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O potencial do Brasil na produção da mais saudável proteína animal

Publicado em 14/03/2018

O agronegócio vem se consolidando como o motor de crescimento econômico do Brasil. Com um avanço recorde de 13% em 2017, a agropecuária sustentou o crescimento do PIB do País naquele ano. Há um grande potencial de repetir o sucesso nos próximos anos, garantindo solidez à expansão econômica do Brasil.

Um dos nichos mais competitivos do agronegócio mundial é a produção de proteínas animais. Vale lembrar que a população mundial deve crescer um terço até 2050, passando de 7,6 bilhões para 9,8 bilhões de pessoas. Os especialistas estimam que nesse período, a demanda global por proteínas animais deve aumentar 80%.

Conforme dados levantados pela revista The Economist, somente na Ásia, o consumo de carne bovina deve subir 44% já na próxima década. Isso proporciona enormes oportunidades para o Brasil, que é um dos líderes mundiais na produção e nas exportações desse produto.

Ao mesmo tempo, precisamos ter em mente que o impacto ambiental da criação de animais terrestres é muito grande. A The Economist estima que, hoje, o mundo conta com mais de 20 bilhões de cabeças de frango, 1,5 bilhão de cabeças de gado e 1 bilhão de ovinos vivos. Um quarto das terras mundiais são ocupadas por pastagens e 30% das safras mundiais são usadas para a alimentação animal.

O potencial dos mares e oceanos mundiais para a captura de peixes também é limitado. O professor de biologia marítima da Universidade da California, nos EUA, Steve Gaines, estima que mesmo adotando práticas sustentáveis para maximizar a produção, a pesca de captura poderá atender, no máximo, algo entre 1% e 5% do aumento da demanda mundial por proteínas animais.

Considerando essas limitações e as restrições de terras e de água para a produção animal, os especialistas destacam o papel cada vez mais relevante da aquicultura ? a produção de peixes, mariscos, crustáceos e algas de cultivo. Há um grande debate internacional sobre esse tema, sendo a aquicultura destacada como uma das formas mais competitivas, eficientes e sustentáveis para atender à crescente demanda mundial por alimentos e, principalmente, por proteínas.

O fundador da empresa norte-americana Food?s Future, Scott Nichols, dá exemplos da eficiência da aquicultura em termos de produção de proteínas animais. Enquanto para produzir meio quilo de frango precisamos de 1 kg de ração, para a mesma quantidade de porco, precisamos de 2 kg de ração e para a carne bovina, 4 kg. Ao mesmo tempo, o aproveitamento do peso do animal abatido também é bem diferente: usamos para a alimentação somente 40% do peso do gado, 58% do frango e 56% do porco.

Na aquicultura, essa proporção melhora muito. É preciso de somente 0,6 kg de ração para produzir 0,5 kg de peixe e, no caso do salmão cultivado, aproveitamos para alimentação 64% do peso total.

 A aquicultura e as novas tecnologias para o cultivo de peixes e frutos do mar

Os especialistas estimam que hoje somente 15% da demanda mundial por proteínas é atendida pela aquicultura. Mas o consumo mundial de peixes deve crescer 14% já na próxima década, conforme a estimativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação ? FAO. Os dados mostram que em 2014, o volume de peixe produzido pela aquicultura mundial já ultrapassou o da pesca de captura destinada à alimentação. Em 2021, a aquicultura deve superar o volume total da pesca de captura.

Há muita preocupação em relação à sustentabilidade ecológica da aquicultura, que poderá ser aprimorada com a implementação de novas tecnologias.

Linus Blomqvist, diretor de Programas de Conservação, Alimentação e Produção Agropecuária do think tank estadunidense Breakthrough Institute, aponta que a aquicultura costeira, que é considerada menos sustentável em termos de preservação de meio ambiente, poderia ser substituída por formas mais sustentáveis de cultivo. Destacam-se, duas opções: 1) a aquicultura terrestre, com a implantação de fazendas de peixe com produção em tanques com recirculação de água e 2) a aquicultura offshore (em aguas profundas de mares e oceanos).

Uma das maiores vantagens desses novos sistemas é que eles podem ser implantados em qualquer lugar. Por precisarem de relativamente pouco espaço, as fazendas de peixe podem ser criadas até em áreas urbanas. E como a água é praticamente toda reutilizada, há baixo impacto ambiental.

Os sistemas offshore em águas profundas usam as correntes marítimas para filtrar o excesso de nutrientes (normalmente, sem a necessidade de bombeamento ou filtragem mecanizada) e preservam os mais sensíveis ecossistemas costeiros.

Aquicultura terrestre e offshore

A Alemanha já está implantando fazendas de peixe em áreas urbanas. Há uma, por exemplo, na capital Berlim, que produz em larga escala peixes, verduras e legumes usando a técnica de aquaponia. Os EUA e a Noruega também estão implementando tanto a aquicultura terrestre quanto a offshore.

Esses novos sistemas estão sendo complementados com o avanço no desenvolvimento da ração para peixes, substituindo a farinha de peixe por ração vegetal (por exemplo, de algas) e usando produtos de biotecnologia.

Blomqvist, entretanto, destaca a questão de energia na aquicultura. As fazendas de peixe, por exemplo, usam muita eletricidade. Nos países como o Brasil, onde cerca de 43% da matriz energética é renovável, ou na Noruega, onde praticamente toda a energia é renovável, isso não é um problema. Já na China, que é o maior produtor mundial de pescados, a maior parte da energia gerada provém de termoelétricas, e a implantação dessas novas formas de aquicultura pode ter um impacto ambiental indesejável.

A aquicultura offshore também envolve o uso de diesel para transporte e manutenção (ainda que em quantidades muito menores se comparado com a pesca de captura). Entretanto, o sistema se torna sustentável com a utilização de biocombustíveis ou embarcações com motor elétrico.

Há outros fatores a favor da aquicultura. É possível usá-la para fomentar a biodiversidade na alimentação, produzindo cada vez mais espécies nativas em cativeiro, e para preservar as reservas de peixes nos mares e oceanos.

Proteína animal sustentável

Para ilustrar como a aquicultura poderia ser uma das soluções mais eficientes para atender à crescente demanda por alimentos, Nichols dá o seguinte exemplo: se os estadunidenses substituíssem na sua dieta 5 kg de cada uma das três principais proteínas animais ? carne bovina, de porco e de frango ? por 15 kg de peixe por ano, seria possível produzir um adicional de 20 kg/ano per capita para mais de 1 bilhão de pessoas, sem precisar aumentar a quantidade de ração produzida atualmente.

Assim, os especialistas estimam que em 2030, cerca de dois terços do consumo mundial de peixe será proveniente da aquicultura. As espécies cuja produção mundial está crescendo mais rápido são a tilápia, o bagre e a carpa.

Conforme dados da Associação Brasileira de Piscicultura ? Peixe BR, o Brasil produziu 691,7 mil toneladas de peixes de cultivo em 2017, uma alta de 19,5% em relação a 2014. Este ano, a produção deve crescer mais 10%. A tilápia representa 51,7% de toda a produção da aquicultura nacional e deve ter um crescimento maior, de 15%, este ano. Os peixes nativos representam 43,7% da produção e as carpas e trutas, 4,6%.

A aquicultura, além de ter baixo impacto ambiental e um relevante papel no combate à fome e à má nutrição, representa uma ótima oportunidade de negócios para o Brasil. Há espaço para implementar novas tecnologias para produzir mais e exportar mais. A mais sustentável proteína animal pode ter um papel relevante na economia brasileira, garantindo desenvolvimento, emprego e renda.

Fonte: Gazeta do Povo

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