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Publicado em 26/01/2015
Os atrasos causados por projetos ruins, demora em licenciamentos ambientais, dificuldades financeiras e outras questões de responsabilidade do governo ou das empresas impedem a entrada de 8,9 mil megawatts (MW) no sistema elétrico até o fim deste ano. Essa é a capacidade das usinas que já deveriam estar funcionando ou que teriam de entrar em operação ao longo de 2015 mas que, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), só ficarão prontas de 2016 em diante.
O número, levantado pela Gazeta do Povo nos relatórios de fiscalização da agência reguladora, corresponde a sete usinas do tamanho da hidrelétrica Governador Ney Braga. Mais conhecida como Segredo, a central operada pela Copel foi apontada pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, como a primeira a “cair” no blecaute da semana passada, supostamente pelo acionamento indevido do sistema de proteção. O ministro foi desmentido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), para quem o desligamento de Segredo e mais dez usinas foi uma reação automática a uma queda de frequência no Sistema Interligado Nacional (SIN).
A capacidade máxima atual do SIN é de 129,9 mil MW. Mas boa parte dessa energia está indisponível, por várias razões: pouca água nos reservatórios, manutenção ou falta de combustível em termelétricas, insuficiência de linhas de transmissão ou restrições técnicas. Tanto é que, no calor da última segunda-feira, quando o consumo nacional beirava 85 mil MW, um problema na interligação das regiões Norte e Nordeste com o Sudeste bastou para que o ONS precisasse cortar o fornecimento de 2,6 mil MW para várias regiões.
Considerando-se a potência “garantida” média do parque gerador brasileiro, os 8,9 mil MW em atraso corresponderiam a uma energia assegurada de cerca de 5,8 mil MW – o que faria muita diferença no cenário atual.
“Se os projetos ficassem prontos no prazo, não apenas teríamos uma capacidade maior de produção, mas também teríamos poupado reservatórios”, diz Erik Rego, diretor da consultoria Excelência Energética. Com novas hidrelétricas, o país usaria rios que hoje não geram energia e aproveitaria melhor aqueles que já têm usinas. A eventual conclusão da hidrelétrica paranaense de Baixo Iguaçu, por exemplo, permitiria aproveitar pela sexta vez a mesma água que passou pelas turbinas das cinco usinas que existem rio acima.
Baixa viabilidade
Dos 681 projetos de geração fiscalizados pela Aneel, 369 – 54% do total – têm algum tipo de atraso. Chama atenção o número de projetos com baixa viabilidade. Segundo a Aneel, 50% das termelétricas e 42% das hidrelétricas têm graves impedimentos à sua implantação, como licenciamentos suspensos e decisões judiciais contrárias.
Megausinas
A maior lacuna da área de geração está em projetos de grande porte como os do Rio Madeira, em Rondônia. A usina de Santo Antônio, que já tem 2.286 MW em operação, deveria disponibilizar mais 656 MW neste ano, mas isso só ocorrerá em 2016. Jirau, com 1.575 MW, precisaria ter ligado mais 525 MW em 2014, mas só o fará neste ano.
Questão de fé
Em meio a problemas estruturais, o governo torce pela chuva. Pelas contas de Ricardo Savoia, diretor da consultoria Thymos Energia, para que o país enfrente o período seco (maio a novembro) com segurança, os reservatórios do SIN terão de alcançar perto de 30% da capacidade no fim de abril – na semana passada, estavam em pouco mais de 20%. Para isso, será preciso chover 80% da média histórica até lá. “Em janeiro, até agora, choveu não mais que 60% da média do mês”, diz Savoia.
A fiscalização da Aneel concluiu que, de 336 obras de linhas de transmissão e subestações no país, 227 estão atrasadas, o equivalente a 68% do total. O mais grave desse tipo de atraso é que ele compromete o escoamento da energia das poucas usinas que ficam prontas no prazo.
“O governo muitas vezes faz a licitação da transmissão muito tempo depois de ter feito a licitação da obra de geração. O ideal seria fazer isso de forma mais integrada”, diz Fábio Cuberos, gerente de regulação da consultoria e comercializadora Safira Energia.
Esse tipo de integração ocorre apenas nos leilões de energia eólica, depois que parques geradores na Bahia tiveram de esperar quase dois anos pela conclusão das linhas de transmissão.
Auditoria
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou, em setembro passado, que o atraso médio nas linhas de transmissão licitadas entre 2005 e 2012 era de 14 meses, superior à defasagem média da construção de hidrelétricas (oito meses), parques eólicos (10 meses) e termelétricas (11 meses).
Quase todos os projetos de hidrelétricas do Paraná estão atrasadas e são consideradas de baixa viabilidade, por enfrentarem grandes obstáculos. Essa é a situação de quatro dos cinco empreendimentos fiscalizados pela Aneel.
Só está em dia a pequena central de Salto Curucaca (37 MW), da Santa Maria Papel e Celulose, no Centro-Sul do estado, que deve ficar pronta em setembro de 2016. O empreendimento mais importante do estado, o de Baixo Iguaçu (350 MW), no Sudoeste, teve a construção interrompida há sete meses por uma decisão judicial. A conclusão, inicialmente programada para 2013, foi prorrogada pela própria Aneel para 2016, mas nem esse prazo será cumprido.
As usinas São João e Cachoeirinha (105 MW), que pertencem à Gerdau e formariam um complexo no Sudoeste, não foram nem sequer iniciadas, embora devessem ter entrado em operação em 2007. A paralisia se deve à situação do licenciamento, segundo a Aneel. A falta de licença também mantém no papel a usina de Tijuco Alto (129 MW), concedida à Companhia Brasileira de Alumínio há 27 anos.
Informação de: Gazeta do Povo
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