Brasil e Estados Unidos começam a compartilhar dados genéticos animais
Publicado em 15/04/2016
Bancos de dados brasileiros e norte-americanos de recursos genéticos animais começaram a ser partilhados
por meio de uma base única. Trata-se do primeiro sistema internacional para armazenamento de informações
genéticas, produtivas e de árvore genealógica. Chamado no Brasil de Alelo Animal, ele proporcionará
acesso ágil e padronizado aos bancos de germoplasma e às informações genômicas animais dos
dois países.
A ferramenta é fruto de quase uma década de esforços conjuntos de pesquisadores e programadores
da Embrapa e do Serviço de Pesquisa Agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (
USDA-ARS) e já despertou interesse de países como México, Uruguai, Argentina e Filipinas
bem como de periódicos científicos internacionais interessados em padronizar dados-fonte citados nos artigos
científicos.
"Grande parte das pesquisas básicas e aplicadas relacionadas ao agronegócio dependem da existência
de diversidade genética entre-dentro espécies. Por isso, a importância de acesso a grandes acervos é
fundamental à ciência", afirma Samuel Rezende Paiva, pesquisador do Programa Embrapa Labex Estados Unidos, que
há três anos atua junto ao Centro Nacional para Preservação de Recursos Genéticos (NCGRP)
do USDA-ARS, na cidade de Fort Collins, Estado do Colorado. O especialista, um dos coordenadores do sistema, acredita que
um dos maiores frutos dessa ferramenta, a médio-longo prazo, será a intensificação do intercâmbio
de germoplasma entre Brasil e Estados Unidos.
Os parceiros norte-americanos partilham do entusiasmo de Paiva. "Conquistamos uma grande parceria. Talvez seja a primeira
vez que dois países desenvolvem um sistema de dados abrangente para atender demandas por informações
sobre recursos genéticos animais", declara o geneticista Harvey Blackburn, pesquisador do NCGRP. Nos Estados Unidos,
o Alelo Animal é chamado de Animal-GRIN, sigla em inglês para Rede de Informações de Recursos Genéticos.
O Alelo Animal permite que qualquer pessoa acesse dados sobre materiais genéticos animais (sêmen, embriões,
DNA) armazenados nos bancos de germoplasma do Brasil e dos Estados Unidos. Caso exista interesse em utilizar o material encontrado
para fins de pesquisa, comerciais ou outros, o interessado deve preencher formulário que será analisado por
um comitê gestor, o qual poderá cedê-lo, rejeitá-lo ou disponibilizá-lo sob determinadas
condições. O sistema trabalha com diferentes níveis de usuários com restrições próprias
para cada um deles e pode armazenar até mesmo informações sensíveis que serão divulgadas
somente quando o responsável permitir. Os dados norte-americanos já estão na rede e os especialistas
brasileiros devem terminar de inserir as informações do País nos próximos meses.
"Com o lançamento do sistema, o processo não terminou, pelo contrário, agora estamos em posição
de conhecer mais os recursos genéticos mútuos e também nosso próprio," afirma Blackburn. "Juntos,
[Brasil e Estados Unidos] possuímos muitas áreas de interesse comum, como, por exemplo, mudanças climáticas,
e o Alelo Animal pode ser uma ferramenta que facilitará as atividades de pesquisa nesses pontos", conclui.
O coordenador de Cooperação Cientifica da Secretaria de Relações Internacionais (
SRI) da Embrapa, Alexandre Morais do Amaral, é outro entusiasta dessa parceria. "Esse é
mais um ótimo exemplo dos resultados do
Programa
Embrapa Labex: o estreitamento de relações bilaterais com benefícios mútuos, com impacto na
solução de problemas da agricultura brasileira. Não só nos beneficiamos da expertise de nossos
parceiros como também fomos fundamentais nesse trabalho", frisa o coordenador.
Armazém de dados genômicos
Outra grande aplicação do Alelo será fornecer espaço para armazenamento de informações
geradas em pesquisas genéticas. "Hoje em dia, um trabalho com marcadores moleculares em bovinos, por exemplo, pode
facilmente usar 800 mil deles em cada animal analisado", conta Paiva. Esse volume gigantesco de informação não
é aproveitado em sua totalidade e muitos cientistas têm dificuldade em encontrar espaço para guardar todos
os resultados. O sistema terá um módulo específico de genômica que oferecerá espaço
para armazenamento e poderá ser partilhado pela comunidade científica. O USDA-ARS já está incentivando
a utilização desse serviço: os projetos financiados por uma de suas agências prevê que parte
dos recursos sejam destinados ao centro de Fort Collins a fim de que os dados gerados sejam lá armazenados por meio
do Alelo Animal.
"Ao estabelecer um padrão para acesso e armazenamento de dados genéticos, o Alelo Animal é um potencial
candidato a servir de modelo para uma base compartilhada mundialmente", acredita Paiva. O sistema já chamou atenção
de publicações científicas que exigem dos autores a disponibilização pública dos
dados científicos que embasaram a pesquisa. "Além disso, muitas vezes os dados são publicados, mas são
de difícil interpretação por estarem incompletos ou mal organizados. A adoção de um padrão
como o do Alelo poderia eliminar esse problema", analisa o pesquisador da Embrapa.
Os cientistas envolvidos no desenvolvimento do sistema também apostam na sua ampliação com a adesão
de outros países. Canadá, Uruguai, Argentina e México já manifestaram interesse. "A tendência
é que, após utilizarem o sistema, os países também queiram participar dele inserindo suas próprias
bases", conclui Samuel Paiva, prevendo que o próximo passo poderá ser a consolidação de um sistema
único de dados genéticos do continente americano.
Manual do usuário
Para apresentar o Alelo Animal aos potenciais usuários, a Embrapa e o USDA-ARS lançarão a primeira
publicação conjunta assinada pelas duas instituições: um manual em versão digital do sistema
com versões em inglês e português. A edição em língua inglesa estará disponível
até o fim deste mês, e os organizadores esperam que o texto em português esteja no ar nos próximos
seis meses. Ambos poderão ser acessados gratuitamente na internet.
Rota Estratégica da Biotecnologia Aplicada à Indústria Animal
A Referência em genética e melhoramento animal é uma das visões de
futuro presentes no Roadmapping de
Biotecnologia Aplicada à Indústria Animal. Iniciativas como o compartilhamento de dados genéticos
animais atendem as ações presentes nos fatores críticos: “P&D, Tecnologia e Inovação”
e “Infra-estrutura”, apontados por especialistas nesta visão de futuro.
O grupo de trabalho Formação de Banco de Dados para Melhoramento Genético discute ações
relacionadas ao tema. Os encontros acontecem bimestralmente na Fiep – Campus da Indústria e são
embasados na metodologia de prospectiva estratégica que preconiza a construção coletiva
do futuro desejado.
Desta forma, é essencial que para o sucesso dos trabalhos os diversos segmentos da sociedade (academia,
indústria, associações de classe, governo, etc.) estejam envolvidos para garantir que todos
os interesses sejam abarcados nos resultados.
Pesquisadores, empresas e instituições interessadas em colaborar neste processo de
articulação podem entrar em contato com a equipe através do e-mail: observatorios.rota.biotecanimal@fiepr.org.br ou
com Bruna Remonato Franco - Telefone: 41 3271-7452
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