Grandes empresas do Brasil buscam melhorar desempenho energético
Publicado em 16/10/2017
Até meados de 2018, nove grandes indústrias do país - Baxter, Bemis, Cecil, Coca-Cola Femsa, Ficosa,
L'Oréal, Plastifluor, Termomecanica e Thyssenkrupp - terão concluído todas as etapas para certificação
na norma ISO 50001, que estabelece processos para melhorar o desempenho energético de suas unidades no Brasil. O processo,
iniciado em agosto de 2016 já tem quatro dessas empresas - Baxter, Bemis, Coca-Cola Femsa e L'Oréal - certificadas.
O tema passou a integrar a agenda da alta liderança das empresas depois de uma iniciativa promovida pelo International
Copper Association (ICA), no Brasil, representado pelo Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre), que patrocina o programa
de certificação das empresas e conta ainda com o Senai para conduzir a implantação dos requisitos
da norma e com a Eletrobras para auditar internamente as empresas para obtenção da ISO. A oportunidade de aderir
ao programa veio com a divulgação dos requisitos para candidatura das empresas, no ano passado.
Segundo
o diretor executivo do Procobre, Glycon Garcia, ao todo, foram 80 as indústrias inscritas, qualificadas de acordo com
as certificações prévias existentes, a aderência à responsabilidade social e ambiental e
ao compromisso de melhoria contínua. "Ao final do processo de certificação, essas indústrias estarão
aptas a adotar as melhores práticas de gestão de energia, com ganho de desempenho, redução de
custos relacionados ao consumo de energia e mitigação de impactos ambientais, a exemplo da emissão de
gases de efeito estufa", diz Garcia.
Para muitas das empresas, a certificação também vem ao
encontro de metas globais, que estabelecem o percentual de economia de ativos energéticos que as subsidiárias
brasileiras precisam alcançar. Para a americana Bemis, maior fabricante mundial de embalagens, a redução
prevista de 2010 a 2020 é de 10%, mesmo percentual de economia da Coca-Cola Femsa para o período de 2016 a 2020
e para a L'Orèal, de 2016 a 2018. Na Baxter, a meta de redução a ser alcançada no intervalo de
2015 a 2020 é de 15% em consumo de energia e 10% em emissão de gases.
APLICAÇÕES TÉCNICAS
- A Baxter, primeira das nove indústrias do projeto a obter a certificação, desponta como a multinacional
do ramo farmacêutico no Brasil que primeiro obteve a ISO. No mundo, das 60 fábricas do grupo, a unidade brasileira
é a quarta a seguir os parâmetros internacionais na racionalização do uso e consumo de energia,
estabelecidos pela ISO 50001. A economia no consumo de energia da planta certificada deve chegar a 500 mil dólares
anualmente, segundo Leandro Corral, gerente de engenharia da empresa.
Na planta piloto, localizada na zona sul
de São Paulo, que produz soro hospitalar, entre outros produtos, as medidas relacionadas ao desempenho energético
envolveram uma equipe multidisciplinar que abrangeu áreas diversas de atuação, de compras a engenharia,
manutenção e operação. Na etapa inicial, a empresa passou por uma espécie de contabilidade
energética, para entender a matriz de custo e onde a energia era utilizada.
O potencial de aumento da eficiência
energética veio também, em grande parte, de soluções técnicas, como a instalação
de inversores de frequência para modulação de carga de acordo com a demanda do sistema de produção.
No sistema motriz, a empresa substituiu motores antigos pelos de alto rendimento. No de vapor, a troca de queimadores nas
caldeiras favoreceu a redução de 4 % no consumo do gás. No sistema de ar comprimido, houve redução
da pressão de trabalho e no de refrigeração foi adequada a temperatura para operação. Esses
sistemas passaram a contar com um programa de manutenção corretiva para contenção de vazamentos.
Para Corral, começar pelos processos menos complexos foi uma estratégia que retornou resultados no curto
prazo, tanto para gerar fluxo de caixa para projetos maiores como para engajar todos os colaboradores. A exemplo disso, nos
banheiros dos funcionários, o aquecimento passou a contemplar placas solares. O engenheiro também revela que
na hora da compra de um equipamento, além do custo de aquisição do bem, para saber o que é mais
barato, o custo energético (vida útil do equipamento) passou a ser considerado. Outra medida importante foi
trazer fornecedores para dentro da empresa, para qualificar funcionários sobre como otimizar o uso de determinado equipamento
ou insumo. "Fornecedores trazem ideias e soluções gratuitamente", assegura Corral.
Responsável
pelas ações de sustentabilidade da Bemis na América Latina, o francês Teddy Lalande pretende replicar
a experiência na planta piloto de Mauá, onde a metodologia ISO foi aplicada, para outras unidades da empresa.
"Na Argentina, a energia elétrica era subsidiada pelo governo e tinha custo baixo. Com Macri já não é
assim. Também queremos adotar as boas práticas na planta mexicana", sustenta.
A Termomecanica, que
deve concluir o processo de certificação em setembro de 2018, na terceira fase do programa patrocinado pelo
Procobre, também já faz planos para reproduzir a racionalização dos insumos energéticos
de forma progressiva nas plantas da Argentina e do Chile, depois de estendê-la a Manaus e Joinville. "Nossos setores
de fundição e prensa respondem pelo consumo de 50% de energia (elétrica e gás) na fábrica
de São Bernardo do Campo", conta o gerente de energia e utilidades Fábio Stancov. Em fase inicial de implantação
do programa, ali foram levantados os indicadores de consumo, definidas as metas de economia e dado início ao treinamento
de funcionários.
ECONOMIA - O Brasil, apesar do reconhecimento por programas de incentivo à eficiência
energética e de atuar com entusiasmo para aprimorar as ferramentas de gestão de energia no país, precisa
ainda realizar um grande esforço para acompanhar outras nações. Para se ter uma ideia desse distanciamento,
segundo a ISO Survey of Certifications - organização que, anualmente, quantifica o número de certificações
ISO no mundo - em 2015, 11.985 empresas possuíam a ISO 50001. Naquele ano, o Brasil, 9ª economia do mundo no ranking
do FMI (Fundo Monetário Internacional), contava com apenas 30 empresas certificadas.
Hoje, a segurança
energética movimenta a agenda do setor produtivo em todo o mundo. A inquietação é genuína,
haja vista a demanda crescente pelos insumos energéticos esbarrar no esgotamento das fontes não renováveis
e a necessidade de as empresas adotarem novas estratégias para sustentar seu posicionamento e crescimento geográfico.
"Depois da mão de obra, a energia é um custo fixo alto para muitas empresas. Isso a qualifica como um
fator estratégico para a operação das organizações. Por isso, seu planejamento, gestão
e monitoramento devem ser percebidos e aplicados de forma permanente e continuada. Como um recurso vital, indispensável
para o desenvolvimento, é necessária uma ampla conscientização sobre como utilizá-lo de
forma mais racional, mobilizando os agentes econômicos na busca de soluções para o futuro", constata Garcia,
do Procobre.
No começo deste ano, estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Rio
de Janeiro) classificou o Brasil como o 6º com a energia (elétrica) mais cara do mundo. Em paralelo, a análise
do Aceee - sigla em inglês que nomeia o Conselho Americano para Economia Energeticamente Eficiente -, realizada em 2014,
classificou a indústria brasileira e o Brasil campeões em desperdício de energia, após avaliar
as 16 maiores economias do mundo.
O consumo eficiente, com gerenciamento sistemático dos insumos energéticos,
sob a disciplina de regulamentações como a ISO 500001 teria, segundo estudo da universidade de Berkeley, na
Califórnia, o potencial de reduzir 95EJ de energia o que equivaleria a uma redução de US$ 600 bi em gestão
com energia e 6.500 m de CO2, o mesmo que 215 milhões de veículos a menos nas ruas.
Com o programa
e os primeiros resultados de sua implantação, o Procobre espera inspirar outras empresas para multiplicar a
experiência da prática normalizada da gestão de energia como uma ferramenta de sucesso para a promoção
da competitividade e do desenvolvimento sustentável.
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