cada uma das novas tecnologias
da RI 4.0 em associação com a sustentabilidade. Não é aceitável esperar o momento futuro
para se engendrar as soluções que serão exigidas em sustentabilidade quando o mundo dos humanos imortais
acontecer. As soluções são, então, chamadas a engendrar agora.
*Artigo escrito por Carlos Magno Corrêa Dias, Professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Líder (Coordenador) do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) da UTFPR/CNPq. O do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável.
O Professor Carlos Magno Corrêa Dias participa da Articulação da Rota Metal-Mecânica, por meio do Grupo de Trabalho Tecnologias-Chave e do Grupo de Trabalho Gestão e Formação de Recursos Humanos.
Para mais informações sobre a Articulação da Rota Metal-Mecânica, entre em
contato:
E-mail: observatorios.rota.metalmecanica@fiepr.org.br
Tel: 41 3271-7443
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