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Publicado em 20/02/2013
Thomas Alva Edison construiu, em 1879, a primeira lâmpada elétrica comercialmente viável. Com a popularização
da tecnologia, alastraram-se pelo mundo grandes redes de distribuição de energia, que passaram a alimentar não
só filamentos luminosos, mas também uma infinidade de eletroeletrônicos.
Talvez Edison se desapontasse
ao descobrir que, mais de 80 anos depois de sua morte, a maneira como é feita a distribuição de energia
elétrica evoluiu muito pouco. Segundo especialistas, os sistemas atuais dependem excessivamente de fontes geradoras
únicas, com redes suscetíveis a falhas pontuais, porém críticas, e alto índice de furtos
e prejuízos nas pontas.
A ascensão das tecnologias da informação e telecomunicações
(TICs) permitiram novas soluções e tecnologias para que a indústria da energia finalmente pudesse promover
uma mudança radical, acrescentando principalmente inteligência às redes. Elas agora evoluem rumo à
automatização, com a utilização de dispositivos medidores conectados a redes IP para o monitoramento
a distância do consumo e dos ativos das concessionárias e geradoras. E essa é só a ponta do iceberg.
Segundo um levantamento feito pela CAS Tecnologia, as redes inteligentes, ou smart grids, permitem reduções
de consumo de eletricidade na casa de 20%. O Brasil, que dentro de uma década será o terceiro maior mercado
de smart grids do mundo (com R$ 36 bilhões), perde 14,7% da energia produzida antes de chegar aos consumidores, incluindo
empresas e consumidores finais. O prejuízo ultrapassa R$ 8,1 bilhões anualmente.
Debates
Para
propiciar aos profissionais e autoridades do setor um espaço para debates sobre as novidades tecnológicas e
aspectos regulatórios da implementação de redes inteligentes na América Latina, é realizado
desde 2008 o Fórum Latino Americano de Smart Grid. Em sua quinta edição, que aconteceu no fim de novembro
na capital paulista, foram debatidos principalmente os impactos da transformação tecnológica sobre os
negócios das empresas envolvidas no setor de energia.
”Estamos tendo muitas mudanças simultâneas
de curto prazo”, disse o presidente do Fórum e CEO da ECOee, Cyro Vicente Boccuzzi. “Precisamos definir
políticas estáveis para parcerias e para que o movimento de modernização aconteça. Outro
desafio é educar os clientes para que entendam as novas tecnologias e como usá-las.”
Para Boccuzzi,
na América Latina ainda existe espaço para aumentar o consumo de energia – que atualmente é de
150 kWh per capita, enquanto nos EUA está acima de 1 mil kWh e na Europa em torno de 800 kWh. Assim, a região
se diferencia do resto do mundo, sendo foco o aumento do consumo e, por consequência, o desenvolvimento econômico
e o acesso à renda.
“O foco dos governos na América Latina é expandir a oferta, na maioria
das vezes com a construção de usinas convencionais de grande porte. O Brasil tem grandes projetos, além
de oportunidades para geração de pequena escala”, ponderou o executivo. “São necessárias
políticas públicas de longo prazo para modernizar a infraestrutura.”
Evolução
Mesmo
esta necessidade não impediu o rápido progresso e adoção de soluções para redes
inteligentes, em um setor cujos aportes em novas ideias costumam ser lentos e muito bem ponderados. Nos últimos 5 anos,
vários países passaram a propor diretrizes sobre tecnologias para medidores inteligentes, precificação
dinâmica e geração em pequena escala.
Boccuzzi criticou duramente a atuação do governo
federal e as medidas de redução da tarifa previstos pela MP 579, que trata da renovação dos contratos
de concessão. Embora elas sirvam de base para programas de aceleração do crescimento do País,
a forma como foi proposta pela presidente Dilma Rousseff “vai reduzir as receitas das empresas, que questionam o ritmo
de expansão do sistema. O que então dizer da modernização que deve acompanhar o crescimento? Isso
pode trazer impacto nos investimentos e na forma de conduzir os negócios do setor”, questionou.
Nesse
ponto, as reclamações de concessionárias e produtoras de energia são muito parecidas com as do
setor de telecomunicações: ao mesmo tempo em as margens de lucro das companhias são reduzidas, cresce
a demanda e a exigência de qualidade, com a cobrança mais enfática dos órgãos reguladores.
Nesse sentido, as smart grids surgem como alternativa para tornar o negócio mais rentável do ponto de vista
da eficiência operacional e no combate às perdas.
Exemplos práticos
A CEMIG, um
dos mais importantes grupos do segmento de energia do Brasil, aposta em um projeto piloto de smart grid que consiste na instalação
de 8 mil medidores inteligentes em Sete Lagoas (MG). Segundo Denys Cruz de Souza, superintendente de desenvolvimento e engenharia
de distribuição da empresa, o potencial de fraudes na região é muito pequeno, mas a instalação
se justifica pela necessidade de aumentar a eficiência operacional.
“Temos 500 mil km de rede de distribuição,
100 mil em áreas urbanas. Cada defeito que ocorre em uma rede deste tamanho exige longas viagens dos eletricistas para
simplesmente operar uma chave e voltar”, explica Souza. “A tecnologia vai permitir a localização
mais eficiente de falhas. Essa carência razoável em termos de automação precisa ser abordada pelas
smart grids.”
Para o executivo, embora a execução de projetos pilotos no Brasil siga um ritmo
acelerado, pesquisa e desenvolvimento não são suficientes. Ele defendeu a criação de fontes de
financiamento para projetos do tipo e discussões mais amplas com órgãos governamentais.
Parceria
Outro
grande player do setor de energia que trabalha em um projeto piloto de smart grid é a CPFL. A empresa participa de
um grupo de empresas do setor coordenado pela IBM, chamado de Global Intelligent Utility Network Coaltiion. As reuniões
presenciais e as teleconferências trouxeram “muito conhecimento”, segundo o diretor de engenharia da CPFL,
Paulo Ricardo Bombassaro.
A partir destes encontros e de estudos feitos pela empresa foram definidos quatro projetos.
Eles são desenvolvidos por uma equipe de 60 colaboradores dedicados em tempo integral, com ritmo de implantação
acelerado.
O primeiro dos quatro projetos diz respeito a eficiência operacional da CPFL, a partir da localização
de defeitos na rede com recuperação automática. Serão 5 mil reguladores automáticos instalados
até o fim de 2013, segundo Bombassaro. Até o último dia 30 de outubro já eram mais de 3,6 mil.
Outro projeto é o de telemedição: 25 mil clientes de alta e média tensão receberão
smart meters. A localização em tempo real das equipes de campo, que deve entrar em operação a
partir de julho de 2013, é o terceiro projeto. O quarto e último é a instalação de uma
rede de telecomunicações que suporte todos os projetos anteriores, baseada em mesh.
“Temos uma
visão de futuro já esboçada, com vários equipamentos instalados e em operadoração.
Os sistemas estão em andamento. O projeto vai transformar a operação da empresa e trará ganhos
importantes”, afirmou Bonassaro.
Governo
Para contrapor as cobranças feitas por membros
do setor de energia ao governo, participaram dos debates do Fórum um representante da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) e outro do Ministério das Comunicações (MC). Da agência reguladora ouviu-se
o compromisso quanto à formulação de programas de transformação tecnológica em energia
inteligente, mas não exatamente pelas razões que as concessionárias esperavam ouvir.
“Os
consumidores não estão satisfeitos com a qualidade do serviço, e a Aneel também não”,
disse o assessor da superintendência de regulação dos serviços de distribuição da
Agência, Hugo Lamin. “Claro que existem empresas com bons indicadores, mas de forma ampla o Brasil precisa se
debruçar sobre a qualidade.”
O secretário de telecomunicações do MC, Maximiliano
Martinhão, foi mais conciliador: destacou que existe uma grande oportunidade de sinergia entre o setor de telecomunicações
e o de energia. A ideia é aproveitar a implantação do smart grid para expandir o Programa Nacional de
Banda Larga (PNBL), que visa democratizar o acesso a conexões de dados no País. A recíproca também
é verdadeira.
“Redes inteligentes sem telecomunicações são inviáveis”,
disse o secretário. “É necessário estabelecer canais de comunicação entre unidades
consumidoras e a rede para que todas as potencialidades possam acontecer.”
Informação de: Procel Info
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