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Publicado em 03/03/2017
O crescimento foi compassado. No início, algumas críticas brotavam, e o argumento
era de que ela não daria leite em grande volume. De outro lado, sua rusticidade
e adaptação plena aos trópicos jamais foram contestadas. Um caprichoso melhoramento genético foi
corrigindo alguns defeitos, e a girolando passou a ser avistada em maior número
nas pastagens do interior de Estados como Minas Gerais e São Paulo, principalmente. Testada e aprovada, a girolando
hoje é responsável por 70% do volume total de leite produzido no país, que encosta nos 36 bilhões
de litros ao ano. A raça está esparramada por todos os Estados e responde bem ao
clima quente de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de Rondônia, Pará, Maranhão, Bahia e outros
Estados nordestinos, afirma Jônadan Ma, um pecuarista de sangue chinês que preside
a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, fundada em 1978, em Uberaba (MG), cujo quadro associativo
cresce entre 7% e 8% ao ano. “Não vejo expansão igual entre outras raças leiteiras”, observa
ele.
Neste ano, a girolando comemora 20 anos de sua homologação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Fruto do cruzamento da raça gir (zebuína, originária da Índia) com o holandês, ela é genuinamente brasileira. Herdou da gir a capacidade de adaptação e a rusticidade, e do holandês o potencial de produzir leite em quantidade. “É um patrimônio nacional”, diz Jônadan.
Não há exagero nisso. Segundo Jônadan, produtor de leite cuja fazenda é de alta tecnologia, uma pesquisa feita pela associação apurou que, de cada dez fazendas produtoras de leite, pelo menos sete trabalham com a girolando.
O reconhecimento pelo Mapa permitiu que os investimentos na raça avultassem. “A homologação significa que as virtudes da girolando foram reconhecidas e aprovadas oficialmente”, diz Jônadan. O número de criadores associados foi a 3.571. “Consequentemente, passaram a ser necessários touros, matrizes e bezerros para dar resposta à demanda crescente, além de material genético, como ampolas de sêmen”, informa Jônadan.
O dirigente diz que a girolando bateu recorde de registros de rebanhos da categoria livro fechado – animais cuja genealogia é conhecida – no ano passado. “Foram efetuados 20.346 registros definitivos e 40.317 registros de nascimento. Nos dois casos, houve alta de 26,13% e de 19,14% em relação a 2014”, diz.
O presidente da associação é um exemplo de onde se pode chegar com a raça em termos de produção. Em sua fazenda, a Boa Fé, no município de Conquista (MG), ele consegue lactações de 9.000 a 10.000 litros por vaca ao ano, muito acima de criatórios menos qualificados. O gado é todo confinado. Assim, alimentando-se no cocho, as fêmeas conseguem lactações expressivas. “A média de leite ao dia alcançada pelas minhas vacas é de 28 a 30 quilos de leite”, enfatiza o produtor.
Ele explica que houve uma democratização da genética girolando e os animais tornaram-se acessíveis aos diversos modelos de extração de leite. Vacas que produzem média robusta de leite, ao redor de 25 a 30 litros ao dia, podem ser encontradas por cotações entre R$ 8 mil e R$ 10 mil. De média qualidade, com lactações de 11 a 20 litros, sai de R$ 4 mil a R$ 5 mil. “As vacas que produzem de 10 a 15 litros de leite, em média, no pasto são adquiridas por cifras mais baratas”, diz.
Outro fator positivo e que favorece os que fazem a opção pela girolando é o grau de sangue variado. Há acasalamentos de grau de sangue cinco oitavos holandês e três oitavos de sangue gir, o que corresponde a 62,5% de sangue holandês e 37,5% de sangue gir. Pode ser o inverso, com 62,5% de sangue gir e 37,5% de sangue holandês, e também o meio-sangue holandês e gir (50% de cada raça).
“Os diferentes graus de sangue que temos na formação da girolando tornam a raça versátil e apta ao clima do Brasil tropical”, afirma José Renato Chiari, médico-veterinário e produtor em Morrinhos (GO). Ele explora a pecuária em uma região quente e úmida, produzindo 12.000 litros de leite ao dia, em dois sistemas distintos de exploração da atividade.
Talvez seja uma experiência única no Brasil. A propriedade agrega dois sistemas distintos de produção ao mesmo tempo. Um no confinamento tipo free-stall. Nele, a vaca levanta apenas para se alimentar e só sai do local para ser ordenhada. No outro manejo, a produção é intensiva a pasto rotacionado e irrigado por um único pivô central. São dois módulos rotacionados. Eles possuem área de 17 hectares cada e as vacas comem capim coast-cross, tifton-85 e vaquero.
Chiari recorda que, no início, muitos desacreditaram a sua proposta. Perguntavam: “Como produzir leite a pasto debaixo de um pivô?”. Pois, segundo o veterinário, foi justamente no pasto irrigado que a produção cresceu mais nos últimos anos. Chiari adianta que a ideia agora é aumentar de 500 para 700 a quantidade de vacas em lactação.
O crescimento do girolando foi acelerado pelo Programa Geral de Melhoramento Genético da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), coordenado pelo pesquisador Marcos Vinicius Barbosa da Silva. Ele explica que o programa existe desde 2010 e se assenta em vários pilares, como a introdução do teste de progênie com touros e a avaliação genética das fêmeas, experiência que possibilitou a publicação de um sumário de vacas ranqueadas. “Para se ter ideia, só a quantidade de touros avaliados, que era de 70 mil, em 2010, saltou para 700 mil, em 2015”, diz. E as matrizes também são provadas.
“Agora, estamos introduzindo na criação do girolando uma ferramenta revolucionária: a seleção
genômica. Pela primeira vez, uma raça leiteira selecionada no Brasil será avaliada por essa tecnologia”,
informa Marcos Vinicius.
Com informações de Globo Rural
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