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Publicado em 04/08/2014
Interligadas entre si, ferramentas como big data, internet móvel e computação em nuvem prometem revolucionar a indústria e o ambiente doméstico
Há quase meio século, em 1966, o cientista alemão Karl Steinbuch profetizou: “em poucas décadas, será difícil encontrar algum produto industrial que não tenha um computador dentro de si”. Steinbuch viveu até 2005 e pôde acompanhar a revolução da internet, embora não tenha visto a chegada dos primeiros smartphones. Em um mundo hiperconectado, em que não só celulares transmitem dados, mas também geladeiras, pulseiras e produtos ainda na esteira de fábricas, a visão do cientista ganha um novo significado, com a quebra de paradigmas na indústria e no modo como nos relacionamos com o mundo à nossa volta.
A popularização de tecnologias existentes há anos – mas que só agora tornam-se econômicas para a adoção em larga escala – faz com que entusiastas falem na chegada da “quarta revolução industrial”, que atingirá principalmente as linhas de produção das fábricas. A internet móvel, aliada à computação em nuvem e o fenômeno de transmissão, captura e gerenciamento de informações conceituado como big data, permite que dispositivos diversos “conversem” entre si e se tornem cada vez mais autônomos.
“Fabricantes de motores a jato, por exemplo, deixaram de ganhar pelo produto em si, que é o motor, para lucrar em cima de um serviço em que as companhias aéreas pagam pelo total de milhas percorridas pela aeronave. A partir do momento em que os dispositivos passam a mandar mais informação sobre seu uso, este modelo se torna possível para muitas partes de nossa vida diária – como pagando pelo uso da máquina de lavar, em vez de comprar a máquina”, explica William Webb, especialista em comunicações wirelles da IEEE com PhD na Universidade de Southampton.
Não à toa, a adoção destas tecnologias integradas no ambiente fabril fez surgir o termo indústria 4.0, em que robôs e linhas de produção autônomas assumem tarefas que até então pareciam impraticáveis para máquinas. O setor automotivo, pelo menos no exterior, tem assumido a dianteira neste processo. “Trata-se de ambientes flexíveis, em que pela mesma linha passam diferentes modelos. Cada um desses modelos já traz a informação sobre como ele deve ser produzido. Entra uma ordem de compra pela concessionária, que vai diretamente para a planta, que se adapta, ao fim, ao que determinado consumidor acabou de comprar”, afirma o diretor da Divisão de Automação Industrial da Siemens no Brasil, Pablo Roberto Fava.
Cedo ou tarde, “revolução” atingirá o Brasil
Apesar de o Brasil não ser referência em inovação – o país ficou ano passado em 64.º lugar em um ranking internacional da ONU sobre o tema –, o boom dos smartphones e do acesso móvel em solo brasileiro são os pontos fortes para que tecnologias como big data e internet das coisas criem oportunidades por aqui, tanto para consumidores quanto para empresários. Produtos focados no compartilhamento de bens e serviços via plataformas digitais – como Uber e o Airbnb –, vêm conquistando usuários, enquanto cidades como o Rio de Janeiro fazem avanços concretos no uso de tecnologia na gestão pública e oferecimento de serviços.
Em outra frente, o uso de energias renováveis pode ganhar força a partir deste ano, com um leilão em outubro específico para energia solar – a expectativa é que sejam leiloados entre 500 megawatts (MW) e 1 gigawatt (GW). O setor que deve ser menos impactado a curto prazo pelas novas tecnologias deve ser mesmo a indústria, ainda envolta em baixas sucessivas na demanda, produção e contratações. Estudo inédito do Senai divulgado pela revista Exame mostra que, na área metal-mecânica, apenas de 10% a 30% do mercado deverá adotar robôs de soldagem e montagem nos próximos cinco anos.
Por outro lado, há quem defenda que a adoção de tecnologias de automação no chão de fábrica pode ser justamente uma saída para a indústria brasileira retomar a produtividade. “O uso massivo da robotização vai ser cada vez maior nos próximos anos. As empresas têm que se preparar para se tornarem mais eficientes e competitivas e fazer uso dessa tecnologia, não só para suprir o mercado interno, mas para exportar. É uma questão de sobrevivência”, afirma o presidente da T-Systems do Brasil, Ideval Munhoz.
Tudo conectado: Não são somente os donos de smartphones que estão conectados a todo momento. Cada vez mais produtos e aparelhos saem de fábrica dotados de sensores (foto) que permitem o envio de informações em tempo real, além do monitoramento e controle à distância. A chamada internet das coisas se beneficiou, e muito, do barateamento deste tipo de tecnologia – somente nos últimos cinco anos, o preço médio dos sistemas microeletromecânicos (MEMS, da sigla em inglês) diminuiu até 90%. A companhia Cisco prevê que, daqui a seis anos, teremos mais de 50 bilhões de dispositivos conectados à internet, desde os mais óbvios, como celulares e computadores, até roupas, peças de automóveis e contêineres. Na prática: As possibilidades são imensas e contemplam os mais variados setores, desde a automação industrial e monitoramento residencial até agropecuária. Uma startup holandesa dotou vacas de sensores que avisam automaticamente ao criador quando elas estão prenhes ou doentes. A União Europeia já planeja tornar obrigatório um sistema de e-chamada em veículos, que faz automaticamente uma ligação de emergência para órgãos de socorro caso o carro se envolva em um acidente.
Fonte: Gazeta do Povo | Rafael Waltrick
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