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Publicado em 22/08/2014
O setor de autopeças continuará a enfrentar retração acentuada ao menos até 2015. Seu faturamento, que foi de R$ 85,6 bilhões em 2013, deverá cair para R$ 79,2 bilhões em 2014 e para R$ 79 bilhões no ano que vem. Uma das piores consequências será a redução de investimentos. Eles deverão passar de US$ 1,9 bilhão em 2013 para US$ 1 bilhão este ano e US$ 930 milhões em 2015. As projeções foram apresentadas por Dan Ioschpe, conselheiro do Sindipeças, durante o Workshop Planejamento Automotivo 2015, promovido por Automotive Business, na segunda-feira (18), em São Paulo.
De acordo com o sindicato, o número de empregos deverá acompanhar o declínio. Em 2013, 220 mil postos de trabalho eram ocupados neste setor. Em 2014 e 2015, este volume não deve ultrapassar 210 mil empregos. A balança comercial, que teve déficit de US$ 9,8 bilhões em 2013, deverá fechar com déficit de US$ 10,9 bilhões este ano e de US$ 10,6 bilhões no ano que vem.
Ioschpe explica que os números desanimadores são reflexos da atual crise econômica brasileira. “Para o setor automotivo, um dos primeiros a ser afetado, esta freada no poder de consumo repercutiu em uma queda de dois dígitos na produção de veículos leves e pesados, afetando diretamente a indústria de autopeças, que inevitavelmente fatura menos e investe menos.”
O executivo diz que a projeção mais realista é a de continuação deste neste nível de contenção ao menos até 2015, apesar de ser esperado um ritmo mais linear de vendas e produção no segundo semestre deste ano. “Talvez em 2016, com crescimento de um a dois pontos percentuais do PIB, nós voltaremos a caminhar rumo à recuperação”, aponta.
Somadas aos fatores pontuais, três dificuldades acompanham o setor há bom tempo. Uma delas é o alto preço de insumos e das matérias-primas, que representa de 60% a 65% do custo de produção. Ioschpe diz que o preço das matérias-primas aumentou 14,77% somente em 2013, sendo que para alguns insumos o reajuste foi ainda maior, como para alguns tipos de aço, de 26%.
A segunda dificuldade de longa data das fabricantes de autopeças é a administração do salário dos trabalhadores, que representa 25% das despesas. O Sindipeças aponta que, de 2004 a 2013, o custo de mão de obra aumentou mais de 120%, um reajuste bem acima dos 67,7% da inflação medida pelo INPC.
Pesa ainda na conta a energia elétrica, umas das mais caras do mundo. No País, é cobrado cerca de R$ 361,52 por MWh, valor 14,2% maior do que a média dos BRICs e 100,3% maior do que a média dos países do Mercosul.
“Todas essas dificuldades impactaram ainda mais para a nossa improdutividade crescente nos últimos anos. Nos falta capacidade para aumentar a competitividade. Somado a isso, os altos juros também não contribuíram para aumentar o nosso nível de investimento em automação”, analisa o conselheiro. Pesquisa do Sindipeças aponta que as máquinas usadas pelo setor têm idade média de 16 anos.
Na visão do executivo, no fim das contas, estes fatores sobrecarregam bem mais o setor do que variações cambiais. “O câmbio não é um fator primordial, a ferramenta dos sonhos. Não podemos esperar sempre que uma variação do câmbio nos dê o alívio necessário. Temos de trabalhar muito além disso, de forma a reduzir nossos custos e ser mais produtivos.”
Medidas que podem suavizar
Para minimizar os efeitos da crise econômica, que impacta as vendas de veículos e consequentemente de autopeças, o Sindipeças aposta em uma série de medidas. Uma delas é a adoção do programa de renovação da frota de caminhões. Ioschpe revelou que será apresentada uma proposta detalhada do programa ao MDIC na próxima quarta-feira, 20. “A ideia é entregar um projeto que contemple caminhões, mas também ônibus, máquinas e até mesmo veículos leves. Acreditamos em resultados bastante positivos nos próximos anos com a renovação da frota veicular.”
O executivo confirmou que a rastreabilidade de autopeças, prevista pelo Inovar-Auto, começará a ocorrer oficialmente em 1º de outubro. “O Sindipeças vê com otimismo esta medida. Não haverá alteração tão significativa no aumento das compras locais, porque as maiores fabricantes de veículos, as montadoras tradicionais, já atendiam os volumes exigidos pelo regime. Mas, por outro lado, haverá esforço das novas entrantes para nacionalização. O Inovar-Auto não é completo e perfeito, mas incentiva a nossa manufatura local. E isso tende de ser levado em conta.”
Também são vistos como positivos para enfrentar a crise o Programa Reintegra, de devolução dos impostos para exportadores; o refinanciamento tributário, que traz mais fluxo de caixa e capital de giro; as negociações comerciais com a Argentina; a Lei do Desmanche, que proíbe a reutilização de peças de segurança e das que não tenham classificação do Inmetro; além de outras medidas que ainda estão sendo estudadas, como prorrogação do recolhimento de impostos federais com prazo mínimo de 90 dias após a declaração.
Fonte: Camila Franco/ Automotive Business
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