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Publicado em 13/02/2017
Os efluentes utilizados nos estudos foram a vinhaça, formada na produção de açúcar e
etanol de cana, e o Pome (palm oil mill effluent), que é gerado no processamento do dendê. Eles são aproveitados,
hoje, para fertirrigação das plantações. Utilizá-los, contudo, como meio para produzir
microalgas, pode agregar valor às cadeias produtivas da cana e do dendê, gerando mais biomassa e óleo
para obter energia e bioprodutos.
As microalgas são organismos unicelulares e microscópicos que vivem em
meios aquáticos e têm uma característica curiosa: embora não sejam plantas, são capazes
de realizar fotossíntese e se desenvolver utilizando luz do sol e gás carbônico. Elas se reproduzem muito
rapidamente, gerando grandes quantidades de óleo e biomassa em pouco tempo. A produtividade pode ser de dez a 100 vezes
maior do que os cultivos agrícolas tradicionais. Isso chamou a atenção de setores que necessitam de grandes
quantidades de matéria-prima, como o de biocombustíveis.
Ao mesmo tempo, os óleos produzidos por algumas espécies quase sempre contêm compostos muito valiosos como, por exemplo, Ômega 3 e carotenoides. Por isso, elas também encontram espaço em indústrias que atendem nichos de mercado e pagam mais caro por matérias-primas com propriedades raras. É o caso dos cosméticos e dos suplementos alimentares.
Já existem pelo menos quatro empresas no Brasil produzindo microalgas: duas no Nordeste, com foco em nutrição
humana e animal, e outras duas no interior de São Paulo, já atendendo indústrias de cosméticos
e rações, ou projetos para tratamento de efluentes. Contudo, há ainda muito que avançar no conhecimento
e desenvolvimento de tecnologias para impulsionar o setor. A redução do custo de produção é
uma das principais preocupações, principalmente quando se quer alcançar mercados que necessitam de grandes
volumes e preços baixos, como é o caso dos biocombustíveis.
Explorando a biodiversidade
A pesquisa da Embrapa buscou soluções em uma das maiores riquezas do Brasil: a imensa biodiversidade,
que pode abrigar um quarto das espécies de microalgas de água doce, segundo as estimativas. O primeiro trabalho
tinha como objetivo encontrar espécies capazes de crescer na vinhaça, em ambientes industriais e biomas brasileiros
(Amazônia, Pantanal e Cerrado). Os cientistas identificaram duas espécies que podem ser cultivadas nesse efluente,
com bom rendimento − uma delas ainda não está sequer descrita na literatura. A análise dos componentes
da biomassa dessas duas microalgas indica maior concentração de carboidratos e proteínas do que de lipídeos
e carotenoides, que as tornam mais adequadas para a produção de etanol do que de biodiesel, quando o assunto
é biocombustíveis. Podem ser utilizadas, ainda, em rações.
A vinhaça é rica em nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), nutrientes tão necessários às microalgas quanto às plantas. Utilizá-la como meio de cultivo, contudo, tem seus desafios, explica o pesquisador Bruno Brasil, da Embrapa Agroenergia. Se, por um lado, a concentração de nutrientes favorece o crescimento dos organismos, por outro a coloração escura dificulta a passagem de luz, sem a qual não há fotossíntese. Para minimizar esse problema, a equipe da Embrapa Agroenergia utilizou métodos de clarificação química de baixo custo ou simplesmente diluiu a vinhaça em água. Outro desafio associado à vinhaça é a elevada carga de material orgânico. Ela favorece a proliferação de bactérias e leveduras, que se tornam contaminantes no meio de cultivo e prejudicam o crescimento das microalgas.
As duas espécies selecionadas pela equipe da Embrapa Agroenergia são mixotróficas. Isso quer dizer
que elas realizam fotossíntese, mas também utilizam a matéria orgânica da vinhaça para crescer.
Elas não chegam a reduzir significativamente essa carga orgânica e, por isso, não podem ser utilizadas
isoladamente para tratamento do efluente. No entanto, isso pode ser bom porque permite que a vinhaça ainda seja usada
para fertirrigação dos canaviais após a retirada das microalgas.
Observatórios Sistema Fiep
A imensa biodiversidade, e
consequente variabilidade na composição bioquímica das microalgas, aliada ao emprego de melhoramento
genético e ao estabelecimento de tecnologia de cultivo em grande escala vêm permitindo que as microalgas sejam
utilizadas em diversas aplicações. Nesse contexto, os Observatórios Sistema Fiep possuem o Grupo de Trabalho Criação
de Redes em biotecnologia- temática Microalgas, que vem estudando alternativas para promover e desenvolver
esse segmento no estado do Paraná, com vistas em incrementar a competitividade de setores industriais. Para obter mais
informações, acesse o link: Rota Biotecnologia Agrícola e Florestal
Fonte: Embrapa
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