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Publicado em 17/09/2018
A produção de suínos no Brasil teve uma evolução enorme nas últimas décadas em produtividade e aumento da escala produtiva, tanto por unidade produtiva como em determinadas regiões. Consequentemente, os cuidados com saúde animal tornaram-se fundamentais para manter a produção e atender demandas de mercado interno e externo. A biosseguridade externa e interna é o pilar mais importante numa cadeia produtiva para manter a saúde dos animais e mitigar riscos de contaminação e disseminação de agentes infecciosos, fundamental para a obtenção de alimento seguro para os humanos. Aliado a isto, há uma tendência mundial para que o setor produtivo reduza o uso de antimicrobianos no controle de doenças, e isto já está se tornando barreira não tarifária a exportação.
As medidas de biosseguridade para mitigar riscos de contaminação de rebanhos e disseminação de patógenos, basicamente, dependem do conhecimento da sobrevivência dos agentes infecciosos fora do hospedeiro, da existência de portadores, dos mecanismos de disseminação dos agentes, da movimentação de suínos entre diferentes rebanhos e de como cada granja está conectada com os diferentes elos da cadeia produtiva. Qualquer vetor (humanos, roedores, insetos e outros animais, equipamentos, alimento, água, granjas vizinhas, sistema de dejetos, veículos, roupas, calçados entre outros) que porta matéria orgânica de suínos é potencial transmissor de patógenos.
A introdução de uma doença exótica importante num país traz consequências devastadoras que podem ser expressas em crises: a) crise em pequena escala relacionada à doença nas granjas infectadas; b) crise relacionada ao bem estar (stamping?out) e as restrições de movimento animal (fechamento de fronteiras) e; c) crise financeira em grande escala devido à perda do acesso ao mercado exportador com queda da produção animal e do valor do rebanho do país. Por esta razão, a preocupação número um de qualquer país ou região que tenha expressão na produção e exportação de suínos, é manter o foco principal em biosseguridade externa e evitar a entrada e disseminação de uma enfermidade exótica.
Na suinocultura brasileira, apenas as granjas de suínos que produzem, vendem ou distribuem material genético possuem normativa oficial, na qual constam critérios específicos de biosseguridade a serem seguidos, além de monitoramento de doenças específicas (IN 19 de 2002 - Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas - GRSC). Para as granjas de suínos que produzem animais destinados à terminação ou abate, não há nenhuma norma oficial de biosseguridade a ser seguida. Desta forma, os cuidados com biosseguridade desses rebanhos dependem, exclusivamente, das empresas integradoras e dos proprietários das granjas. Atenta a esta situação, a Embrapa Suínos e Aves elaborou um trabalho abordando aspectos relevantes de biosseguridade externa para as granjas que produzem suínos para abate com objetivo de subsidiar uma regulamentação oficial e servir como suporte para empresas e produtores interessados em melhorar a proteção sanitária de seus plantéis. Medidas de biosseguridade interna, fundamentais para reduzir a pressão infectiva nos rebanhos e uso prudente de antimicrobianos, não são abordadas neste artigo.
Informações técnicas de biosseguridade relevantes na suinocultura
A introdução de patógenos em rebanhos suínos continua sendo um evento comum. O suíno sadio, porém infectado, é o maior risco de contaminação das unidades produtivas (UPs) por patógenos, pois fora do hospedeiro, as condições ambientais geralmente comprometem sua sobrevivência. Também, o sêmen, se oriundo de central de inseminação contaminada, pode veicular muitos agentes patogênicos e infectar rebanhos onde é utilizado, em um curto espaço de tempo. Outra forma muito eficiente de disseminação de agentes patogênicos entre os rebanhos suínos, comum nos modelos de integração no Brasil, principalmente relacionado com a disseminação de cepas novas de doenças epidêmicas, é o movimento e mistura de leitões de diferentes origens em crechários e terminadores.
Muitas das medidas de biosseguridade dependem do conhecimento sobre a sobrevivência dos agentes patogênicos de interesse nas condições ambientais da região (principalmente temperatura e umidade) onde estão localizadas as granjas. Infelizmente não temos informações científicas de sobrevivência de agentes nas condições ambientais em diferentes regiões brasileiras. Além disto, muitos procedimentos de biosseguridade não foram testados cientificamente quanto a sua importância e eficiência.
Por exemplo, o Mycoplasma hyopneumoniae pode sobreviver fora do hospedeiro por oito dias a temperatura de 8ºC, porém a 25ºC ou 37ºC sobrevive por no máximo dois dias. A sobrevivência dos agentes fora do hospedeiro está na dependência do grau de contaminação inicial, da presença de matéria orgânica e das condições ambientais, principalmente ressecamento e luz solar. Como regra geral, temperatura quente, ressecamento e luz solar inativam patógenos e umidade, ausência de luz e frio (principalmente congelamento) preserva-os.
Pessoas podem atuar como vetores mecânicos de diversos agentes quando se movem de um rebanho para outro, principalmente se não cumprirem protocolos de biosseguridade como troca de roupa, calçados e ducha ou lavagem e desinfeção das mãos. Segundo alguns autores, o vazio sanitário de 24 a 48 horas para pessoas é baseado em pouca documentação científica. Segundo eles o vazio sanitário acima de 12 horas é desnecessário, se a pessoa toma banho e troca de roupa e calçado, antes de entrar na UP. Infelizmente, o banho é visto por alguns produtores e colaboradores como ?um incomodo. O banho, em substituição a um vazio sanitário menor de um dia é muito eficiente em mitigar o papel de humanos como vetor mecânico de patógenos para suínos.
A mosca, inseto mais prevalente nas criações brasileiras de suínos, além de vetor mecânico, pode atuar como portadora e estar envolvida na transmissão de vários agentes infecciosos importantes para o suíno. Sabe-se que a mosca pode se deslocar por mais de 3 km em busca de alimento. Isto significa que pode exercer papel importante como vetor de agentes patogênicos entre rebanhos quando localizados próximos uns dos outros, o que é muito comum em varias regiões do Brasil. O papel de ratos e camundongos na transmissibilidade de vários patógenos para o suíno também é bem conhecido. Infelizmente, produtores economizam, fazendo eles mesmos o combate a insetos e roedores ao invés de contratar um profissional para fazê-lo, e nesses casos, geralmente os resultados não são bons.
Todos os veículos de transporte ou visitantes são riscos potenciais para a introdução de patógenos num rebanho. Esta é uma das razões pela qual a UP deve possuir uma barreira física (cerca de isolamento) para impedir que veículos e outros vetores (pessoas, animais domésticos e selvagens) entrem em contato com os suínos do rebanho. Já o papel de pássaros como transmissores de patógenos para suínos não tem sido demonstrado com sucesso. Todavia, temos que pensar na possibilidade das aves participarem como vetores mecânicos, principalmente as domésticas.
O alimento, tanto a água como a ração, por serem veículos importantes para introdução de agentes infecciosos em rebanhos, merecem todo cuidado, principalmente quanto a sua origem e com possíveis contaminações durante a fabricação/captação, estoque e utilização.
Em 2016 a Embrapa Suínos e Aves realizou uma enquete epidemiológica em produtores de suínos dos três Estados das regiões Sul e do Mato Grosso do Sul, com objetivo de obter informações a respeito de itens importantes relacionados à biosseguridade externa das UPs de suínos. Dos 126 produtores que responderam ao questionário, 52,4% não possuem cerca de isolamento, 51,6% não possuem escritório/vestiário em local adequado para troca de roupa e calçado, 44,4% não possuem embarcadouro/desembarcadouro permitindo que veículos se aproximem das instalações para embarcar/desembarcar suínos e 48,4% das granjas os veículos que transportam alimento entram na UP sem restrições para descarregar os insumos. Estas foram as falhas de biosseguridade mais importantes verificadas entre os produtores de suínos para abate.
Sugestão da Embrapa Suínos e Aves de biosseguridade mínima para granjas que produzem suínos para abate
Em 2017 a Embrapa Suínos e Aves elaborou um documento destinado a servir de subsídio para regulamentação oficial de itens relevantes de biosseguridade para granjas que produzem ou distribuem suínos destinados ao abate (unidades em ciclo completo, unidades produtoras de leitões desmamados ou descrechados, crechários e/ou terminadores). Tal publicação foi revisada por um painel técnico composto por 18 especialistas no tema incluindo pesquisadores, professores universitários, associações estaduais de produtores de suínos, agroindústrias e cooperativas de produção de suínos, defesa sanitária estadual, programa nacional de sanidade suína do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para a versão final do documento buscou-se um equilíbrio entre as opiniões desses especialistas (https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/publicacoes - Documentos 185). Na proposta foram consideradas duas situações: granjas novas e granjas já instaladas, em função de alguns itens de biosseguridade que envolvem estruturas físicas já construídas. Os itens elencados no documento são, em nossa opinião, os mais relevantes que devem ser atendidos para mitigação de riscos de introdução e disseminação de agentes infecciosos causadores de doenças.
Resumidamente, as medidas mínimas de biosseguridade recomendadas foram:
1. Cerca de isolamento. A UP deve possuir cerca de isolamento de tela malha de 6,0 cm ou menos, com altura mínima de 1,5 metros, colocada sob uma base sólida (mureta) de no mínimo 10 cm de altura distante pelo menos 5,0 metros das instalações.
1.1. A cerca deve ter portão único para entrada de veículos apenas para entrega de materiais/equipamentos, porém este deve permanecer permanentemente fechado com cadeado. Nestes casos, a Granja deve dispor de um sistema de desinfeção de veículos e os mesmos devem ser desinfetados antes de entrarem no perímetro interno da cerca.
1.2. Em UP já construída, nas quais não é possível estabelecer essa distância entre a cerca e as instalações, ela deve ser feita mesmo que a distância seja inferior a 5,0 metros das instalações de suínos.
2. Escritório. A granja deve dispor de um escritório localizado junto à cerca de isolamento, com área suja voltada para a parte externa da cerca de isolamento e área limpa voltada para o interior da UP.
2.1. A área suja deve ser separada da área limpa por uma barreira física de pelo menos 80 cm de altura, de tal forma que o único acesso à área limpa e à UP seja pelo vestiário.
2.2. Nas granjas já instaladas, o escritório pode estar localizado no lado externo da UP, próximo à cerca de isolamento. Em suinocultores familiares é comum o escritório, vestiário e banheiro estar localizado junto à casa do produtor.
2.3. As granjas de terminação ou crechários que utilizam o sistema todos dentro todos fora podem ter a documentação do lote junto à instalação dos animais, porém nestes casos, pessoas não podem ter acesso a mesmo, sem antes passar pelo vestiário para troca de roupa e calçado.
3. Vestiário. O vestiário é o local destinado para troca de roupa e calçado de funcionários, proprietários, técnicos ou visitantes que irão entrar na UP. Deve estar localizado junto à cerca de isolamento, anexo ou não ao escritório. Caso esteja localizado anexo ao escritório, deve estar separado por parede compacta, porém seu acesso pode ser realizado por porta localizada entre o escritório e vestiário. O vestiário deve dispor de área suja e área limpa, separadas por barreira física (chuveiro para ducha ou porta de acesso ao interior da UP).
3.1. A área suja deve ter local (armário ou cabides) para colocação da roupa e calçados pertencentes às pessoas que irão adentrar na UP.
3.2. A área limpa do vestiário deve ter local (armário ou cabides) para guardar roupas e calçados de uso exclusivo da UP.
3.3. Granjas já instaladas podem ter o vestiário anexo ou não ao escritório, localizado no lado externo, próximo à cerca de isolamento, frequente em produtores familiares.
3.4. Máquinas fotográficas, celulares ou outros equipamentos como tablet, detector de prenhes e equipamento de vacinação não podem ser levados à UP sem antes passarem por um procedimento de desinfecção da superfície externa (álcool 70% ou mais).
4. Banheiro. A granja deve dispor de um banheiro com lavatório e vaso sanitário no interior da cerca de isolamento de uso exclusivo para pessoas que estão trabalhando ou visitando a UP.
4.1. Se o banheiro estiver localizado fora da cerca de isolamento junto à casa do produtor, em caso de necessidade, as pessoas que estão no interior da UP podem sair, porém respeitando a troca de roupa e calçado de uso interno e externo da UP.
5. Refeitório. Granjas que possuem refeitório junto à cerca de isolamento, este não pode ter acesso pelo lado externo. A comida ou insumos para alimentação deverão ser entregues por passagem tipo janela.
6. Lavanderia. Granja que dispõe de lavanderia no interior da cerca de isolamento, só pode lavar roupas utilizadas na UP. Em granjas familiares, a roupa de uso na UP pode ser lavada na casa do proprietário ou funcionário.
7. Visitas à UP. Qualquer pessoa que necessita fazer uma visita à UP, a trabalho ou não, deve estar em vazio sanitário (sem contato com suínos de outra UP, abatedouro ou laboratório que trabalha com agentes infecciosos) por no mínimo 24 horas.
7.1. Visitante estrangeiro ou brasileiro em retorno de viagem internacional, independente de ter ou não visitado uma UP, abatedouro ou laboratório com agentes infecciosos, devem estar em vazio sanitário por pelo menos 72 horas.
7.2. Técnicos autônomos ou de empresa integradora (técnicos de assistência e vacinadores) que assistem apenas granjas da mesma integração, podem visitar mais de uma UP por dia desde que estas utilizem suínos de reposição dos mesmos fornecedores, obedecendo a uma sequência de visitas relacionadas ao status sanitário de cada UP, porém obrigatoriamente devem seguir os procedimentos de troca de roupa e calçado e lavagem das mãos com produto germicida na entrada à UP.
7.3. O ingresso à UP de funcionários ou qualquer pessoa (proprietário, técnico ou visitante), obrigatoriamente deve ser pelo vestiário, com troca de roupa e calçado de uso exclusivo da UP e lavagem das mãos com detergente/sabão ou produto germicida.
7.4. Opcionalmente, técnicos de empresas integradoras podem usar roupa e botas descartáveis e lavar as mãos com produto germicida antes de adentrar à UP.
7.5. Equipes externas de vacinadores (contra doenças ou imunocastração), em função do seu trabalho dentro das baias com os suínos, devem utilizar roupa e calçado não descartável de uso exclusivo da UP.
7.6. A granja deve documentar as visitas, mantendo um caderno de registro com informações de data, identificação da pessoa, objetivo da visita e identificação da última visita por ele feita em outra UP, abatedouro ou laboratório que trabalha com agentes infecciosos.
8. Embarcadouro/desembarcadouro de suínos. Deve estar localizado junto à cerca de isolamento.
8.1. Granjas de terminação ou crechário, que produzem suínos no sistema todos dentro todos fora, que povoam e retiram todos os suínos no mesmo dia, poderão ter o embarcadouro/desembarcadouro localizado na parte interna da cerca de isolamento, junto ao galpão dos animais.
9. Armazenamento de ração e insumos
9.1. Granja que produz ração na propriedade ou adquire ração ensacada a fábrica de ração ou estocagem de insumos deve estar localizada junto ou fora da cerca de isolamento da UP.
9.2. Os veículos utilizados para transporte de ração ou insumos, não podem transportar animais vivos ou mortos ou outro material biológico.
9.3. Os veículos que trazem insumos ou ração ensacada devem abastecer a fábrica/depósito pelo lado de fora da cerca de isolamento.
9.4. A ração produzida na fábrica ou comprada ensacada deve ser removida para os galpões dos animais pela parte interna da UP.
9.5. Granja que adquire ração a granel, os silos de armazenamento devem estar localizados próximos à cerca de isolamento, porém do lado interno. O abastecimento de ração pelo caminhão graneleiro deve ser feito pelo lado de fora da cerca.
9.6. Em granja já construída, a fábrica de ração ou os silos de armazenagem de ração adquirida pronta podem localizar-se no interior da cerca de isolamento. Neste caso, a granja deve dispor de sistema de desinfecção para os veículos que irão descarregar ração ou insumo. Porém, sempre que possível, a primeira opção é deslocar a cerca de isolamento para que estas estruturas não fiquem no interior da UP.
10. Câmara de compostagem ou outro sistema de processamento de suínos mortos. Esta instalação deve estar localizada junto à cerca de isolamento ou fora dela.
10.1. Se localizada na cerca de isolamento com acesso pelo lado interno deve ser abastecida por funcionário da UP pelo lado interno e a retirada do composto por outro funcionário pelo lado externo da cerca de isolamento.
10.2. Se localizado fora da cerca de isolamento, os animais mortos ou resíduos de parto devem ser deslocados até a cerca de isolamento por um veículo ou carrinho de uso interno da UP e o restante do transporte, desta cerca até o local de destino, por outro veículo ou carrinho de uso externo da UP e por pessoa que não trabalha na UP ou por funcionário no final do expediente.
11. Depósito de animais mortos e remoção por empresa processadora. Caso este procedimento seja legalizado, o produtor deverá seguir legislação específica.
12. Outras construções. Necessitam ser abastecida com veículo externo, como depósito de maravalha e de materiais diversos, também devem estar localizadas junto à cerca de isolamento, de forma que o abastecimento seja feito pelo lado de fora e o material retirado pelo lado de dentro da cerca.
12.1. Em granja já construída, tais instalações podem estar no interior da cerca de isolamento, porém os veículos que entrarem na UP para descarregamento deverão antes passar por um processo de desinfecção.
13. Esterqueiras/depósito/tratamento de dejetos. Este local deve estar localizado fora da cerca de isolamento, para que os veículos que transportam dejetos não entrem e transitem pelo interior da UP. Estas instalações devem ser cercadas para evitar o acesso de pessoas e animais.
13.1. Em granja já construída, estas estruturas podem estar no interior da cerca de isolamento, porém os veículos que entrarem na UP para retirada dos dejetos devem antes passar por um processo de desinfecção.
14. Controle de roedores e insetos (moscas e mosquitos). A granja deve utilizar procedimentos efetivos de combate a roedores e insetos em todas as instalações e documentar os procedimentos realizados.
14.1. O controle de roedores deve ser feito com o uso de raticida e eliminação de locais de procriação, mantendo os arredores das instalações limpos (grama cortada) e livre de entulhos. O uso de raticidas deve ser feito em porta-iscas numeradas e com localização estratégica nas instalações da granja.
14.2. O controle de insetos deve ser realizado pela eliminação de criatórios e uso de inseticida, considerando o ciclo evolutivo do inseto.
15. Água de beber aos animais. Os reservatórios de água da UP devem estar protegidos e fechados para impedir o acesso de insetos, roedores e outros animais.
15.1. A UP que utiliza o sistema contínuo de produção deve fazer exame microbiológico para coliformes fecais e limpar de desinfetar os reservatórios a cada 12 meses.
15.2. A UP que utiliza produção em lotes no sistema todos dentro todos fora, deve lavar e desinfetar os reservatórios a cada vazio sanitário, antes do alojamento do próximo lote.
15.3. UP que utiliza água superficial (córregos, fontes ou poços superficiais ou de captação da chuva) deve realizar sua desinfecção por cloração.
15.4. UP que usa água de poço profundo, sua cloração somente é necessária se no exame para coliformes fecais, indicar contaminação.
15.5. A água clorada deve apresentar entre 1?3 ppm de cloro na saída do bebedouro.
15.6. A granja deverá documentar estes procedimentos.
16. Guarda de registros e documentos. Todos os registros e documentos deverão ser mantidos arquivados na granja pelo período mínimo de três anos, a disposição do Serviço de Defesa Sanitária Oficial.
Introdução de suínos no rebanho e mistura de leitões de diferentes origens
Sabe-se que o suíno vivo é o principal responsável pela disseminação de agentes infecciosos entre rebanhos, pois fora do hospedeiro, as condições ambientais geralmente comprometem a sobrevivência dos patógenos. Neste aspecto, tanto a introdução de suínos de reposição em rebanhos como a mistura de leitões de diferentes origens num mesmo galpão, são os fatores mais importantes em biosseguridade a serem considerados. A aquisição de animais de reposição apenas de granjas GRSC garante a saúde dos animais para aqueles agentes de controle oficial. Todavia, muitos outros patógenos associados à ocorrência de doenças multifatoriais (Micoplasma hyopneumoniae, Haemophilus parasuis, Streptoccocus suis, vírus da influenza, Pasteurella multocida entre outros) não são controlados, por esta razão, a aquisição de suínos de reposição de apenas uma granja GRSC é recomendado.
Outro aspecto é que o modelo produtivo para suínos de abate utilizado no Brasil pelas agroindústrias, cooperativas e alguns produtores independentes, predominantemente é a criação de suínos por fases em sítios separados, porém com mistura de leitões de várias origens nos crechários e ou terminadores. A produção segregada por fase é ótima, porém a mistura de leitões de diferentes origens (UPLs) nos crechários ou terminadores implica na necessidade de uso cada vez maior de medidas preventivas ou terapêuticas para controlar doenças enzoóticas, pois os próprios leitões atuam como portadores e disseminadores de agentes patogênicos. Este modelo, embora seja útil do ponto de vista de logística e de adoção de tecnologia, não é bom do ponto de vista sanitário. Tal fato dificulta a redução na utilização de antimicrobianos, meta esta atualmente perseguida pelos produtores e exigida pelos consumidores e importadores. Então, o modelo produtivo a ser perseguido no Brasil, com vistas à preservação da saúde dos suínos e redução na utilização de antimicrobianos, é aquele que reduz ao máximo a introdução de suínos de reposição e a mistura de leitões oriundos de diferentes unidades produtivas num mesmo galpão ou sítio. Atualmente no Brasil, esses aspectos de movimentação e mistura de leitões, é difícil de ser regulamentado, pois pode inviabilizar a maior parte da produção, uma vez que a estrutura existente foi concebida para esta logística. Porém, lembrar que quanto menos introduzir suínos nos rebanhos, movimentar e misturar leitões de diferentes origens melhor é do ponto de vista sanitário para a UP e para o setor.
Outras medidas de biosseguridade muito importantes para reduzir as chances de introdução de agentes nos rebanhos, mas que não seria prudente neste momento fazer parte de uma regulamentação oficial, sob pena de não serem implementadas, como a quarentena para animais de reposição, a autorreposição do plantel por genética líquida e banho obrigatório para funcionários e visitantes, são indicadas especialmente para UP grandes dos tipos CC, UPD e UPL.
Conclusão
O risco zero em biosseguridade não existe. Num país, região, empresa integradora de suínos ou mesmo sistema produtivo, os investimentos devem ser direcionados para mitigar os maiores riscos como: fornecedores de animais/sêmen, a origem e mistura de leitões, isolamento da granja com barreira física (cerca telada) que impeça a entrada de pessoas, veículos e outros animais, distância de outra granja de suínos/laboratório/abatedouro, disponibilidade de roupa e calçado de uso exclusivo da UP e respeito ao vazio sanitário dos colaboradores e visitante. Todavia, pequenos riscos, porém frequentes em alguns rebanhos, também devem ser mitigados. Então, os protocolos de biosseguridade devem se adequar ao modelo produtivo, à escala de produção e a organização produtiva (integrações) sempre, porém respeitando medidas básicas sugeridas neste artigo.
Um ponto importante para refletir é o que nós pensamos ou acreditamos sobre biosseguridade e o que efetivamente realizamos. É fundamental saber como a sua granja está conectada aos diferentes elos da cadeia produtiva, para identificar e mitigar os fatores principais de biosseguridade. Protocolos de biosseguridade são fáceis de serem elaborados: a questão é sua execução no trabalho rotineiro da granja, tanto para prevenir a entrada de patógenos na UP como para reduzir a multiplicação e transmissão dos agentes no interior do rebanho. Um erro frequente de produtores é se preocupar com a biosseguridade apenas em resposta a ocorrência de surtos de doença e não como medida preventiva.
¹Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia (SC). E-mail: nelson.mores@embrapa.br
A Bibliografia Consultada desse artigo pode ser visualizada no site da Suinocultura Industrial por meio do link: www.suinoculturaindustrial.com.br/biosseguridade283.
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