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Publicado em 09/03/2017
Fonte: Hoje em Dia (Janaína Oliveira e Tatiana Moraes)
Empresas falidas, linhas de produção paradas, fornos industriais abafados, desemprego em massa, placas de aluga-se para todo lado e até restaurantes tradicionais de portas fechadas são o retrato mais fiel da crise traduzida em números e divulgada no início de março pelo IBGE.
Após um tombo de 3,8% em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que é a soma das riquezas produzidas no país, despencou 3,6% em 2016, na comparação com o ano anterior.
No biênio 2015-2016, a queda do PIB chega a 7,2%. Na série de crescimento do IBGE, iniciada em 1948, foi a primeira vez que houve dois anos seguidos com queda anual do PIB, de acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do órgão, Rebeca Palis.
Segundo ela, com a retração acumulada de 7,2%, é possível dizer que a recessão atual é a pior em 68 anos. Ainda conforme os cálculos do IBGE, o PIB encerrou 2016 no mesmo nível do terceiro trimestre de 2010. “É meio como se estivesse anulando 2011, 2012, 2013, 2014, que tinham sido positivos”, afirmou Rebeca.
Um dos setores mais atingidos pela crise é a indústria. Segundo o IBGE, o PIB industrial brasileiro despencou 3,8% no ano passado. Em 2015, o tombo havia sido ainda pior, de 6,3%. O índice acompanha a drástica queda no faturamento do setor. Em 2016, conforme o presidente do Comitê de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves, houve retração de 17% na receita das fábricas brasileiras. Minas sofreu um recuo menor, de 12%, mas os efeitos foram devastadores.
“As demissões foram pesadas. Se não houver uma mudança razoável no cenário político e econômico em 2017, com redução da taxa básica de juros, novos cortes serão inevitáveis”, alerta o representante da Fiemg.
Dono da C. Hugo Fromas e Ferragens, em Venda Nova, o empresário Vanderli Figueiredo Araújo teve que se debruçar em planilhas para reduzir custos e conseguir pagar os funcionários em dia. Dos 55 empregados, restaram apenas 20. “Dá dor no coração, mas a gente fica sem saída. Tenho R$ 300 mil a receber na praça e as empresas alegam que estão sem dinheiro. Outro dia aceitei um carro para diminuir meu prejuízo”, afirmou Araújo.
- Um dos termômetros da economia, o setor de máquinas e equipamentos registrou queda de 16%.
“Já vínhamos alertando sobre a gravidade da situação. As fábricas estão com capacidade ociosa alta, em torno de 36%. São quatro anos consecutivos de queda. Um desastre”, disse a gerente do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Cristina Zanella. Segundo ela, só em 2016, foram 80 mil demissões no país.
O desempenho da construção civil também desmoronou, com recuo de 5,2% em 2016, após queda de 6,5% em 2015. Com projetos engavetados, mais de 35 mil vagas foram eliminadas somente em Minas Gerais no ano passado, segundo o Sinduscon-MG.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foram quase 18 mil demissões no ano passado, sendo 13.700 só na capital.
O carpinteiro Sebastião Soares da Silva é uma das vítimas. “Na empresa em que eu trabalhava eram 50 funcionários. Só sobraram uns três. A gente tem que tirar forças de não sei onde para seguir em frente e arranjar um novo serviço”, disse.
- Revenda de motos em BH e Sete Lagoas é espelho da crise: 83% dos funcionários na rua
Com o freio na produção das fábricas e o corte de vagas, a indústria, que geralmente tem empregos mais qualificados, leva a reboque outros segmentos vitais para a economia, como serviços e comércio.
O empresário Rodrigo Brito de Souza Braga dá rosto à queda de 6,3% no PIB do comércio. No começo do ano passado, ele administrava oito lojas da Motovia, revendedora de motocicletas. Com a crise, se viu obrigado a fechar seis unidades.
Braga afirma que em 2015 chegava a comercializar 300 motos por mês. Em 2016, o número caiu para 40. “Os bancos pararam de liberar crédito. Assim, quem não tinha dinheiro na mão não conseguia comprar as motos. E ninguém tem dinheiro durante uma crise”, justifica. O faturamento da rede, que beirava os R$ 2 milhões, despencou para R$ 350 mil.
Como reflexo, foi necessário enxugar o quadro de funcionários. Dos 139 empregados que trabalhavam nas lojas, ficaram 24, retração de 83%. O cotidiano de Braga acompanhou a marcha a ré. “Eu tinha um padrão de vida, hoje tenho outro. Deixei de trocar de carro, de viajar. Vou menos a restaurantes”, comenta.
No país, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Bicicletas e Similares (Abraciclo), houve retração de 11,5% na venda de motos entre 2015 e 2016.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, inflação alta, juros elevados e aumento do desemprego vêm criando uma espécie de ciclo vicioso que dificulta a vida dos brasileiros e das empresas.
Para este ano, entretanto, a expectativa é a de que o desempenho no primeiro trimestre já esteja em patamares positivos. “Queda da inflação e redução da Selic pelo Banco Central são as principais razões para o ânimo”, disse.
O setor agropecuário também registrou recuo. No ano, a queda foi de 6,6%. Segundo a coordenadora Técnica da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, os efeitos climáticos foram responsáveis pela quebra de safra de 2016. Enquanto a seca não deu trégua em alguns locais como Minas Gerais, no Sul choveu demasiadamente. “No campo, o produtor sentiu muito. O que piorou a situação foi a inflação, mesmo que reduzida, que deixou o consumo das famílias muito mais restrito”, lamenta.
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