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Publicado em 27/03/2013
Como o país é o maior fornecedor mundial da matéria-prima para a fabricação dos painéis
solares – o quartzo –, bastaria que o processo de construção dos aparelhos fosse nacional para que
o barateamento dos custos servisse de incentivo à ampliação do uso de uma energia renovável ambientalmente
menos impactante. A Itaipu Binacional, referência em geração hidrelétrica, está prestes
a abrir um novo flanco, garantindo condições para que a matriz energética no Brasil seja ainda mais limpa.
A
cidade paranaense de Foz do Iguaçu e o distrito paraguaio de Hernandárias estão a caminho de se tornarem
um polo de sustentabilidade, oferecendo soluções na busca da pegada zero de carbono. O projeto intitulado “Silício
Verde” é ambicioso e está na fase de avaliação da viabilidade econômica. Atraso
Ministério
reconhece necessidade de investir em industrialização
A importação dos aparelhos torna a energia
solar inviável, na avaliação de João Américo Vilela, professor de Engenharia Elétrica
da Universidade Federal do Paraná. “Competir com o preço de outros tipos de energia é quase impossível.
Mas é preciso investir nessa área para diversificar a matriz energética”, comenta.
Sobre a exportação
in natura de cristais de quartzo, um relatório recente do Ministério de Minas e Energia indica que “é
necessária a aplicação, a curto ou médio prazo, de uma política de estímulo a industrialização
interna visando agregação de valor à matéria-prima mineral e a solução da dependência
externa de produtos industrializados.”
Para Paulo Bastos, um dos fundadores da Sol Bravo, empresa paranaense que
desenvolve tecnologias na área de aplicação fotovoltaica, todos os custos embutidos na produção
hidrelétrica, como comunidades atingidas e áreas alagadas, não estão sendo contabilizados na hora
de avaliar o preço da energia no Brasil. Ele também destaca que, apesar disso, o investimento concreto na energia
solar se paga num período de dez anos. O empresário acredita que o barateamento dos aparelhos, a partir da fabricação
nacional, seria um incentivo à expansão dessa alternativa. “Colocaria o Brasil no mapa da produção
e também do uso”, acredita.
300 mil euros ou R$ 780 mil é o custo orçado para o levantamento
de viabilidade econômica do projeto “Silício Verde”, capitaneado pela Itaipu Binacional. Consultores
brasileiros e estrangeiros estão analisando se o projeto se sustenta. A estimativa é de que implantar a fabricação
de painéis fotovoltaicos deve consumir 1 bilhão de euros (R$ 2,6 bilhões). Com o estudo de viabilidade
em mãos, o que deve acontecer até o final do ano, a intenção é conseguir os recursos com
fundos de investimento.Alto custo
O secretário nacional de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Altino
Ventura, afirmou que, em quatro ou cinco anos, a energia solar deverá ter um custo competitivo e passará a integrar
a matriz energética brasileira. Segundo ele, hoje o custo de geração desse tipo de energia é três
a quatro vezes maior do que o de outras fontes. No entanto, o custo desse tipo de energia cai, em média, de 15% a 20%
ao ano. No caso da energia solar, o custo oscila entre R$ 300 e R$ 400 por megawatt, enquanto que a média das outras
fontes de energia é de R$ 100.
O superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Cícero Bley Júnior,
reconhece que a fabricação de painéis solares não é um processo simples – ou alguém
já teria feito no Brasil. “São seis fases. Cada uma delas altamente tecnificada e complexa”, diz.
Mas ele destaca que é possível. Hoje o país exporta, ao ano, 230 mil toneladas de quartzo extraído
de jazidas principalmente em Minas Gerais. Em formato de rocha ou apenas com um simplificado processamento, os cristais vão
para China, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Alemanha para a fabricação de painéis fotovoltaicos.
“A China produz placa solar com carvão. Ou seja, finge que está fazendo energia limpa”, diz Bley
Júnior.
Parceiros
O governo estadual e a Federação das Indústrias do Estado do Paraná
(Fiep) são aliados da Itaipu no projeto Silício Verde. Juntos, estão pagando o projeto de viabilidade
econômica. Bley Júnior destaca o fato de o Brasil não agregar valor ao quartzo extraído. “O
que sai daqui por R$ 1 volta por R$ 1 mil”, comenta. Além da questão monetária, tem o fator logístico.
A rocha viaja até 20 mil quilômetros para depois voltar ao país, passeando por igual distância,
em forma de placa solar. Bley Júnior reforça que o uso de energia solar está sendo expandido no mundo
e, de dependente de equipamentos importados, o Brasil pode passar a exportador de tecnologia.
Devolução
do excedente evita desperdício
Uma decisão preponderante para ajudar a deslanchar a energia solar no Brasil
foi tomada recentemente, quando o governo mudou as regras do jogo e passou a aceitar a devolução do excedente
gerado de eletricidade – que é “jogado” na rede. Sem essa possibilidade, restava ao sistema fotovoltaico
desperdiçar a energia gerada em horários de pico, com muita incidência solar, ou buscar formas de armazenar,
em baterias, o que era gerado. “A devolução é a saída para vencer alguns problemas da energia
a partir de hidrelétricas, como a logística de distribuição. Com a energia solar, o processo é
descentralizado. Ela é usada onde é gerada”, comenta Cícero Bley Júnior, superintendente
de Energias Renováveis da Itaipu Binacional.
A energia gerada na hidrelétrica também deve abastecer
o sistema de produção fotovoltaica. “Cada quilowatt aplicado pela Itaipu é multiplicado e vai gerar
onze vezes mais energia. É um ciclo virtuoso, limpo e renovável”, comenta. A ideia é formar, no
entorno da usina, um polo nos mesmos moldes da cadeia automotiva, em que uma série de empresas menores e fornecedoras,
que processem vidro e borracha, por exemplo, participem da rede. A estimativa é que o projeto vire realidade concreta,
com produção industrial, em quatro anos.
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