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Publicado em 02/06/2014
A disparada dos preços da energia por causa da escassez de chuvas e do funcionamento das usinas térmicas já causa impacto nos planos da indústria brasileira, que está revendo e até adiando investimentos. Grandes empresas que compram energia no mercado livre – espécie de bolsa que comercializa energia diretamente do gerador em contratos de curto (até seis meses) e longo prazo (acima de seis meses) – estão pagando valores exorbitantes.
Para fornecimento nos próximos dois anos, por exemplo, os contratos de compra e venda estão sendo negociados na casa dos R$ 300 o megawatt/hora (MWh), o dobro do preço médio pago há cerca de oito meses. A situação é ainda mais crítica para quem precisa de energia no curto prazo, como é o caso de indústrias que têm parte da sua demanda contratada (com garantia de fornecimento) e parte descoberta (sem contrato fixo).
Com base no cenário da última semana de maio, a projeção de preços futuros de energia no mercado livre para o próximo trimestre, de junho a agosto, é de R$ 681,36 por MWh. Os dados são da consultoria Dcide, que reúne semanalmente informações sobre preços da energia elétrica que servem como referência para comercialização no mercado livre.
Baixa oferta
A contratação de longo prazo, para os próximos quatro anos (2015 a 2018), tem preços mais confortáveis, R$ 194,56 por MWh, segundo o levantamento da Dcide, mas vem esbarrando em outro problema. Hoje, a maior dificuldade das empresas é a oferta. Muitas empresas estão com dificuldades para fechar contratos mais longos, afirma Robson Luiz Rossetin, presidente da comercializadora Electra Energy, de Curitiba.
Com chuvas escassas, atrasos nas obras de geração e recusa do governo em adotar uma política de redução do consumo, a oferta de energia no mercado livre encolheu. “Os próprios geradores estão tendo que restringir a oferta. Isso tira a liquidez do mercado”, afirma Patrício Hansen, diretor-geral da Dcide. Na avaliação do presidente da Trade Energy, Walfrido Avila, quem não vendeu energia no último leilão do governo, a R$ 270 o MWh até 2019, está preferindo comercializar o excedente no curto prazo, cujo preço é mais lucrativo.
Sem uma política de racionalização do consumo por parte do governo, uma parcela da indústria acendeu o sinal amarelo. As empresas estão mais cautelosas, repensando suas estratégias de investimento e, em alguns casos, até mesmo freando a produção. “Não queremos ser alarmistas, mas estamos acompanhando este cenário com grande preocupação. Racionamento implica em corte de produção. Por enquanto, as empresas estão se virando como podem, tentando racionalizar o consumo e minimizar o impacto”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Luiz Campagnolo.
Tarifa cara também afeta setor regulado
A crise do setor elétrico também vai deixar mais cara a conta de luz de empresas do mercado cativo, que recebem energia das distribuidoras (como qualquer outro consumidor) e estão sujeitas às tarifas determinadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O socorro financeiro ao setor via aporte do Tesouro Nacional e empréstimos bancários será repassado ao consumidor final nos próximos anos.
A projeção é de um aumento de 60% no custo da energia para a indústria até 2015. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), até o final deste ano o setor industrial estará pagando R$ 342,70 por MWh pela energia elétrica, valor que poderá alcançar R$ 420,20 por MWh em 2015 com os reajustes das distribuidoras. Em janeiro do ano passado, o custo era de R$ 263 o MWh, impactado pelo desconto concedido pelo governo federal por meio da Medida Provisória nº 579.
Se a estimativa se confirmar, o Brasil deve passar do 11.º para o 4.º lugar no ranking dos países com a energia mais cara do mundo para a indústria. “A projeção inclui o sistema de bandeiras tarifárias [que repassará os custos de geração], que deve entrar em vigor no ano que vem”, explica a especialista em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan, Tatiana Lauria.
Para Victor Alfredo Hogan, diretor do Sindimetal-PR e representante da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) junto ao Conselho de Consumidores da Copel, o impacto para a indústria do custo maior da energia poderia ser pior se a economia estivesse em um bom momento. Nos três primeiros meses deste ano, o consumo de energia do setor se manteve praticamente estável.
Se o risco de racionamento e o custo da energia têm tirado o sono de parte do setor industrial, algumas empresas estão rindo à toa com a venda do excedente da energia que produzem. É o caso da Ibema, fabricante de papel-cartão com sede em Turvo, na Região Central do Paraná.
Dona de duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que juntas somam quase dez megawatts (MW), a empresa é autossuficiente na produção da energia que precisa. O que sobra – cerca de dois MW – é vendido no mercado livre. “Se tivéssemos que comprar energia pelo preço praticado hoje no mercado livre seria melhor parar a fábrica. O preço está tão alto que tem empresa diminuindo a produção para vender energia”, diz Clécio Chiamulera, diretor financeiro da Ibema.
A crise do setor elétrico não impactou as finanças da empresa, mas acabou limitando um investimento que tem potencial para aumentar em cinco vezes a capacidade de geração de energia da Ibema. Segundo Chiamulera, o projeto estimado em R$ 240 milhões foi engavetado. “A MP 579 [que baixou o preço da energia] bagunçou o mercado de energia e assustou os investidores. Não vamos investir porque não sabemos as regras do jogo daqui para frente”, diz.
Informação de: Gazeta do Povo
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