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Publicado em 20/07/2017
Fonte: Abimaq
Os fabricantes de máquinas e equipamentos continuam preocupados com os impactos da crise econômica do país sobre o desempenho da indústria e da falta de medidas do governo para que ajudem a reverter esse cenário. "Estamos há quatro anos mergulhados numa situação crítica", desabafa João Marchesan, presidente da ABIMAQ, entidade que reúne as empresas do setor.
A entidade elaborou um estudo para alertar as autoridades em Brasília sobre o "estrago" causado pelo processo de desindustrialização na cadeia da indústria de base. O segmento de bens de capital mecânicos passa pela sua pior crise. O faturamento mensal hoje é metade do que era no auge da demanda, em 2013. "O caminho está errado há tempos", diz Marchesan, em entrevista ao Valor.
Nesse período, o setor já enxugou 90 mil postos de trabalho, fruto da queda da receita da indústria de base. Apenas neste ano, a redução no emprego é de 5,7%, informa o dirigente da ABIMAQ. Ele relata o desaparecimento de empresas de vários segmentos, como fundição de aço e calderaria pesada. O processo, na avaliação do diretor de competitividade, Mário Bernardini, "é irreversível". "Para recriar esses elos, o Brasil precisaria de um longo ciclo de crescimento".
O estudo mostra como a indústria de transformação perdeu nos últimos anos a participação no Produto Interno Bruto, de 18% para 11%. Esse efeito, dizem, também pode ser observado entre os associados. "Produtos não seriados" - ou seja, que são fabricados sob encomenda e normalmente são direcionados para os investimentos pesados, em infraestrutura – perderam peso na receita. O espaço foi ocupado por máquinas agrícolas, que já têm 20% do total.
É o que ajuda a explicar o aumento da receita em maio, em base anual, primeira alta depois de 25 ciclos de queda consecutivos. Soma-se a isso o movimento inicial de maior demanda por "produtos seriados", de prateleira, em geral usados em reposição de peças ou manutenção. É sintomático que a ABIMAQ seja comandada por um executivo da área de máquinas agrícolas. Marchesan é da família fundadora da empresa que leva seu nome, em Matão (SP).
O estudo aponta que a agricultura paga "juros decentes" e tem uma carga tributária menor que a da indústria. "A agropecuária, que é 7% do PIB, responde por 3,4% da arrecadação e os juros que o setor paga para investir são de 7,5% a 8,5% ao ano", diz. Já a indústria de transformação, com 11% do PIB, responde por 20% da arrecadação e tem custo de investimento superior a 15% ao ano.
A entidade elenca ainda a valorização do real em mais de 15% de janeiro a maio sobre o mesmo período de 2016; o aumento dos juros reais de 4,5% para 7,5% ao ano; redução da oferta de crédito para as empresas em mais de 10% e o aumento do desemprego. Uma crítica forte é feita à política adotada pelo BNDES nesse período. "Os financiamentos caíram à metade e a indústria deixou de ser prioridade", afirma.
As demandas prioritárias, afirmam, não são novas e já foram levadas mais de uma vez a interlocutores políticos e ministros em Brasília. Mas o setor continua a colecionar derrotas. Dentre elas, a definição da política de conteúdo local para os projetos de exploração de petróleo e gás.
Segundo Marchesan e Bernardini, medidas de incentivo à produção precisam superar a ideia de ajuste fiscal puro e simples para resolver os problemas da economia. “Precisamos ir além. Estamos há três anos só discutindo ajuste fiscal e corrupção". Segundo eles, a equipe do ministro Henrique Meirelles, comete o mesmo erro: "tem uma visão apenas financeira, de contador".
No curto prazo, dizem ser crucial a redução dos "spreads" bancários e não apenas da taxa básica. "Eu não tomo dinheiro emprestado à Selic, tomo a juros de mercado", reclama Bernardini. Pede ainda um câmbio mais competitivo, meio de um comitê de política cambial e controle de entrada de capitais.
Apesar do encolhimento do faturamento, a entidade mantém uma projeção relativamente otimista. Fala em chegar ao fim deste ano mantendo os cerca de R$ 66 bilhões obtidos no ano passado. A meta parece difícil de se concretizar e já há dúvidas entre integrantes do setor. O problema é que, até maio, a indústria de máquinas já acumulou queda de 7%.
Para atingir a previsão, as fabricantes terão de entregar crescimento dessa ordem na segunda metade de 2017.
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