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Publicado em 28/06/2018
Drones que mapeiam lavouras, aplicativos que monitoram clima e condições do solo, máquinas com sistemas de precisão que registram a colocação de sementes e insumos no campo. Toda essa tecnologia à disposição do agricultor tem servido para gerar uma grande quantidade de dados, que pode ser transformada em soluções para aumentar a produtividade.
Mas, para que essas informações sejam convertidas em conhecimento aplicável, é preciso criar formas de cruzá-las, integrá-las e analisá-las com eficiência. Esse é o principal desafio da tecnologia voltada para a produção agropecuária, na avaliação da chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Maria Massruhá.
"Temos que saber trabalhar com os vários tipos de dados. Nosso maior desafio é integrar as tecnologias convergentes para oferecer serviços e agregar valor", disse a pesquisadora, que proferiu a palestra inaugural da Digital Agro, feira de tecnologia organizada pela Frísia Cooperativa Agroindustrial, com apoio da Fundação ABC, em Carambeí, a cerca de 140 quilômetros de Curitiba (PR).
Silvia destacou que, ao longo das últimas décadas, a agropecuária passou por um significativo processo de evolução. A primeira fase foi a chamada Revolução Verde, a partir da década de 1950. Depois veio a onda dos sistemas integrados de produção, entre eles a integração-lavoura-pecuária. Agora o setor vive a fase da chamada agricultura de base biológica.
A isso, vem sendo agregada uma nova variável, baseada na gestão dos dados gerados pelos sistemas produtivos. É o que vem sendo chamado de agricultura 4.0, com fazendas conectadas e baseadas em conteúdo digital. A tecnologia da informação, que torna isso possível, também passa por uma evolução, desde o desenvolvimento da internet comercial, sua migração para dispositivos móveis - como celulares e tablets - e, em uma nova fase, com a chamada internet das coisas.
Sistemas de processamento com alto desempenho, big data (grandes volumes de dados) e os meios de analisar as informações são ferramentas que ajudam a gerar conhecimento. Na pré-produção, durante o desenvolvimento da cultura e na pós-produção. O desenvolvimento de soluções digitais para o campo envolve multinacionais, startups, além do meio acadêmico e instituições públicas e privadas de pesquisa, diz Silvia.
"É importante trabalhar cada vez mais integrado. Além da parceria público-público, temos que nos preocupar com parcerias público-privadas para desenvolver novas práticas sustentáveis de manejo e uma agricultura baseada em conteúdo digital", afirmou, durante a palestra em que, curiosamente, as perguntas da plateia eram formuladas via aplicativo e, posteriormente, transcritas para a palestrante.
Silvia Maria lembrou ainda que a inserção cada vez maior do mundo digital na agropecuária demandará também qualificação. Segundo a chefe geral da Embrapa Informática Agropecuária, unidade sediada no campus da Unicamp, em Campinas (SP), será necessário um profissional cada vez mais apto a lidar com as novas tecnologias.
"Hoje já existem profissionais que conseguem dirigir essas colheitadeiras automáticas. Já é um novo tipo de profissional. Mas, mais do que isso, vamos precisar, por exemplo, de cientistas de dados junto às cooperativas, produtores, que vão conseguir analisar esses dados", disse.
A Digital Agro chega neste ano à sua segunda edição. Enfatiza temas como robótica, automação, nanotecnologia e internet das coisas, discutindo sua aplicação na agropecuária. O evento integra exposição de novidades e uma agenda de palestras e debates sobre o que ainda se chama de agricultura do futuro, mas cuja realidade está cada vez mais próxima do produtor.
Segundo os organizadores, a ideia de realizar a feira no próprio parque de exposições da Frísia foi a de trazer algo já feito em grandes centros para um ambiente mais próximo do agricultor. Eles garantem que, embora possa acontecer durante os dois dias de evento, a geração de negócios não é o principal objetivo na Digital Agro.
A intenção é, de um lado, mostrar ao visitante o que está sendo desenvolvido de tecnologia e a possibilidade de integrá-la à gestão da produção. De outro, colocando empresas lado a lado, estimular o ambiente competitivo no setor tecnológico, favorecendo a inovação. A geração de negócios e a agregação de valor seriam, assim, consequências naturais.
Nos estandes dos expositores, a promessa é de soluções que abrangem desde o gerenciamento do crédito rural, passando por softwares de gestão operacional, monitoramento de lavouras e do bem-estar animal, além de sistemas de telemetria para maquinário.
"Vamos mostrar a agricultura do futuro. Precisamos nos antecipar e nos preparar para esse futuro que está aqui do nosso lado. A automação vem com muita força", lembrou, na cerimônia de abertura, o presidente da Frísia, Renato Greidanus, pontuando que as cooperativas devem encontrar formas de se manter competitivas e gerar renda com essa onda tecnológica.
Ele ressaltou, por outro lado, que, enquanto a tecnologia avança no meio rural, o Brasil não acompanha o ritmo de desenvolvimento de outros países. Ele atribuiu a situação a fatores como limitações de infraestrutura, um estado que chamou de 'pesado' e a uma 'legislação trabalhista extremamente atrasada'. E lembrou dos prejuízos causados pela recente greve dos caminhoneiros.
"Estamos caminhando para uma coisa tão tecnológica e inovadora e nos deparamos com uma greve que mostra como o Brasil está limitado em infraestrutura. O mundo caminha a passos largos buscando ser mais eficiente e ficamos, muitas vezes, parados no meio do caminho. É algo que assusta."
Gerente técnico de pesquisa da Fundação ABC, Luís Henrique Penckowski, destacou que as ferramentas de agricultura digital e a informação de qualidade servem para ajudar a tomar decisões. Ponderou, no entanto, que a maior aplicação da tecnologia não pode afastar o produtor da lavoura.
"A botina suja ainda é importante. Temos que pensar na tecnologia, mas não esquecer que sujar a botina, ir para o campo, faz toda a diferença", disse ele, também na cerimônia de abertura da feira.
*O jornalista viajou a convite da Frísia Cooperativa Agroindustrial
Fonte: Globo Rural
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