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Publicado em 12/11/2015
A indústria da defesa é oportunidade única para acelerar uma economia em estagnação
ou crise. Quando se adquire uma aeronave compra-se junto uma nuvem de oportunidades equivalentes a 2 ou 4 vezes o investimento
realizado, seja na forma de inovação, novos negócios, bens e serviços de proteção,
seja como transferência ou desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o produto central. Sem contar o transbordamento
desse investimento para pessoas treinadas e capacitadas, além da geração de valor social.
"Essa
cadeia tem uma cultura particular, que é a cultura colaborativa. A indústria aeronáutica é uma
cadeia de muitos parceiros, pois desenvolve projetos integrados. Um jato tem vida útil de até 50 anos. Portanto,
vai demandar encomendas e atualizações frequentes dos fornecedores", afirmou a economista e consultora em engenharia
de processos Ana Teresa Fuzzo de Lima, da LAB Consultoria, que falou na manhã de 15 de outubro sobre "Defesa como investimento
social: transbordamentos tecnológicos do Gripen", em seminário promovido pela Universidade Metodista de São
Paulo com o tema "Indústria Aeroespacial, Desenvolvimento Regional e Oportunidades de Negócio". No mundo, a
cadeia aeronáutica movimentou US$ 1, 7 trilhão em 2.013.
O seminário tratou do potencial de
desenvolvimento que os 36 caças suecos Gripen NG podem trazer às empresas brasileiras, um negócio avaliado
em R$ 9,1 bilhões fechado entre a FAB (Força Aérea Brasileira) e SAAB e que devem começar a ser
entregues a partir de 2019. "Ao contrário de 40 anos atrás, quando montávamos o Xavante sob licença
na forma de kits desmontados, o Brasil tem hoje domínio para desenvolver modernos aviões a jato e capacidade
para evoluções futuras como o Gripen", testemunhou Jairo Cândido, diretor do Departamento da Indústria
de Defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Comdefesa), cuja exposição
abordou "Conteúdo Nacional".
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA - A exemplo do prefeito de São Bernardo,
Luiz Marinho, que abriu o encontro enfatizando no acordo com a SAAB a transferência de tecnologia para o Brasil, Jairo
Cândido detalhou a importância da produção cooperativa do Gripen. Entre 2015 e 2021, 357 profissionais
brasileiros vão trabalhar na Suécia para atuar desde o desenvolvimento da aeronave até testes de protótipo
e construção. Das 36 aeronaves, 13 serão fabricadas por suecos, 8 por brasileiros na Suécia e
15 no Brasil.
Além da Embraer, que será a célula central do processo, as brasileiras beneficiadas
com transferência de tecnologia são Akaer (conjuntos estruturais em metais e materiais compostos), Grupo Inbra
(produção de conjuntos e estruturas em metais), AEL (design e suporte à aviônica da aeronave),
Mectron (manutenção do radar e sistema de comunicação entre os caças e o solo), Atech (suporte
e simuladores), além do DCTA (que será o certificador final da aeronave). Serão gerados 2,3 mil empregos
diretos e 14.650 incluindo outros setores econômicos.
"Investir em defesa é fundamental para a soberania
nacional. Cada real aplicado em programa de defesa gera um multiplicador de 9,8 em valor do PIB. O faturamento já contratado
pela Embraer equivale a 900 anos de financiamentos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisas do Estado
de São Paulo)", citou o diretor do Comdefesa, apontando para estudo recém-concluído pela Fipe indicando
que o mercado de defesa e segurança no Brasil representa 3,7% do Produto Interno Bruto nacional, cresceu em média
9,4% entre 2009 e 2014 e movimentou R$ 202 bilhões no ano passado.
TRANSBORDAMENTO SOCIAL - Mesmo com características
bastante peculiares como ter poucos ou às vezes um único cliente (geralmente governos) e elevada demanda tecnológica,
a indústria aeroespacial estende tentáculos por inúmeros setores. Tomando como referência estudo
sobre o Gripen de 1980 a 2000, a consultora Ana Lima citou que na África do Sul, onde a SAAB fixou acordo de cooperação
para compra de 26 modelos JAS em 1994, a joint-venture SAAB Denet passou a fornecer componentes também para Airbus
e Rolls Royce, além de sua marca Volvo ter fechado 8 novos negócios para a indústria automotiva e caminhões
de carga.
Na Hungria, por meio de um contrato de leasing de 14 Gripens em que 110% do valor deveriam ser investidos
em empresas húngaras que exportassem para a Suécia, foram gerados 10 mil empregos diretos e a Electrolux passou
a produzir 90% dos produtos da marca vendidos em toda a Europa.
"A cadeia SAAB é bastante horizontalizada,
com participação crescente dos fornecedores em todo o processo de desenvolvimento e produção.
Além disso, a padronização de parte dessa produção permite formar uma base consolidada
de fornecimento por pelo menos 30 anos", destacou Ana Lima.
Outro diferencial é que o fornecedor do Gripen NG
acabará guarnecendo a SAAB em todos os países onde a empresa atua.
A Agência de Desenvolvimento
Econômico do Grande ABC, braço executivo do Consórcio de Prefeitos das sete cidades da região,
já identificou 28 empresas que fornecem para a cadeia de defesa e segurança e outras 199 com capacidade para
vir a fornecer, segundo o secretário-executivo Giovanni Rocco. Já está criado um APL (Arranjo Produtivo
Local) de Defesa do Grande ABC para adensar essa cadeia produtiva. O objetivo é não só atuar diretamente
com o Gripen, mas criar uma expertise local que abasteça outros setores econômicos a partir de tecnologias afins.
São Bernardo do Campo está projetada para sediar empresas que farão partes e componentes do caça
sueco. Tanto o prefeito Luiz Marinho quanto o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Hitoshi
Hyodo, destacaram a busca de novas matrizes econômicas para o município, até agora dependente da indústria
automotiva e que perde empresas dentro dos programas globais de reestruturação.
Marinho descreveu
vários investimentos em andamento para tornar a cidade atraente em infraestrutura, logística, educação
e qualidade de vida e reforçou a promessa de que resiste à especulação imobiliária, que
quer erguer prédios residenciais onde há galpões de indústrias que foram embora. "Onde houve um
polo gerador de empregos só pode se instalar outro empreendimento que traga novos empregos e riqueza", assegurou.
CURSO GRATUITO - Atenta ao potencial produtivo que o Gripen vai possibilitar, a Metodista prepara cursos de especialização
na área com ênfase em gestão e logística. Na próxima semana dará início a
um curso gratuito de três encontros sobre "Oportunidades de Negócios na Indústria Aeroespacial".
As aulas acontecem no campus Rudge Ramos das 19h às 22h dias 20, 22 e 27 de outubro. Inscrições pelo
curtaduracao@metodista.br
Fonte: IPESI
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