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Publicado em 01/02/2016
É pelo menos um alento para os trabalhadores do setor: a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou, no
último dia 13 de janeiro, a interrupção do processo de demissão de funcionários de sua
usina de Volta Redonda (RJ). A decisão foi tomada depois de discussões com representantes sindicais e após
a demissão de outros 700 empregados. A CSN tem cerca de 10 mil funcionários.
Por conta da crise econômica,
a indústria siderúrgica brasileira já desativou ou paralisou 20 unidades de produção. Apenas
no primeiro semestre do ano passado, foram demitidos mais de 11 mil trabalhadores. O nível de utilização
da capacidade instalada caiu para cerca de 70%, com perspectivas de ainda maior retração. Os investimentos também
foram praticamente todos eles suspensos ou cancelados.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul
Fluminense, a CSN poderia demitir cerca de 3 mil trabalhadores diretos por conta da suspensão das operações
no alto-forno 2, que acabou acontecendo no final de janeiro. A unidade ficará parada por pelo menos 90 dias, período
no qual passará por manutenção.
O alto-forno 2 é responsável por 30% da capacidade
de produção da usina, atualmente em 5,6 milhões de t por ano. Os 70% restantes são produzidos
no alto-forno 3, que permanecerá em operação. A decisão é uma resposta da CSN à
sobra dos estoques provocada pela queda na demanda global por aço.
De acordo com dados do balanço
da CSN, a usina produziu 3,2 milhões de t de aço bruto nos primeiros nove meses de 2015, queda de 4% na comparação
com o mesmo período do ano passado. A retração, entretanto, se acentuou no terceiro trimestre, quando
a queda de vendas foi de 9%.
Além da redução das vendas, a CSN foi prejudicada com a decisão
do Departamento do Comércio dos Estados Unidos de impor uma taxa de 7,42% sobre as importações americanas
de laminados a quente.
A CSN produz esse insumo no Brasil e o vende para sua subsidiária americana, a LCC,
que o utiliza para fabricar outros produtos siderúrgicos. A aplicação do imposto é resultado de
uma investigação antidumping. Ele será aplicado de forma preventiva, pois uma decisão final só
será anunciada em 24 de março.
DEDO DA DILMA - O processo de demissões na CSN foi iniciado
no começo deste ano e interrompido após pressão dos sindicatos, que promoveram ruidosas manifestações
na entrada da usina. Mas talvez a decisão da empresa sobre o assunto tivesse sido diferente, caso não tivesse
havido a intervenção direta do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o envolvimento
da própria presidente Dilma Rousseff na questão. Ambos pressionaram fortemente a CSN a voltar atrás e
aceitar a reivindicação dos trabalhadores.
Além do corte de pessoal, a CSN pretendia também
elevar a jornada dos funcionários da usina de 6 para 8 horas diárias, segundo o sindicato, e suspender pagamento
do adicional de 70% ao abono de férias. Esses direitos, adquiridos nos últimos acordos coletivos, foram mantidos
durante a negociação com representantes da CSN. Para compensar a suspensão desses benefícios e
das demissões, a CSN pretende adotar medidas de redução de custos.
Nas negociações,
o sindicato também fechou um pacote de ajuda aos 700 que foram demitidos pela CSN. Eles terão direito a um plano
de saúde, cursos no Senai, além de R$ 700 no cartão alimentação. O sindicato também
pediu à CSN que, na hora de fazer recontratações, dê preferência aos que foram demitidos
- a maioria, funcionários com pouco tempo de casa e que trabalhavam em diversos setores.
A atenção
dos sindicalistas se volta agora para as empresas que prestam serviços à CSN, que também já fizeram
cortes de pessoal. O efetivo das empresas terceirizadas chega a aproximadamente 5 mil, e há rumores de cortes que podem
alcançar 1.700 pessoas. "Vamos tentar barrar também essas demissões", já avisou o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos, Silvio Campos.
Se em Volta Redonda a situação mais ou menos se estabilizou,
o mesmo não podem dizer os trabalhadores siderúrgicos de Cubatão, no litoral de São Paulo, onde
a Usiminas começou a demitir funcionários no dia 19 de janeiro. O corte - nada menos do que 4 mil trabalhadores
- havia sido anunciado em novembro do ano passado.
A Usiminas alega que as demissões, anunciadas meses atrás,
estão relacionadas à crise econômica e à queda de 26% na produção de aço no
país em apenas um ano. A intenção da companhia é desativar as sinterizações, coquerias,
o segundo alto-forno (o primeiro foi paralisado em maio), aciaria e atividades associadas a essas áreas. A estimativa
é que o processo seja concluído entre três e quatro meses.
O número de demitidos em
Cubatão poderá ainda ser maior, devido à provável redução dos serviços terceirizados
complementares. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção
Industrial (Sintracomos), há em Cubatão 3 mil terceirizados em atividade na fábrica de aço. Um
total de 18 empreiteiras hoje presta serviços à Usiminas.
O alto número de famílias
que perderam a renda mensal com as demissões dos 4 mil trabalhadores preocupa os comerciantes da região de Cubatão,
que já viram a sua receita cair, e a prefeitura, que teme reflexos diretos na arrecadação de ISS do município.
Para atenuar o problema, a Usiminas disporá para os demitidos um conjunto de benefícios extras, como
plano de saúde e odontológico por um prazo de três a seis meses e auxílio alimentação
por até quatro meses, entre outros benefícios.
O temor dos trabalhadores é que, ainda que
a Usiminas diga tratar-se de desativação temporária de algumas linhas de produção, não
se sabe se ela será definitiva. Há rumores de que a Usiminas poderia transformar sua atividade industrial em
Cubatão em uma atividade unicamente portuária, o que resultaria em milhares de demissões. Esta decisão,
entretanto, causaria sérios problemas para a Usiminas no que diz respeito à sua relação com o
governo. (Alberto Mawakdiye)
Fonte: IPESI
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