Técnica seleciona ovinos que geram mais cordeiros
Publicado em 26/01/2016
Cientistas da Embrapa desenvolveram uma técnica que aumenta a prole de ovinos da raça Santa Inês.
Eles detectaram que certas ovelhas têm uma alteração natural no gene GDF9 (Growth Differentiation
Factor 9) que aumenta a taxa de ovulação e, consequentemente, permite a geração de mais cordeiros
por estação reprodutiva. A ideia, então, foi reproduzir os animais que tinham essa alteração
para que um maior número de ovelhas do rebanho tenha a capacidade de produzir mais cordeiros.
O trabalho realizado na Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) é o de reproduzir esses ovinos mais prolíficos
da raça Santa Inês para que suas matrizes, reprodutores, sêmen e embriões possam estar disponíveis
para os produtores. A maioria das ovelhas tem apenas um filhote por gestação, pois elas são, na sua maioria,
mono-ovulatórias, ou seja, só liberam um óvulo por ciclo. O uso da tecnologia aumenta a chance de ocorrer
gestações de gêmeos também conhecidas como gemelares ou múltiplas.
A taxa de ovulação, que pode variar com a raça, idade e condição nutricional da ovelha,
é regulada por ação de diversos genes. No entanto, existem genes de efeito principal, como o GDF9 que
contribuem de forma preponderante para a determinação da taxa de ovulação e consequentemente da
prolificidade ou número de cordeiros por parto por ovelha.
Alterações genéticas naturais em genes que controlam a taxa de ovulação e prolificidade
podem ser encontradas em ovinos de várias raças. No caso da raça Santa Inês, os pesquisadores da
Embrapa encontraram o FecGE (FecG-Embrapa – Fecundity Gene) do gene GDF9.
Assim, descobriu-se que ovelhas com a variante FecGE têm uma taxa de ovulação
82% maior que as outras que não possuem essa alteração.
É possível detectar o alelo FecGE por meio de exame laboratorial
desenvolvido e patenteado pela Embrapa e que está disponível para laboratórios de genética. "Trata-se
de uma metodologia de genotipagem, baseada em técnicas de biologia molecular, que permite identificar de forma rápida
e eficiente essa mutação em qualquer rebanho", explica o pesquisador Eduardo de Oliveira Melo, da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia (DF), que liderou o desenvolvimento do protocolo para os exames laboratoriais.
Além do trabalho da pesquisa de multiplicação e validação do uso de ovinos prolíficos,
o produtor também pode, com base nos resultados laboratoriais e na constatação da capacidade de gerar
mais cordeiros das ovelhas, direcionar os cruzamentos do seu rebanho a fim de obter crias portadoras da variante FecGE que
serão utilizadas como reprodutores e matrizes. Com o uso intensivo dos animais FecGE em
acasalamentos, a cada geração, haverá um aumento gradativo da prolificidade média e, consequentemente,
da produção de crias no rebanho. Assim, o produtor poderá planejar os cruzamentos no seu rebanho de acordo
com as suas estratégias e necessidades.
Pesquisa de mais de uma década
"Essas pesquisas iniciaram-se na Embrapa há mais de 15 anos com raças lanadas e a partir de 2005
com raças deslanadas", conta o pesquisador Samuel Rezende Paiva, atualmente no Programa Embrapa Labex Estados Unidos,
que, na época, trabalhava na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia como coordenador desse projeto. "A principal
característica do sucesso dessa pesquisa e de seus desdobramentos atuais foi a integração entre equipes
de várias Unidades da Embrapa: Tabuleiros Costeiros, Caprinos e Ovinos e Pecuária Sul, bem como instituições
de ensino e pesquisa como Universidade de Brasília e a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba
(Emepa)", complementa.
Durante mais de seis anos, o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Hymerson Costa Azevedo e sua equipe trabalharam
na coleta e análise de amostras de sangue de inúmeros animais de várias gerações do Núcleo
de Conservação de Ovinos Santa Inês, do Campo Experimental Pedro Arle, localizado no Município
de Frei Paulo, no agreste central sergipano. Dessa forma o cientista identificou, selecionou e multiplicou animais portadores
da variante FecGE de diferentes famílias, mantendo com isso uma diversidade genética
dentro do rebanho.
Vale ressaltar que a variante sozinha não é capaz de propiciar o aumento no número de crias. O desempenho
dos animais é reflexo da combinação entre seu potencial genético e as condições
do ambiente em que vivem. Assim, a utilização da genética FecGE requer
melhorias no manejo geral, especialmente nutricional, que, por sua vez, podem gerar aumento de custos. Mas o benefício
do aumento da produção deve compensar o aumento dessas despesas devendo cada produtor decidir se é vantajosa
a adoção da tecnologia.
A pesquisa desenvolvida com a multiplicação de ovinos prolíficos pode agregar valor à ovinocultura
no Brasil que atualmente possui baixos níveis de produtividade. Realidade também do Nordeste brasileiro, região
detentora do maior rebanho ovino do País. O pacote tecnológico será valioso para que a produção
nacional consiga aumentar para atender ao mercado interno. Historicamente, o Brasil é importador de carne ovina e o
consumo por habitante ainda é baixo em relação a outros países, demonstrando potencial de crescimento.
Estudos mostram que a atividade ainda pode crescer muito, na medida em que o mercado crescer e incorporar a carne de cordeiro
na sua dieta rotineira, como aconteceu com o frango.
Em especial, a tecnologia pode beneficiar significativamente os sistemas produtivos e agricultores familiares da região
Nordeste do Brasil, além de outras regiões brasileiras. "Apesar de essa variante ter sido inicialmente identificada
e validada na raça Santa Inês, já temos resultados experimentais de sua presença em praticamente
todas as raças localmente adaptadas de ovinos deslanados do Brasil, em especial a raça Morada Nova", complementa
o pesquisador Samuel Paiva.
Levando em consideração que um dos maiores entraves para a criação de ovinos no Brasil é
o baixo índice de produtividade em consequência do fraco desempenho reprodutivo e produtivo dos rebanhos, a tecnologia
desenvolvida pela Embrapa pode resultar em impactos significativos para a ovinocultura do País.
A genética de ovinos da raça Santa Inês contendo a variante FecGE estará
disponível no sistema de produção nos próximos dois anos. "A ideia é continuar selecionando,
mantendo, multiplicando, caracterizando e validando o uso desses animais mais prolíficos e ao mesmo tempo analisando
o impacto da sua utilização na produtividade e eficiência econômica dos sistemas de produção",
disse o pesquisador Hymerson. "Em pouco tempo, matrizes, reprodutores, sêmen e embriões de ovinos Santa Inês
mais prolíficos poderão estar disponíveis para os produtores", acredita ele.
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