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Publicado em 28/03/2016
Depois de amargar quatro meses de preços baixos, os produtores de leite começaram o ano de 2016 com cotações mais altas em decorrência da menor oferta de leite. Conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), os preços brutos (incluindo frete e impostos) recebidos pelos produtores nos sete estados pesquisados (BA, GO, MG, PR, RS, SC e PR) fecharam fevereiro em R$1,97/litro, incremento de 3,3% em relação à janeiro. A valorização vai respingar no varejo, fazendo com que os consumidores também arquem com a alta para cobrir o aperto no campo.
No Paraná, o setor fechou 2015 com os piores preços dos últimos quatro anos, atingindo uma média de R$1,04/litro, contra R$1,13/litro registrado na média de 2011. Mas seguindo a tendência nacional, o estado também apresentou um aumento de 1,2% no preço bruto em 2016, atingindo R$1,06/litro em fevereiro.
No Sul, o clima foi um dos responsáveis pela redução na oferta, com chuvas acima da média e depois seca aliada com altas temperaturas, resultando em uma redução de 14% na captação de leite nos últimos quatro meses. Além disso, os produtores também adiaram a secagem das vacas como forma de reduzir os custos de produção. O Índice de Captação do Leite calculado pelo Cepea registrou queda de 4%, a maior retração nos últimos dez meses. No Paraná, a redução foi de 7,65%. Em Santa Catarina a queda foi de 5,93% e, no Rio Grande do Sul, 5,60%. Na sequência vieram Goiás (3,61%), São Paulo (3,36%) e Minas Gerais (2,94%). A Bahia foi o único estado que manteve estabilidade na produção, com ligeira alta de 0,34%.
No Paraná, devido as característica de produtores de pequeno e médio porte, os impactos são mais pesados. Com os altos custos de produção e os baixos preços do produto, muitos produtores já deixaram a atividade. O engenheiro agrônomo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Wagner Hiroshi Yahaguizawa, diz que 2015 foi um ano de margem bem apertada. “No Sul do Brasil, as propriedades menores saíram da atividade em decorrência dos preços baixos e dos custos de produção mais altos. Quem não tem margem desistiu”, afirma.
O produtor de Castro, nos Campos Gerais, Lucas Rabbers, não deixou de produzir, mas precisou emprestar dinheiro para pagar as contas. “O custo subiu quase 50% depois que o dólar começou a subir. O milho que a gente pagava R$23 por saca hoje está na média de R$43. E tudo isso pega muito no bolso”, comenta.
Como não poderia deixar de ser, os preços mais altos também podem ser sentidos no segmento de derivados, com estoques abaixo do esperado para o período. Com preços mais altos, os consumidores também deixaram de consumir. “Ao contrário do que ocorre com algumas commodities, favorecidas pelo mercado externo, o leite é muito prejudicado pela crise porque o Brasil é importador de leite. E a crise teve impacto no poder de compra do consumidor.
De acordo com o gerente da Unidade de Negócios Leite da Castrolanda, Henrique Costales Junqueira, o produtor investiu na produção, mas com a queda dos preços no ano passado, a leve recuperação das cotações em 2016 ainda não é suficiente para que o produtor cubra os custos de produção e as parcelas dos investimentos. “Os custos de produção tiveram um incremento de mais de 15%, saindo de R$0,90/litro em 2014 para R$1,05/litro no ano passado. Milho subiu mais de 50%, o farelo de soja aumentou 25%. Para piorar, o custo agora em 2016 é ainda maior. O produtor sentiu muito a diferença. Tem muitos produtores, especialmente os pequenos e médios, parando de produzir leite”, comenta.
Segundo o produtor, o preço do leite precisava subir mais para bater os custos de produção. “Por causa da cooperativa, hoje recebemos uma média de R$1,15/litro, mas nosso custo é de R$1,40. O leite precisava estar R$1,50 para o produtor”, afirma Rabbers.
A expectativa do setor é que os preços permaneçam em alta apoiados pela oferta limitada, que deve se agravar com a chegada do inverno. A tendência, de acordo com Junqueira, é de uma forte recuperação nos preços no primeiro semestre, mas as cotações devem voltar a recuar a partir da segunda metade do ano. “Os preços vão cair, mas não ficarão tão baixos como os valores registrados em novembro de 2015”, explica.
Para Hiroshi, do Cepea, as indústrias aumentaram os preços pagos aos produtores para que eles pudessem se manter na atividade. Mas, a curto e médio prazo, não existe perspectiva de melhora para o produtor. “30% a 40% do custo de produção é com ração. Além disso, o problema de abastecimento também pressionou as cotações para cima. Com o aumento do custo, inevitavelmente vai haver aumento para o consumidor também. Vamos ver preços ainda mais altos para o leite e derivados”, afirma.
Fonte: Gazeta do Povo
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