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Criação brasileira de tilápias entra na era genômica

Publicado em 20/04/2017

Segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), no ano passado, o Brasil produziu 640 mil toneladas de peixes cultivados. Deste total, 50% são tilápias.

A produção brasileira de peixes superou 640 mil toneladas, no ano passado, sendo 50% desse total representado pela criação de tilápia, de acordo com dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). O pacote tecnológico brasileiro desse tipo de pescado, que já está desenvolvido, representa o resultado de dez anos de melhoramento genético na seleção das famílias que respondem melhor aos climas mais quentes e mais frios do país.

Agora, a atividade está dando outro passo muito importante, com a entrada na era genômica, o que pode garantir maior acurácia, mais rendimento de filé, melhor coloração e resistência da espécie ao estresse, às doenças e ao manejo.

“Até o ano passado, o melhoramento genético da tilápia era feito de forma tradicional, porém, a partir de 2017, estamos utilizando a genômica, que possibilita realizar acasalamentos com maior assertividade”, afirma Jorge Vieira Barbosa, diretor da Aquaporto e da AquaAmérica – com unidades em Alfenas (MG) e na região da Serra da Mesa (GO).

Barbosa conta que começou o sequenciamento genético da tilápia em 2015. No ano seguinte, foi iniciada a coleta de amostras de nadadeiras das famílias para fazer o DNA no Chile e nos Estados Unidos. O sequenciamento dos peixes foi concluído e, atualmente, a pesquisa está realizando a avaliação dos genomas.

O projeto utiliza os marcadores genéticos da espécie visando melhorar os índices zootécnicos e produtivos. Atualmente, todas as tilápias são chipadas quando atingem cerca de 4 gramas.

“Depois, são feitos os acasalamentos direcionados e por volta de 530 dias de cultivo os reprodutores alcançam 3.822 quilos, o que significa um rendimento de 7 gramas por dia”, relata Barbosa, acrescentando que esses exemplares recebem um selo de qualidade.

 

PRIMEIRA IMPORTAÇÃO

A importação do primeiro lote de tilápias GIF ocorreu em 2005. Segundo Barbosa, na época, as primeiras variedades de fêmeas começavam a desovar com peso entre 300 e 400 gramas e não cresciam mais.

Foram separadas as famílias e escolhidos os melhores exemplares para acasalamento. Desde então, foram avaliadas mais de 10 gerações da família cultivada, acompanhando seu desenvolvimento.

“A partir de 2010, passamos a ter resultados significativos, com a utilização de hormônio, para a reversão sexual, para evitar que as fêmeas entrassem em reprodução com antecedência”, destaca Barbosa, acrescentando que, atualmente, as fêmeas alcançam o mesmo peso do macho (entre 700 e 800 gramas).

Com a nova tecnologia, ele salienta que não será necessário realizar a reversão sexual dos peixes criados em cativeiro: “As fêmeas do projeto continuam crescendo, mesmo depois de entrar em período de reprodução”.

A empresa fornece alevinos para o mercado. O ciclo da tilápia, do ovo à fase de engorda, varia de 5 a 6 meses. Ao final deste período, os peixes estão prontos para o abate com peso entre 800 gramas e um quilo.

“Uma tilápia de 850 gramas rende dois filés limpos e preparados de 150 gramas cada”, calcula Barbosa.

PRODUÇÃO E CONSUMO

Segundo a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), no ano passado, o Brasil produziu 640 mil toneladas de peixes cultivados. Deste total, 50% são tilápias.

Atualmente, o consumo per capita brasileiro de peixe oriundo da piscicultura (cultivado) é de 3,2 quilos por ano e mais dois quilos de importação, o que totaliza 5,2 quilos por habitante por ano.

“O consumo brasileiro de peixes cultivados é estimado é de 9 a 10 quilos/habitante ano, sendo quatro a cinco quilos advindos da pesca. Como não há dados oficiais de pesca, o que existe, de fato, são os 5,2 quilos”, informa Francisco Medeiros, diretor executivo da Peixe BR.



Como a produção interna não atende à demanda, o Brasil importa peixes para as classes A, B, C e D, tais como bacalhau, salmão, mas o maior volume é de panga, merluza e polaco, peixes mais populares, de acordo com Medeiros.

“Isso que significa que todas as classes sociais consomem peixes, o que cria perspectivas importantes para o setor”, afirma e lembra que tudo o que se consegue produzir aqui é vendido, desde que tenha preço e seja competitivo.

“Mesmo com as adversidades que a gente encontra na estrutura de governo, principalmente em relação aos processos de burocratização e legalização da atividade, as perspectivas são boas”, completa.

TRÊS GRUPOS

Medeiros afirma que a piscicultura brasileira é formada por três grupos distintos: “No Centro-Oeste, Sudeste e Sul, a atividade tem perfil empresarial, no Nordeste, é formada por pequenos e médios produtores, é muito pujante, mas há o problema da falta de água, e, no Norte, é caracterizada por pequenos produtores”.

A piscicultura brasileira tem crescido cerca de 10% ao ano. Em 2016, a evolução foi muito pequena, por causa de problemas pontuais em Mato Grosso e no Ceará.

Enquanto a seca afetou a piscicultura do Ceará. Maior produtor de peixe do Brasil, Mato Grosso teve uma redução de 19%, em razão de processos de licenciamento ambiental, maior gargalo da atividade e requisito para o produtor ter acesso a crédito.

“Como o produtor tinha que trabalhar com o dinheiro dele, ele diminuiu os investimentos”, esclarece o presidente da Peixe BR. A entidade reúne produtores de peixes cultivados, de alevinos, indústria de ração, de medicamentos e equipamentos voltados para o setor.

INTERESSE ESTRANGEIRO

Segundo Medeiros, o que se observa e em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, atualmente, é presença de fundos de investimentos estrangeiros na atividade com grandes projetos voltados para tilápias, buscando oportunidades, e trazendo um novo perfil no negócio.

Os dois principais projetos estrangeiros no Brasil são Genesys (argentino) e Tilabrás (suíço). Este projeta produzir 100 mil toneladas de tilápia ao ano.

“Quando comparamos o volume de pescado brasileiro (640 mil toneladas anuais) com o mercado mundial, é irrisório. Para ter uma ideia, em 2015, a China produziu 40 milhões de toneladas de peixes cultivados”, ilustra o diretor executivo da Peixe BR.

Conforme Medeiros, teoricamente, o Brasil não está inserido no mercado mundial, mas tem um fator a ser considerado: “O que a China e o Vietnã produziram foi a partir de ração e milho do Brasil, pois dispõem de poucos recursos hídricos”.

O diretor executivo da Peixe BR lembra que, entre as fontes de proteína animal, a maioria já está estagnada. “Quanto ao peixe, a espécie tem amplo potencial e a expectativa é alcançar 1 milhão de toneladas até 2020”, prevê.

ESTUDO DA EMBRAPA

De acordo com um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre os anos de 2005 e 2015, a produção do peixe mais cultivado no Brasil, a tilápia (Oreochromis niloticus), cresceu 80% graças à modernização e à intensificação da produção em tanques-rede, em reservatórios e em viveiros escavados.

Os dados fazem parte do projeto “Impactos socioeconômicos da tilapicultura no Brasil”, iniciativa da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) e parceiros, com base na observação de sete polos de produção da espécie: Orós e Castanhão, no Ceará; Submédio e Baixo São Francisco, na divisa dos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas; Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, Baixo Vale do Itajaí, em Santa Catarina e regiões Norte e Oeste do Paraná.

Conforme o estudo, a tecnificação da produção e do profissionalismo dos produtores contribuiu para um incremento na produtividade em muitos polos.

“O uso de equipamentos, associado a práticas de manejo com controle dos parâmetros de cultivo, permitiu o adensamento da produção também nos viveiros escavados, aumentando a produtividade. Em polos que se baseiam no uso de viveiros de terra, como no Paraná e em Santa Catarina, saltou de 30 para 50 toneladas por hectare”, informa a médica-veterinária Renata Melon Barroso, pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

Ela também destaca a regulamentação do uso das águas públicas para cultivos intensivos de peixes em tanques-rede como fator de incremento do cultivo da tilápia, espécie responsável por 90% das solicitações de áreas aquícolas no país.

“A concessão do uso de águas de lagos e reservatórios de hidrelétricas permitiu que piscicultores iniciassem a produção sem precisar ter a posse dessas águas, acelerando o crescimento dessa atividade”, justifica a especialista.

Renata atrela o aumento da produção da tilápia no Brasil a outros vários fatores: clima favorável, rusticidade da espécie que se adapta a diferentes sistemas de produção; alta demanda dos produtos; além do bom resultado em cultivos intensivos.

Parte dos dados da pesquisa será divulgada ao setor, durante o Seminário “Demandas e Tendências da Tilapicultura no Brasil”, de 27 a 29 de junho, na Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO).

Rota Estratégica da Biotecnologia Aplicada à Indústria Animal

Referência em Genética e Melhoramento Animal é uma das visões de futuro presentes no  Roadmapping da Biotecnologia Animal. O Grupo de Trabalho Formação de Banco de Dados realiza encontros frequentes, a fim de promover vislumbrando uma indústria animal paranaense referência em genética e melhoramento animal.

Encontro Nacional de Genômica Animal - Integração da Pesquisa e Aplicação foi um evento realizado em 2014 em Curitiba, sendo uma iniciativa do Grupo de Trabalho da Articulação da Rota Estratégica de Biotecnologia Animal, que conta com representantes da equipe técnica dos Observatórios Sesi/Senai/IEL, Iapar, Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), UFPR, Deoxi Biotecnologia, BRF Brasil Foods, Topigs, entre outras. Pesquisadores de Genômica Animal de todo o Brasil se reuniram para discutirem sobre avanços em pesquisa e métodos de melhoramento animal. 

Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura

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