Práticas simples economizam 30% de água em sala de ordenha
Publicado em 19/01/2016
Manejos simples, mudança de hábitos e qualificação da mão de obra podem economizar
até 30% de água em instalações de ordenha. Foi o que descobriu uma pesquisa da Embrapa Pecuária
Sudeste (SP) que durou 18 meses. O objetivo foi quantificar o consumo para melhorar a eficiência do uso da água
no processo de ordenha, promovendo a gestão do recurso.
O maior consumo de água em uma sala de ordenha ocorre na limpeza das instalações. Em média,
48% da água é usada para lavagem do piso, 37% durante o processo de ordenha e limpeza dos equipamentos, e apenas
10% destinam-se ao consumo pelos animais.
Os dados são de pesquisa realizada no Sistema de Produção de Leite. De acordo com o pesquisador
Julio Palhares, conhecer as quantidades gastas possibilita que o produtor faça um planejamento em busca de eficiência
hídrica, seja na sala de ordenha ou na fazenda.
Raspagem do piso, uso de água sob pressão, substituição de mangueira de fluxo contínuo
por modelo de fluxo controlado, manutenção do piso e programa de detecção de vazamentos são
medidas eficazes de economia de água, de acordo com os pesquisadores. Com pouco investimento, o produtor de leite pode
economizar água, energia elétrica e dinheiro e, ainda, fazer com que a produção agropecuária
seja hidricamente sustentável. Além dessas práticas, há outras medidas como a reutilização
da água da lavagem da sala de ordenha para fertirrigação, instalação de hidrômetros
e sistema de captação da água da chuva.
Em Descalvado, município a 250 km de São Paulo, a Fazenda Agrindus reaproveita os efluentes gerados na
limpeza das instalações para a fertirrigação. De acordo com o proprietário Roberto Jank
Junior, atualmente economiza-se cerca de 30% de água por unidade produzida. "Utilizamos, aproximadamente, 10 litros
de água por litro de leite, porém com 100% de reúso em irrigação de alimentos que retornam
ao gado", explica.
Jank também aderiu à captação de água da chuva, reúso integral de águas
servidas e irrigação noturna para fazer a gestão adequada e consciente dos recursos hídricos.
Na propriedade, os telhados têm calhas de captação e condutores da água da chuva, utilizada
na lavagem dos galpões. A limpeza das instalações também era o local de maior consumo de água
na fazenda, segundo ele. Para reduzir esse gasto, a água da chuva foi a solução encontrada.
Além disso, a água da limpeza vai para a fertirrigação das plantas. "Toda a água de
limpeza dos confinamentos de vacas, novilhas e bezerras é captada. Após passar por uma peneira, onde se retira
parte do esterco sólido, a água passa por lagoas de tratamento, com retenção de aproximadamente
20 dias para, a seguir, fertirrigar uma área de agricultura e capim. A lâmina de água e os nutrientes
aplicados são monitorados continuamente", explica Jank.
O produtor de leite Junior Saldanha, de São Carlos, com uma medida simples gerou economia de 60 mil litros de
água ao mês, aproximadamente. Ele deixou a lavagem diária com água do piso da sala de ordenha e
do local de espera das vacas. Hoje a sujeira é raspada e o piso é lavado esporadicamente. Para 2016, Saldanha
tem mais dois projetos relacionados à gestão sustentável da água. Serão instaladas calhas
no galpão da sala de ordenha para captação pluvial e placas para aquecimento solar, para esquentar a
água usada na limpeza dos equipamentos.
Pesquisa
Na sala de ordenha da Fazenda Canchim, em São Carlos, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, pesquisas em eficiência
hídrica foram iniciadas em maio de 2014 e envolvem a validação de manejos, processos e tecnologias para
melhor gestão do recurso natural.
Para medir a quantidade consumida, foram instalados três hidrômetros no local. O uso dos equipamentos auxilia
no manejo hídrico e evita desperdícios de água. Segundo Palhares, desde a instalação dos
hidrômetros, foi possível economizar cerca de 200 litros de água ao dia apenas no manejo das ordenhadeiras
e mangueiras. O pesquisador destaca que a economia gerada é equivalente à quantidade de água consumida
pelos animais antes e depois do processo de ordenha. Portanto, reduziu-se o consumo do recurso natural e o custo de captação
e distribuição da água.
A leitura dos hidrômetros é diária. São monitorados os bebedouros, a água usada na
limpeza do piso e a consumida na ordenha e no armazenamento do leite. O sistema possui atualmente 60 vacas em lactação
com produção média de 20 kg de leite ao dia.
O maior consumo ocorre na lavagem do piso, que apresenta uma média diária de 1.487 litros. O máximo
aferido até agora foi de oito mil litros. Para o pesquisador, a variação no número de animais
na ordenha e a consequente maior disposição de fezes e urina influenciaram. Na sala de ordenha, o consumo médio
é de 1.196 litros diariamente, chegando ao máximo de 4.453. "O grande consumo nesse setor justifica-se pelo
tipo de manejo sanitário. Há dias em que ocorre a lavagem completa da sala, utilizando-se maior quantidade de
água. A capacitação do funcionário em seguir os padrões operacionais adequados também
influencia", explica. Nos bebedouros, a média é de 332 litros ao dia. A quantidade máxima verificada
em um dia foi de 1.780 litros. Nesse caso, os fatores que interferem são temperatura ambiente e da água, tipo
de manejo a que os animais foram submetidos e vazamentos no sistema.
Boas práticas na produção leiteira
A Embrapa recomenda algumas ações para o produtor fazer uma gestão da água eficiente na propriedade
e reduzir possíveis impactos negativos no uso dos recursos hídricos. As práticas foram baseadas em experiências
internacionais e nacionais, considerando a realidade da produção leiteira brasileira e de bem-estar animal.
A qualidade da água para consumo dos bovinos deve ser boa e avaliada constantemente, com frequência mínima
anual. Os principais problemas de qualidade são relacionados à salinidade, alcalinidade e presença de
nitratos e compostos tóxicos, que podem prejudicar a saúde dos animais.
Os produtores devem manter os bebedouros limpos. O ideal é a limpeza diária, sendo que o intervalo entre
lavagens nunca deve ser superior a três ou quatro dias.
Como regra prática, uma vaca leiteira necessita de quatro litros de água para produzir um quilo de leite.
O monitoramento do consumo de alimentos é uma alternativa para controlar o de água. "A diminuição
do consumo de alimentos pode indicar queda na ingestão de água. Se o consumo de água cair, o produtor
deve fornecer o recurso natural de uma fonte reconhecidamente boa. Se os animais voltarem a se alimentar normalmente, há
grande chance de haver problemas de qualidade com a fonte regular de água, e, nesse caso, é preciso enviar uma
amostra ao laboratório para análise", destaca o pesquisador.
Outra recomendação é não permitir que o gado beba água de rios, córregos, lagos
e lagoas de forma direta. Os poços precisam estar fechados, para evitar a contaminação. A construção
deve ser no ponto mais alto da propriedade, fora de áreas de enchentes e com distância adequada de fontes de
poluição, como pocilgas, estábulos e fossas.
A instalação de hidrômetros é uma forma prática de monitorar a ingestão pelos
animais e o gasto geral de água. É necessário que o produtor realize a manutenção do sistema
de condução para manutenção da limpeza e eliminação de vazamentos.
Utilizar mangueiras que possibilitem o controle da vazão e o fechamento do fluxo. O ideal é o uso de equipamentos
de água sob pressão. Para Julio Palhares, a informação e o conhecimento determinam a qualidade
dos manejos e a capacidade de internalização de boas práticas.
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