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A era do ouro para o gás

Publicado em 22/05/2013

7 trilhões de metros cúbicos é a estimativa do total de reservas de gás natural no Brasil, segundo o Departamento de Energia dos EUA. Volume bem maior que os 395 bilhões de metros cúbicos constatados atualmente.

Visto como a nova fronteira energética do país, o gás natural pode colocar o Brasil em um novo patamar no cenário internacional. Até então associado à exploração de petróleo no mar, o gás virou tema de estudos profundos, feitos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e por empresas, que indicam enorme potencial em bacias terrestres. Para especialistas, o país tem reservas gigantescas de gás natural do porte das de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos. Com isso, a oferta ao mercado deve aumentar 360%, passando dos atuais 65 milhões para 300 milhões de metros cúbicos por dia entre 2025 e 2027. Para 2020, a Petrobras, principal produtor, trabalha com um cenário de 200 milhões de metros cúbicos por dia.

O potencial com a exploração do gás natural é enorme. Hoje 96% das bacias ainda não foram exploradas. Estudos geológicos da ANP indicam grandes reservatórios em seis bacias, do Norte ao Sul. O diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP e ex-diretor da Petrobras Ildo Sauer vai mais longe: para ele, o Brasil está à beira de uma revolução energética.

Segundo o especialista, estimativas do Departamento de Energia dos EUA apontam que o Brasil pode ter reservas de 7 trilhões de metros cúbicos, contra os 395 bilhões de metros cúbicos atuais. “É uma verdadeira revolução”. Com o desenvolvimento de tecnologia na produção, haverá redução dos custos e menores impactos ambientais.

Mas, para aproveitar todo esse potencial, é preciso que o governo defina uma nova política para o uso do gás e que a ANP, que já investe R$ 120 milhões por ano no estudo das bacias sedimentares, volte a fazer as rodadas mais constantes de licitações.

Segundo estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a indústria nacional perde cerca de US$ 4,9 bilhões por ano, devido ao custo elevado do gás natural no Brasil, em comparação ao gás de xisto (gás natural que pode ser encontrado preso dentro de formações de xisto) usado pela indústria norte-americana.

O levantamento, intitulado O Preço do Gás Natural para a Indústria no Brasil e nos Estados Unidos – Comparativo de Competitividade, mostra que enquanto a tarifa média do gás para a indústria no Brasil é US$ 17,14 por milhão de unidades térmicas britânicas (MBTU), nos Estados Unidos o valor é bem menor, da ordem de US$ 4,45. O consumo anual de gás natural pela indústria brasileira totaliza 10,4 bilhões de metros cúbicos, gerando custo de US$ 6,6 bilhões. Nos Estados Unidos, o custo cai para US$ 1,7 bilhão, de acordo com os dados constantes do documento.

Segundo o diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), economista Jean-Paul Prates, existe um preço de mercado que é reflexo não apenas de uma estrutura de produção já muito desenvolvida, que o Brasil proporcionalmente também já dispõe, mas de uma outra coisa que o Brasil não dispõe, que é uma logística de coleta, de mercado de gás, que o país nunca chegou a desenvolver. Isso significa que mesmo antes do gás de xisto, o valor do gás americano sempre foi mais baixo em função da logística de coleta, de transporte (gasodutos) e, finalmente, do sistema de distribuição, que são lastreados em regras claras, o que torna a indústria americana competitiva.

A estrutura de gás no Brasil tem um único agente, que é a Petrobras. “O setor sofre pouca intervenção da parte do governo em termos regulatórios”, observou o diretor geral do Cerne. E finalizou: “O Brasil anda na corda bamba no consumo de gás, que é muito maior que a disponibilidade que ele tem hoje”. Ainda há um espaço de três a cinco anos para a entrada no mercado do gás extraído do pré-sal.

Cenário Paranaense

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda bacias de Norte a Sul do Brasil, que podem elevar a oferta ao mercado em 360%. Na Bacia Sedimentar do Paraná – formação geológica que abrange quase todo o Sul do país e parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste – há potencial para geração e acumulação de gás natural, mas a área é praticamente inexplorada e pouco conhecida.

A bacia será objeto de um levantamento magnetotelúrico (que analisa o tipo de rocha e sua permeabilidade) encomendado pela ANP. Uma empresa está sendo contratada para projeto e a coleta de dados deve começar em setembro. A ANP não informa em que parte da bacia será feito o estudo. Para a área do Paraná, em especial, um segundo levantamento sísmico está programado e deve ser licitado em setembro.

De olho neste potencial, a Companhia Paranaense de Gás (Compagas) pretende participar da licitação do campo de Barra Bonita, em Pitanga, no Centro do estado, onde já é comprovada a existência de uma reserva de pelo menos 500 milhões de metros cúbicos – a área é considerada marginal para exploração. Por essa razão, a Petrobras, que detinha a permissão de explorar a área, devolveu a concessão para a ANP, por não tê-la explorado. Não há previsão para a licitação ocorrer.

A exploração viria em boa hora. Para 2013 e 2014, a companhia tem contratos fechados na ordem de R$ 800 milhões. O faturamento poderia chegar a R$ 1,5 bilhão, mas a empresa não pode se comprometer por falta de garantia de suprimento. “Temos condições de operar on shore [na terra] e não se exclui a possibilidade de participarmos de outras concorrências para novas reservas no estado. A Compagas tem o benefício do monopólio, mas, como contrapartida, deve buscar o atendimento de todo o estado. Hoje estamos limitados à Grande Curitiba e a Ponta Grossa, o que impede o surgimento de novos polos, mas isso poderia mudar com a exploração”, explica Luciano Pizzatto, diretor-presidente da Compagas.

A Compagas vem promovendo discussões sobre potencialidade do Paraná através de vários eventos direcionados ao setor. O último aconteceu no dia 16/05 em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). O evento foi oficialmente aberto pelo presidente da Agência Paraná de Desenvolvimento (APD), Carlos Alberto Del Claro Gloger, e pelo diretor-presidente da Compagas, Luciano Pizzatto.

No seminário intitulado “Gás Natural como Estratégia de Competitividade” foram discutidos temas relacionados aos cenários estratégicos e a utilização do gás natural como insumo competitivo da matriz energética do Paraná. O presidente da APD chamou atenção para a necessidade de mais divulgação das vantagens do gás natural.

“Hoje, é um potencial energético amplamente seguro e acessível e um grande potencializador de investimentos aqui no Paraná”, disse Gloger, na abertura do seminário.

Pizzatto comentou que há também enorme potencial inexplorado de biogás. “A Compagas já está monitorando as opções no estado para utilizar o biogás como combustível e também como fonte de energia”.

O evento contou ainda com a participação do professor convidado da Fundação Dom Cabral, Cláudio Araújo Pinto e do diretor técnico da APD, Henrique Ricardo dos Santos, que fez a apresentação sobre como o gás natural pode contribuir para a atração de novos investimentos no Paraná. Também participaram do seminário o presidente do IBQP, Sandro Nelson Vieira, além de profissionais da Copel, do Senai, da Agência Paraná de Desenvolvimento e convidados.

Informação de: Gazeta do Povo, Infoenergia, Exame, O Paraná

 

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