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Publicado em 18/08/2014
A cada ano que entra, se intensificam as discussões em relação à geração de energia elétrica no país. Neste cenário, vemos o problema da falta de energia quando há qualquer alteração no regime de chuvas, forçando assim o uso de energias mais poluentes, como as usinas termelétricas, e a discussão sobre a necessidade de se construir mais hidrelétricas, em que as condições também não se apresentam das mais favoráveis. De fato, a tal “energia limpa” é cada vez mais questionada pela sociedade, devido ao grande impacto ambiental causado pela construção de uma usina hidrelétrica de grande porte, além dos problemas econômico-sociais causados por perda de áreas agrícolas produtivas e pela realocação de famílias e tribos indígenas, que vivem em áreas a serem inundadas pelos reservatórios.
Nesse sentido, a energia solar é apontada como uma das energias renováveis que poderiam minimizar esses problemas. O projeto do Escritório Verde (EV) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que completou dois anos e meio em julho, mostra a viabilidade técnica desse potencial ao gerar nesse período pouco mais de 6,2 MWh através do seu sistema de energia solar fotovoltaica.
Sendo essa a primeira edificação com energia solar conectada à rede no estado do Paraná e instalada na Avenida Silva Jardim, uma das ruas centrais de Curitiba, a avaliação contínua de seu desempenho ajuda a derrubar um mito de que nossa cidade, classificada como “cinza”, não dispõe de irradiação solar suficiente para esse tipo de sistema. A matéria “Curitiba, a nublada” (Gazeta do Povo, 28/7/2014) não pode servir de parâmetro para negligenciar nosso potencial de geração de energia solar, uma vez que se considera aqui a irradiação solar anual, e a irradiação difusa também é uma componente que contribui para a geração fotovoltaica. A orientação e a inclinação dos módulos fotovoltaicos colocados no telhado da edificação também interferem no desempenho do sistema.
Para compreender melhor, a irradiância solar global é a quantidade de energia por unidade de área e unidade de tempo que incide sobre a superfície da Terra. A unidade de irradiância é a unidade de potência por metro quadrado da superfície da Terra (watt/metro quadrado). Para Curitiba, segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, temos de 4,5 a 5 kWh/m²/dia, o que representa uma irradiação superior às encontradas nas cidades do litoral Sul do Brasil, como Florianópolis, por exemplo.
Para termos uma comparação de como desperdiçamos nosso potencial solar, a região mais ensolarada da Alemanha recebe um índice de irradiação solar 40% menor que o índice da região menos ensolarada do Brasil! A região menos ensolarada do nosso país apresenta índices solares em torno de 1.642 kWh/m²/ano, acima dos valores apresentados na área de maior incidência solar da Alemanha, que recebe cerca de 1,3 mil kWh/m²/ano. Aqui, sim, ganhamos de goleada!
O sistema solar instalado de 2,1 mil W (dez módulos de 210 W ocupando uma área de 15 m²) do EV nos revela que podemos gerar, em média, 210 kWh/mês. Energia suficiente para abastecer uma residência padrão da família brasileira. Em meses de verão de 2013 e 2014, pudemos gerar 280 kWh, permitindo “exportar” energia elétrica para o edifício anexo ao EV. Este desempenho, que torna a edificação “energia positiva” (isto é, gera mais do que consome), somente é possível devido ao fato de sua construção ter sido programada para ser energeticamente eficiente, com o uso de sistemas construtivos que permitem o conforto térmico, iluminação natural, uso de janelas com vidro duplo e lâmpadas LEDs.
O governo brasileiro precisa acelerar o uso da energia solar e de construções mais eficientes no país por meio de criação de subsídios, isenções fiscais e políticas de incentivo, como fez a Alemanha ao longo de mais de 40 anos. Hoje, o campeão da Copa 2014 é também líder mundial, com mais de 30% da capacidade solar fotovoltaica instalada no planeta. São cerca de 8,5 milhões de pessoas que vivem em edifícios e casas com sistemas de energia solar, segundo o Solar Industry Association (BSW-Solar), ou seja, um em cada dez alemães já usa energia solar para gerar eletricidade ou calor. Em tempo: para 2015, o governo brasileiro e as concessionárias preparam um “tarifaço” sobre sua conta de energia elétrica, prepare o bolso!
Eloy F. Casagrande Jr. é coordenador do Escritório Verde da UTFPR. Jair Urbanetz Jr. é coordenador do curso de especialização em Energias Renováveis da UTFPR.
Informação de: Gazeta do Povo
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