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Estudo ressalta as potencialidades do Oeste do Paraná para a produção de biogás

Publicado em 05/01/2017

FONTE: http://www2.webradioagua.org/

O Paraná é o maior produtor de frangos do Brasil. Em relação aos suínos, ocupa a terceira posição, atrás apenas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estes dados fazem do Estado um cenário ideal para a produção de biogás, aproveitando os resíduos gerados na indústria, agroindústria e agropecuária. 

Entretanto, em relação ao potencial nacional instalado e em operação de produção de biomassa, a participação paranaense é de apenas 5%, percentual quase 9 vezes menor que o do estado de São Paulo, que lidera o ranking com 44%, seguido por Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. 

Para se ter uma ideia desse potencial inexplorado, além de deixar de minimizar o problema dos passivos ambientais de milhares de propriedades rurais, o Paraná deixa de gerar 12,4 gigawatts-hora (Gwh) de energia todos os anos com o biogás. A quantidade seria suficiente para abastecer 4,7 milhões de pessoas, levando em consideração o consumo médio de 217 kWh/mês. 

As informações fazem parte de um levantamento realizado pelo Senai-PR, por meio dos Observatórios do Sistema Fiep, com apoio do Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás) – instalado no Parque Tecnológico Itaipu (PTI) - e o Projeto Brasil-Alemanha de Fomento ao Aproveitamento Energético de Biogás no Brasil (PROBIOGÁS).

De maneira didática e linguagem acessível, a publicação (http://goo.gl/CAE3OO) mostra todas as etapas do processo de produção do biogás, desde a matéria-prima até as aplicações. O levantamento mostra ainda casos de sucesso, e temas como um panorama do setor energético no Brasil e no Paraná; as tecnologias para a produção do biogás – como a bioquímica da produção de biogás e a engenharia do processo de biodigestão – além das oportunidades para a indústria do estado na cadeia de suprimentos e uso do biogás.

Mas muito se engana quem pensa que a má utilização do potencial do biogás é problema exclusivo dos paranaenses. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, a participação do biogás na matriz energética brasileira é de apenas 0,06%, bem menor que outras modalidades renováveis com demandas geográficas de instalação e de operação mais restritivas. A fonte fica bem atrás, por exemplo, da energia eólica, que corresponde a 3,6% do potencial instalado nacional. 

coordenadora dos Observatórios do Sistema Fiep, Ariane Hinça Schneider, comenta a situação e cita os principais objetivos do estudo: 

“Um número muito pequeno de usinas e uma potência instalada muito baixa em relação à capacidade. O Brasil, como um todo, está aquém, e o Paraná está em quinto lugar na produção de biomassa. Isso representa apenas 5% do total nacional. É um número muito baixo comparado ao potencial que temos. O nosso maior objetivo ao fazer esse trabalho foi trazer as oportunidades para a cadeia industrial a partir do biogás. Não olhando ele somente dentro das propriedades agrícolas (ou como resíduo), mas sim o desenvolvimento de indústrias que poderiam fabricar máquinas, equipamentos, componentes, e se aproximar dessas oportunidades para o biogás. Vemos que a tecnologia vem de fora ou é apenas adaptada com pouco desenvolvimento aqui no Paraná. Temos uma indústria capaz de fazer isso. Então essa foi a motivação da FIEP/PR para entrar nesse trabalho”.

Ariane também ressalta o universo de aplicações energéticas do biogás - seja ela elétrica, térmica ou veicular - e seus benefícios ambientais: 

“A questão do biogás deixa de ser vista como um resíduo, que poderia estar contaminando o solo das propriedades agrícolas (ou sendo subutilizado) e passa a ter valor agregado, quando é transformado em energia. Isso já vemos em diversos outros países, que trazem um ganho ambiental no processo. Outro ganho está em relação à sustentabilidade, com a questão da geração distribuída de energia. Ele (o biogás) pode passar a ser pensando como uma redução de custos para uma frota de uma cooperativa, por exemplo, e deixar de utilizar os combustíveis fósseis. E como um todo, pensando na diversificação da matriz energética de base renovável, o biogás é uma resposta que nós temos e incentivamos o uso, o conhecimento e o acesso a essas tecnologias. Talvez pareça para o empresário ou aquele que não vive tanto esse tema, como um pouco distante da realidade, mas a partir desse trabalho nós temos como olhar e ter acesso a esse conteúdo e essas informações de uma maneira muito didática e simples”.

O conhecimento técnico do CIBiogás aliado ao cooperativismo 

Para melhorar a realidade atual e dar escala à produção de biogás no Estado, o caminho pode estar no envolvimento das cooperativas. Das 12 maiores do Brasil, 8 estão localizadas no Paraná e 6 delas na região Oeste. Juntas elas movimentaram mais de R$ 50 bilhões em 2015 e vem mantendo altas taxas de crescimento.

Outro destaque da região é o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás). Instalado no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), ele visa promover o desenvolvimento sustentável da cadeia do biogás e outras energias renováveis. O Centro conta com um laboratório acreditado pelo INMETRO para analisar o potencial de produção de biogás com diferentes biomassas. Além disso, conta com 12 unidades de demonstração como laboratórios a céu aberto. A mais nova está localizada em San José, no Uruguai. 

Na parte de educação, o Centro promove - em parceria com a Fundação PTI, por meio do Centro Internacional de Hidroinformática (CIH) - o curso “Atualizações em Energias do Biogás”. Oferecido integralmente a distância e com três meses de duração, o curso conta com o acompanhamento de tutores especializados. Desde 2011, foram capacitadas mais de 800 pessoas de 23 países. 

O diretor-presidente do CIBiogás, Rodrigo Regis de Almeida Galvão, comenta sobre a vocação regional para o agronegócio e cita o biogás como um importante instrumento para a busca da segurança energética, vetor fundamental para a expansão e consolidação das cooperativas:

“O Oeste do Paraná tem uma característica ímpar. O Brasil, nos últimos dois anos teve um retrocesso na economia, mas no Oeste do Paraná, onde estão 6 das maiores cooperativas do Brasil, você vê que, a que menos cresceu, cresceu 15%, e a que mais cresceu, cresceu 31,2%. Isso mostra não só a pujança da região, mas a pujança desse setor aqui, e que tem um grande desafio. No planejamento estratégico das cooperativas, você vê que ela quer triplicar a produção de proteína animal nos próximos dez anos. E para triplicar essa produção, é preciso resolver os problemas ambientais, e outro problema muito sério que é a segurança energética. E o biogás pode ser um vetor que pode dar as condições para a competitividade desse segmento de mercado, que é muito forte no Brasil. Você tem uma necessidade de energia para atender essa demanda. Então o momento é de continuar desenvolvendo essa região e a energia é um fator de desenvolvimento. Deve-se olhar a vocação da região, e o biogás, sem dúvida é uma vocação real da nossa região. Ele não só resolve um problema ambiental (o crescimento da produção animal), como pode suprir parte da demanda de energia que esse crescimento exige. Nesse meio, o CIBiogás tem o papel de ser um agente para dar as condições de desenvolvimento, gerando conhecimento, tecnologias e capacitando pessoas para dar as condições de desenvolver o País. A nossa proposta de valor é simples e objetiva: dar competitividade para o agronegócio se desenvolver, reduzindo os custos de energia e gerando um sub-produto, que é o biofertilizante (que hoje o Brasil importa quase 90%) através do biogás”.

O diretor é otimista quanto ao futuro do biogás no Paraná e compara o bom momento ao vivenciado pela setor eólico brasileiro, que se expandiu consideravelmente nas últimas duas décadas: 

“O biogás vive um momento muito parecido com o que viveu a energia eólica há 16 anos. O Brasil é uma referência no mundo no preço de energia eólica por uma questão muito simples. Há 16 anos, tivemos uma seca. Faltou energia e houve um apagão em 2001. Foi quando o Governo começou a criar o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), que incentivou a energia eólica. Muitos não acreditavam que o Brasil tivesse condições de desenvolver suas próprias tecnologias e capacitar suas próprias pessoas. Hoje o Brasil, depois de 16 anos, teve uma seca muito parecida nos últimos três anos, e não faltou energia no Nordeste, pelo simples fato do desenvolvimento das eólicas. Por uma questão de vocação regional do Nordeste. Por uma questão de necessidade de ter energia gerada. Lá não tem água, então não tem biogás. Lá a vocação da região é a (energia) solar e a eólica, que se desenvolveram. E eu não tenho dúvidas que nos próximos anos, o biogás vai ter destaque nessa matriz energética regional. E por que eu tenho essa convicção? Porque nós precisamos. Se olhar hoje o índice de interrompimentos no fornecimento de energia, e de qualidade de energia, você tem um grande problema nas áreas rurais. Quando olhamos a questão do planejamento energético, ele está sendo desenvolvido de maneira macro. Nós temos que ver microrregiões. Está sobrando energia, no entanto não temos infraestrutura para distribuir essa energia no campo. Aí temos alguns colapsos. Os produtores que querem aumentar o seu rebanho, dentro desse desafio de aumentar a sua produção e aumentar a demanda de energia, o biogás pode sim, através da geração distribuída, dar as condições para que esse desenvolvimento ocorra de maneira mais rápida, eficiente e segura do ponto de vista energético. Se você tiver uma falta de energia pela questão de distribuição, consegue suprir com energia gerada pela sua auto-produção na propriedade”.

Entre os destaques do setor está o audacioso projeto de Entre Rios do Oeste, município lindeiro ao Lago de Itaipu. A cidade de 4,3 mil habitantes vai produzir energia elétrica a partir dos dejetos de suínos e aves. Num primeiro momento, a ideia é zerar toda a conta de energia da administração pública do município. A longo prazo, a cidade planeja tornar-se autossuficiente na produção de energia a partir dos dejetos gerados nas propriedades. O excedente ainda poderá ser vendido à rede. Em resumo, a cidade deve transformar seu passivo ambiental num ativo econômico sustentável.

 

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