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Publicado em 26/09/2016
Devagar e sempre, a bicicleta vai se tornando no Brasil, além de uma opção de lazer e esportiva, também
uma modalidade de transporte capaz de concorrer com os carros e com o transporte coletivo. De acordo com a pesquisa "Perfil
do ciclista brasileiro", realizada pela ONG Transporte Ativo com ciclistas de 10 metrópoles brasileiras, nada menos
do que 88,1% dos usuários se valem da bicicleta para irem ao trabalho ou cumprirem outros compromissos do dia a dia.
É mais do que os 76% que a utilizam como lazer - ressalvando que muitos ciclistas usam as bikes para as duas
finalidades. Outra prova da crescente "profissionalização" das bicicletas no Brasil é o fato de 26,4%
dos ciclistas usarem as bikes de forma combinada com o metrô ou os ônibus, ou mesmo a partir do seu próprio
automóvel.
No Rio de Janeiro, esse percentual chega a 34,4%, enquanto em São Paulo é de 27,7%.
E de 71,6% deles pedalarem ao menos 5 dias por semana (no Rio, 81,4% das pessoas entrevistadas afirmaram pedalar de
5 a 7 a dias por semana).
São os homens que apresentam propensão maior para pedalar mais dias por
semana: 30% deles disseram utilizar a bicicleta todos os dias da semana, enquanto que, entre as mulheres, esse percentual
chega a 18,7%. Essa diferença é ainda maior no Rio de Janeiro, onde mais de 41% dos homens afirmaram pedalar
em todos os dias semana. Já entre as mulheres, o percentual é de 22%.
A pesquisa foi feita pela ONG
em parceria com outras nove organizações que atuam na promoção da bicicleta, além do Observatório
das Metrópoles e o Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Ouviu 5.012 ciclistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Brasília,
Manaus, Aracaju e Niterói e traz outros dados interessantes.
Os resultados mostraram também uma maior
concentração de ciclistas na faixa etária de 25 a 34 anos (36,4%), seguida pelo grupo de 35 a 44 anos
(24,2%) - ou seja, usar a bike como meio de transporte para o trabalho é prerrogativa, hoje, principalmente dos membros
mais jovens da população.
Já não é apenas um domínio dos mais pobres
- o uso da bicicleta para ir e voltar do trabalho é tradicionalmente associado com os moradores das periferias. Apenas
30% dos ciclistas afirmaram ganhar entre 1 e 2 salários mínimos. De qualquer forma, uma antiga tradição
ao menos foi mantida: a dos trajetos curtos. De fato, 56,2% dos ciclistas cumprem percursos de 10 a 30 minutos, no máximo.
Trata-se também de um fenômeno recente. Dos ciclistas que usam a bicicleta para irem e voltarem do trabalho,
61,8% o faz há menos de cinco anos.
Infelizmente, a pesquisa também revelou que 20% dos ciclistas
sofreram algum acidente de bicicleta nos 12 meses anteriores. Mais de um terço dos entrevistados (34,6%) disse que
o maior obstáculo para utilizarem a bicicleta como modo de transporte é o desrespeito do motorista motorizado.
Não por acaso, metade dos entrevistados (52,7%) afirmou que a melhoria na estrutura cicloviária seria uma motivação
para pedalarem mais.
"Tenho certeza que a bicicleta vai se tornar cada vez mais importante para o brasileiro, seja
como lazer ou para o transporte", diz Isacco Douek, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira
da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios
(Abradibi). "Mas ainda há obstáculos a serem superados. Além da segurança, preocupa o alto custo
da bicicleta e a falta de incentivo tributário ao produto. Hoje, a bicicleta possui uma carga tributária média
de 40%, maior do que a de um automóvel."
De acordo com ele, o preço forçosamente excessivo
é uma das principais razões de ter havido uma retração de cerca de 10% tanto na produção
de bicicletas - de 3,7 milhões para 3,3 milhões de unidades - quanto nas vendas, que caíram de 4 milhões
para 3,6 milhões de unidades em 2015 na comparação com 2014, queda que só não foi maior
devido justamente ao aumento do consumo para mobilidade urbana.
MOTOS - Aumentou também o uso das motocicletas
como meio de transporte no país. De acordo com o Sistema de Informações da Mobilidade Urbana, documento
anual produzido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) em parceria com o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para uso do governo federal, governos estaduais e prefeituras, em uma
década o volume de deslocamentos sobre duas rodas, tanto em motos quanto em bicicletas, simplesmente dobrou no país.
A pesquisa é realizada nos municípios brasileiros com população superior a 60 mil moradores
e leva em conta também fatores econômicos e sociais. Segundo os números levantados, em 2004, 1 bilhão
de viagens foram feitas de moto em 468 cidades, e 1,3 bilhão foram feitas de bicicleta. Em 2014 - o ano-base da nova
pesquisa - os números saltaram para 2,6 bilhões nos dois modais de transporte.
Em 2014, aliás,
foi registrada a primeira queda no número total de viagens em geral feitas pelos brasileiros em um ano: de 64,2 bilhões
para 64,1 bilhões. A principal redução ocorreu no uso do transporte público: diminuição
de 3,8% nos deslocamentos em ônibus municipais, e outros 2,5% a menos em viagens no sistema de trilhos. "Uma das hipóteses
é que isso esteja relacionado à queda na atividade econômica", afirma Adolfo Mendonça, coordenador
técnico do estudo.
De qualquer forma, verifica-se uma grande variação dos números em
função do porte do município, principalmente em relação às distâncias médias
percorridas por transporte coletivo. Nos municípios de grande porte as pessoas percorrem 18,8 km por habitante no esforço
de mobilidade urbana, enquanto nos municípios de pequeno porte o número é de apenas 5 km por habitante.
Os moradores dos municípios com mais de 60 mil habitantes gastam, por ano, 22,8 bilhões de horas para se deslocar.
A maior parte do tempo é gasta nos veículos de transporte público (49%), seguido pelas viagens a pé
(26%). O transporte coletivo também representa 29% do total das viagens.
Mendonça observa que um
problema sério, mas pouco discutido, é o total de recursos destinados pela sociedade ao transporte individual.
"Em dez anos, tanto indivíduos quanto o poder público investiram mais nessa modalidade do que no transporte
coletivo, mas os seus impactos também são maiores, tanto em poluição quanto em gastos com acidentes",
critica. "O estudo servirá para ver as tendências e as consequências do uso desse modal, balizando a adoção
de políticas públicas".
Segundo ele, uma das consequências da disparada do uso de motos no
país é o alto número de vítimas em acidentes. "Sob um discurso de economia para o cidadão
geramos um problema de saúde pública", afirma, acrescentando que enquanto o transporte motorizado é priorizado,
um grande contingente de deslocamentos a pé - 23 bilhões de viagens em 2014 - segue igualmente ignorado pelo
poder público. "A omissão em relação às calçadas é enorme no país",
lamenta Mendonça. (Alberto Mawakdiye)
Fonte: IPESI
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