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Sociedade dos touros angus

Publicado em 01/10/2018

A frase em latim, "carpe diem" do poeta romano Horácio que viveu no início do século um, pode ser traduzida como "colha o dia". Pode parecer o contrário, mas colheita tem tudo a ver com pecuária. "É o que nós queremos para o mercado da carne bovina", diz o advogado e pecuarista Bruno Grubisich, sócio da Verdana Agropecuária. Na noite de 18 de julho, em um leilão transmitido pelo Canal Rural, Grubisich acompanhava de perto as vendas da primeira edição do leilão Angus Provado CRA. A sigla significa Centro de Referência Angus, localizado em Itatinga (SP), um projeto de avaliação genética da raça de origem britânica, iniciado no ano passado. Foram vendidos 59 touros pela média de R$ 12,1 mil, valor equivalente a 85 arrobas de boi gordo no mercado paulista. Em função da qualidade, o mercado de touros é elástico. Mas, os produtores consideram como aceitáveis cotações entre 40 arrobas e 90 arrobas para animais com algum tipo de melhoramento genético. Acima disso, somente para animais diferenciados, destinados a servir rebanhos de alto valor genético ou a centrais de inseminação. Como ocorreu com o preço máximo do pregão, que saiu por R$ 60 mil, valor equivalente a 422 arrobas de boi gordo.
O animal mais valorizado foi comprado pelo pecuarista Alfredo Zamlutti, com fazendas em Mato Grosso do Sul, na região do Pantanal. E mais: o touro não era da criação de Grubisich. Isso porque a ideia do CRA tem como base testar a genética de vários rebanhos da raça britânica. A busca é por um tipo que se adapte às condições de ambiente no País, em regiões de clima mais quente que o Sul. Não por acaso, os nove sócios de Grubisich, para fazer do CRA uma realidade, até agora, são todos donos de rebanhos dessa região. Entre eles estão nomes tradicionais da pecuária gaúcha, como a Companhia Azul, a cabanha da Corticeira, a Rincon del Sarandy, criadores de angus que têm suas famílias na origem da introdução da raça no País, no século passado.

Para testar os animais, Grubisich montou uma estrutura avaliada em R$ 500 mil, entre equipamentos para medir a eficiência genética dos animais, mais o trabalho de cientistas e de técnicos. A ideia com os testes, que neste ano seguem para uma segunda bateria de animais, é encontrar os melhores touros nacionais que se adaptem ao cruzamento industrial com vacas da raça nelore. No caso, os touros vendidos no leilão foram avaliados em 25 características, entre elas a eficiência em converter pasto em carne, qualidade do sêmen, aprumos e conformação corporal. A base científica do projeto ficou com o geneticista José Bento Sterman Ferraz, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, um dos maiores especialistas do País em cruzamento industrial e qualidade de carne. Para o coordenador da prova no CRA, o médico veterinário Breno Barros, consultor e mestre em reprodução animal, o trabalho de avaliação dos animais angus pode dar mais opções de genética para o produtor de bezerro comercial. "Hoje, das cerca de quatro milhões de doses de sêmen da raça angus vendidas no Brasil, 90% são importadas", afirma Barros. "Mas o País tem genética da raça para competir nesse mercado."

Para facilitar a escolha dos animais avaliados no CRA e vendidos no remate, foram criados quatro índices para as 25 características avaliadas. Grubisich diz que o trabalho em conjunto foi fundamental na ideia de facilitar leituras complexas do trabalho de seleção. "Traduzir e entender com facilidade ajuda o produtor no momento da escolha da genética", diz ele. "Isso era uma ideia muito clara para nós, desde o início do projeto." Entre os índices estão a rusticidade, para animais com maior resistência a carrapato, por exemplo. O índice para a carcaça, que entre outras qualidades aponta os animais que transmitem aos seus descendentes o marmoreio, a gordura presente entre as fibras da carne. Também consta as qualidades desejáveis para o confinamento, por exemplo, a capacidade para ganho de peso. E o quarto, o índice bezerro, que mede a eficiência na cria. "O plano é seguir em frente, aperfeiçoando cada vez mais as avaliações", afirma Grubisich. "E reunir mais criadores da raça." A capacidade do CRA é para alojar até 700 animais, em três rodadas anuais de avaliação. O próximo passo será a criação de um sumário de touros exclusivos para cruzamento industrial. A promessa da primeira edição da obra é para 2020.

Leite mais sustentável

Criadores de girolando começam a usar a genômica para melhorar o rebanho da raça

Em agosto, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando realizou uma ação inédita no País. Pela primeira vez, uma raça leiteira nacional usará dados genômicos para a escolha de animais destinados ao seu programa de melhoramento genético. Com essa peneira, apenas os superiores serão aceitos pela entidade para entrarem no Centro de Performance Girolando, instalado no campus do Instituto Federal do Triângulo Mineiro), em Uberaba/MG. O centro tem capacidade para 100 animais, que passarão por avaliações reprodutivas, de conformação e de temperamento.

O resultado do teste será divulgado em maio de 2019. Esse grupo, que passa por duas peneiras, terá suas progênies avaliadas, com dados incorporados ao sumário de touros da raça. "A genômica está permitindo reduzir, consideravelmente, o tempo e o custo da avaliação do animal, em comparação às ferramentas tradicionais", diz Marcello Cembranelli, coordenador Operacional do Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG). O tempo de avaliação encurta porque somente seguem para a prova os animais que tenham genes positivos para a produção leiteira. Atualmente, o programa da raça conta atualmente com 127 touros avaliados, com parte deles em centrais de inseminação. No ano passado, a produção de sêmen da raça foi de 579,4 mil doses, 8% acima do ano anterior.

Fonte: Dinheiro Rural

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