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Energia elétrica vai pesar 50% a mais no orçamento das famílias

Publicado em 28/04/2014

A energia elétrica, uma das despesas mais altas no orçamento dos lares brasileiros, vai consumir ainda mais da renda familiar nos próximos anos. A promessa de queda de até 20% na conta de luz feita pela presidente Dilma Rousseff em 2012 durou pouco. O alívio foi a boa notícia do ano passado. Em média, em dez regiões do país acompanhadas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a conta de luz ficou 15,7% mais barata. Mas a estiagem, a problemática gestão do setor elétrico e até o incentivo ao consumo de eletrodomésticos fizeram o benefício se tornar ônus, na forma de reajustes acima de 10% por cinco anos seguidos. O resultado é que o peso da energia nos gastos com produtos e serviços das famílias deve aumentar 52%, passando dos atuais 2,69% para 4,1% em 2018.

- Com a queda nos preços do ano passado, o peso da energia elétrica caiu. Era de 3,33% em janeiro de 2013 e baixou para 2,69% agora. No fim de 2015, com a incorporação desses aumentos, a despesa voltará a ter o peso de janeiro de 2013, quando a conta de luz ainda não tinha ficado mais barata - afirmou André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas que fez as projeções com base nos reajustes calculados pela Consultoria Safira Energia, de 18,7% em 2015 e 2016 e de 14,1% em 2017 e 2018.

Investimentos parados

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já autorizou reajustes este ano. Para os moradores de 118 cidades do Rio Grande do Sul, a conta de luz ficou 28,86% mais alta desde o dia 19 último. No Ceará, o reajuste concedido foi de 16,55% e na Bahia, de 14,82%. Os aumentos vieram para fazer frente ao gasto com as térmicas, diante do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, e ao empréstimo de R$ 11,2 bilhões contratado na última sexta-feira pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), para ser repassado às distribuidoras que ficaram com um rombo no caixa diante do preço alto da energia.

Diante dessas altas na conta de luz, os analistas de bancos e consultorias já refizeram as previsões do comportamento da inflação. A economista Priscilla Burity, do Banco Brasil Plural, diz que o tamanho dos reajustes surpreendeu.

- Os índices vieram bem acima do que a gente esperava até alguns meses. Trabalhávamos com um aumento anual médio da energia de 6,5% a 7%, mas agora estamos revendo nossa projeção. O novo número não está fechado, mas imagino que possa ficar em torno de 15%. Com isso, nossa previsão do IPCA do ano, que era de 6,45%, também deve subir para algo como 6,66%, estourando o teto da meta do governo (6,5%).

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, está mais pessimista. Na sexta-feira, revisou sua projeção para o IPCA deste ano: 7%, meio ponto percentual acima do teto da meta de inflação. Se isso acontecer, será a primeira vez desde 2003 que o compromisso de manter o IPCA em até 6,5% não será cumprido.

- No caso de energia, trabalhamos com média de 10% de alta este ano e 15% no ano que vem. O pacote de energia nasceu morto. Mudar as regras no meio do caminho, como foi feito, já sinalizava problemas à frente, e foi no que deu. A cada vez que o governo tentar intervir como fez terá esse resultado.

Braz, da FGV, diz que a despesa com energia pode ficar menor diante dos aumentos que, acumulados, chegam a 100% até 2018:

- As famílias devem racionalizar o consumo, diante da pressão no orçamento, como trocar lâmpadas e usar eletrodomésticos mais eficientes.

Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, afirma que além de dar força à espiral da inflação, as incertezas sobre o preço e o fornecimento de energia travam o crescimento do país, inibindo investimentos:

- O impacto é muito mais amplo do que se imagina. Há empresas adiando investimentos por causa da incerteza em relação aos preços da energia.

Ele calcula que este ano a conta de luz de mais da metade das famílias brasileiras terá aumento de dois dígitos, ou seja, acima de 10%:

- Em 2015, então, será um salve-se quem puder, com aumento de mais de dois dígitos para toda a população, em média de 14% ou 15%. Cravar o número exato é difícil, porque depende de quanto o governo estará disposto a pagar para segurar essa conta.

Aneel: alta sobre preço menor

Priscila, da Brasil Plural, acrescenta que esta incerteza sobre o tamanho dos reajustes acaba afetando diretamente a inflação:

- A energia tem um peso importante no IPCA. Deve passar a pesar ainda mais, e ninguém sabe o que vai acontecer com os preços. Fica todo mundo na expectativa dos aumentos, e fica mais difícil para o Banco Central trazer a inflação para meta, até porque a inflação se alimenta de expectativas.

Adilson de Oliveira, professor do Instituto de Economia da UFRJ, diz que os reajustes que ainda não foram anunciados oficialmente, mas "serão significativos". Tudo vai depender da decisão do governo de ligar as térmicas:

- Os reservatórios não podem chegar ao fim do ano em patamares muito baixos. Há risco grande de não haver chuvas copiosas no verão próximo e de ter racionamento no início do próximo governo, seja ele qual for.

O diretor-geral da Aneel, Romeu Donizete Rufino, explica que a redução das tarifas praticada em janeiro do ano passado provocou uma mudança estrutural, ou seja, foi reduzida a tarifa em um só movimento tarifário.

- Os processos tarifários subsequentes são aplicados em cima de uma base menor anunciada em 2013. Os reajustes tarifários vão ocorrer normalmente, pois estão previstos em contrato de concessão.

E, na conta da inflação, ainda falta entrar o reajuste represado da gasolina e dos ônibus urbanos. Sem falar nos alimentos, que não dão trégua.

Informação de: O Globo

 

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