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Publicado em 04/04/2013
Produzir aço no Brasil, e em diversos lugares do mundo, tornou-se um negócio pouco atrativo nos últimos anos. As siderúrgicas brasileiras e grupos estrangeiros no país viram seus resultados financeiros de 2012 serem corroídos por uma série de fatores, que vão de margens operacionais decrescentes da atividade até necessidade de realização de baixas contábeis de ativos.
Dois exemplos disso estão entrelaçados. A Usiminas amargou prejuízo de R$ 531 milhões no ano passado, retrato da avalanche de problemas operacionais, perda de competitividade, ranços de gestão ultrapassada, dispersão das áreas de negócios e perda de fatias de mercado que a empresa vem enfrentando. Nem a nova receita administrativa adotada no início de 2012 pelos argentinos do grupo Techint foi capaz de reverter o quadro de destruição de valor da siderúrgica mineira.
A Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), impactada em grande parte pelo investimento que fez ao comprar ações da rival Usiminas, apresentou prejuízo de R$ 481 milhões. Com o esfarelamento das cotações dos papéis da siderúrgica mineira, a CSN teve de fazer uma baixa contábil nesse investimento ao longo do ano de R$ 2 bilhões.
No quarto trimestre, a margem do Ebitda da Usiminas ficou em 1% na siderurgia; ante 49% da mineração de ferro
O impacto líquido negativo dessa medida em seus resultados foi de R$ 1,33 bilhão. Sem isso, informou a própria CSN, ela teria obtido um lucro de mais de R$ 800 milhões no ano.
Esse prejuízo é fruto da estratégia que o dono da CSN, o empresário Benjamin Steinbruch, adotou entre 2010 e 2011 para tomar hostilmente o controle da Usiminas. No todo, acabou comprando 14% de papéis ordinários (ON, com direito a voto) e 20% de preferenciais (PN). A CSN tornou-se a maior acionista individual da Usiminas, mas não teve sucesso e viu seu alvo acabar em mãos da ítalo-argentina Techint, sediada em Buenos Aires.
Os casos não param por aí. A líder global do setor, ArcelorMittal, pela primeira vez fechou um ano no vermelho em suas operações brasileiras, as quais têm fama se serem as mais rentáveis do grupo. Os resultados locais não são abertos. No mundo, reportou prejuízo de US$ 3,7 bilhões, ante lucro de US$ 2,2 bilhões em 2011.
A divisão de aço do grupo Votorantim, agora focada somente em aços longos depois da venda de sua participação no capital da Usiminas - bem na hora certa e por um preço que jamais conseguira, de R$ 36 por ação -, divulgou prejuízo de R$ 80 milhões no exercício de 2012.
Um caso na ordem do dia é a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), usina do grupo ThyssenKrupp no Rio de Janeiro. Desde que começou a operar, em meados de 2010, só faz gerar rombos bilionários em seus balanços e de sua controladora. Por isso, e pela série de problemas e elevado custo de sua construção, desde maio o grupo alemão pôs a empresa à venda.
Para se desfazer do negócio de aço nas Américas, que se mostrou uma estratégia desastrada e já fez rolar cabeças até do presidente do conselho de administração do grupo alemão, a ThyssenKrupp colocou também à venda a laminadora de aço que tem no Estado do Alabama, EUA, construída em paralelo com a CSA. Nas duas empresas desembolsou US$ 12 bilhões e já teve de fazer baixas contábeis da ordem de US$ 7 bilhões.
Não está nada fácil para a Thyssen passar esses ativos adiante com o cenário desolador da indústria do aço no mundo. Até agora não apareceu comprador com uma oferta financeira minimamente decente. Esse projeto já é considerado o "Top 1" na lista de empreendimentos fracassados na siderurgia mundial.
Só para lembrar, a CSN é a candidata com maior apetite que os alemães encontraram até o momento para comprar os dois ativos. No momento, prepara uma oferta que lhe seja confortável financeiramente e que possa seduzir a ThyssenKrupp. Os alemães estão ávidos em se livrar dessa mancha negativa na sua centenária história.
A Ternium, controlada da Techint, também deseja adquirir a CSA, mas depois de enfiar U$ 3 bilhões na Usiminas no começo do ano passado teria feito uma oferta de apenas US$ 500 milhões pela siderúrgica.
Nesse mar de desastres, a Gerdau parece ter sido a menos afetada das companhias de aço no país em 2012. O
balanço não veio tingido de vermelho, todavia sentiu também o peso dos reveses do setor em seus resultados,
tanto operacional (Ebitda - lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), como da
última linha. A receita líquida cresceu 7%, mas o Ebitda recuou 10% e o lucro líquido, 29%. A margem
operacional chegou a 10% no quarto trimestre - foi 11% na média do ano, contra 13% de 2011.
Para minimizar a perda
de rentabilidade na fabricação de aço propriamente dita, no futuro o grupo planeja elevar a produção
de minério de ferro, matéria-prima que tem elevado peso na matriz de custos. O objetivo é ir além
da autossuficiência nas suas usinas que utilizam minério (a maioria delas usa sucata).
Quer, como se costuma dizer, monetizar suas jazidas de ferro, explorando suas reservas, e também competir no mercado
global com um produto que rende margens acima de 50%. É o que já faz a CSN e o que também planeja fazer
a Usiminas.
Face ao cenário de incertezas do mercado econômico mundial, a Gerdau informou na divulgação
de seu balanço que "está sendo seletiva na avaliação dos seus projetos de investimentos futuros"
e decidiu revisar o programa de aportes no negócio aço, deste ano a 2017, priorizando projetos de maior retorno.
Na CSN, foi a atividade de mineração, com receita de R$ 4,5 bilhões, que rendeu a maior fatia do Ebtida - quase R$ 2,2 bilhões (com margem de 48%). Isso apesar da retração de 12% nos embarques e do recuo no preço no mercado spot chinês em parte do ano. A fabricação de aço, que atingiu recorde de produção e vendas no ano, somando receita de R$ 10,8 bilhões, teve geração operacional de caixa menor, de R$ 2,07 bilhões, com margem de 19%.
A situação da Usiminas nesse quesito é mais grave. A expectativa é que colocar a casa em ordem
vai levar muito mais tempo - em torno de seis meses - que executivos argentinos imaginaram ao chegar lá um ano e pouco
atrás.
No quarto trimestre, a margem Ebtida da produção de aço da empresa atingiu 1% (no ano
a média foi de 3%). Ainda representando pequena parcela da receita total, a mineração de ferro, com 49%
de margem, contribuiu para melhorar a média final da empresa, que ficou em 6%. Esse número, porém, é
quase metade do que obtivera um ano antes.
Por Ivo Ribeiro/ Valor Econômico
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