e receba nosso informativo
Publicado em 19/11/2012
Depois de quatro trimestres de desempenho pífio, a atividade econômica começou a reagir a partir da segunda metade do ano, mas a retomada não é vibrante como se poderia esperar, dados os juros historicamente baixos, o câmbio mais desvalorizado e a série de desonerações tributárias adotadas pelo governo. Segundo vários analistas, problemas estruturais, em especial a falta de competitividade da indústria, contribuem para impedir um crescimento mais forte, num quadro em que há pouca ou nenhuma folga no mercado de trabalho o cenário externo segue desfavorável às exportações.
O economista-chefe da corretora Convenção Tullett Prebon, Fernando Montero, tem destacado em suas análises o peso crescente dos custos da indústria nos últimos anos, num cenário em que não há como repassá-los para os preços. Pelo menos por enquanto, o câmbio na casa de R$ 2 não parece suficiente para desafogar o setor, embora tenda a ajudar o segmento. A demanda externa por produtos brasileiros é fraca, dado o baixo crescimento global, e a oferta de produtos importados segue abundante, por causa da ociosidade da indústria mundial.
Segundo Montero, a indústria precisa de uma melhora de seus preços - aqueles que ela cobra por seus produtos - em relação aos seus custos. A questão é que, de um lado, as importações dificultam ou impedem reajustes. Do lado dos custos, a indústria continua a conceder reajustes salariais acima da inflação, num quadro de escassez de mão de obra qualificada, marcado pela concorrência por trabalhadores com o setor de serviços.
Esse mercado de trabalho aquecido pressiona os preços dos serviços, que rodam na casa de 8% no acumulado em 12 meses. "Para melhorar a competitividade da indústria, seria necessário desinflacionar os custos dos não comercializáveis [serviços e salários], o que não está ocorrendo."
É verdade que o governo tem adotado medidas para reduzir custos da indústria. Desonerou a folha de pagamento de vários setores, alívio parcialmente compensado por um aumento da alíquota sobre o faturamento. Em 2013, as tarifas de energia vão cair. Cálculos da MB Associados apontam que a tarifa média para a indústria poderá recuar de R$ 329 o megawatt/hora (MW/h) para R$ 257, recuo de quase 22%. É uma queda significativa, mas ainda assim a energia brasileira continuará cara em termos internacionais. Nos EUA, o MW/h custa o equivalente a R$ 135 e no México, a R$ 227. Para Montero, são medidas importantes, mas esses ganhos podem ser corroídos se outros custos, como as despesas com serviços, continuarem crescendo a 8% ao ano ou mais.
Em artigo publicado no Valor na semana passada, o professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), escreveu que "o quadro de deterioração e perda de competitividade da indústria brasileira é muito maior que imaginávamos". Segundo ele, "instalou-se um círculo vicioso de pressão de custos e queda da produtividade e das margens de lucro". Com isso, as medidas de estímulo adotadas pelo governo, os juros mais baixos e o câmbio mais desvalorizado são insuficientes para melhorar a dinâmica da indústria, o que ajuda a explicar o mau resultado do investimento.
Para complicar, o investimento público não vai muito bem, como diz Mansueto Almeida, especialista em contas públicas. De janeiro a setembro, o governo federal investiu o equivalente a pouco mais de 1% do PIB, excluindo as despesas com subsídios do programa Minha Casa, Minha Vida. Montero acredita que o crescimento do PIB pode chegar a 3,8% em 2013, mas diz que esse número depende de uma reação mais firme do investimento. "E por que uma indústria que produz menos, tem mais ociosidade, paga mais salários, tem margens menores e vale menos [dada a queda do valor de suas ações] investiria com mais força?", pergunta. O consenso aponta para um PIB de 1,5% neste ano.
O estágio do mercado de trabalho também dificulta um crescimento mais rápido, diz Almeida. Em 2003, a taxa de desemprego estava na casa de 12%. Hoje, está abaixo de 6%. Crescer a um ritmo mais alto sem pressões inflacionárias é mais difícil com o país em pleno emprego. Seriam necessários ganhos de produtividade que não têm ocorrido.
Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Samuel Pessôa aponta o que chama de "microgerenciamento da política econômica" atual como um dos motivos para a piora das perspectivas de crescimento. Para ele, há um excesso de medidas pontuais, como as reduções de impostos para setores escolhidos, aumentos das tarifas de importação e a manutenção dos preços de gasolina, que abala a capacidade de investimento da Petrobras e segura as cotações do etanol, afetando o setor sucroalcooleiro. Assim, aumenta a incerteza na economia, afetando o investimento. Pessôa acha que a economia vai crescer 3,4% em 2013.
O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, projeta uma expansão de 3%. Para ele, o governo confia demais que ter câmbio e juros ajustados é a solução, uma crença que não vai levar a um crescimento mais robusto. "Enquanto seguirem planos e mais planos de concessão em que o Estado é o ator principal e não o setor privado, como os lançados desde agosto, não vamos crescer."
Fonte: valor
Envie para um amigo