Não é tarefa fácil atender às expectativas do criador quando alguém se propõe
a abordar o uso do cruzamento em gado de corte. A razão principal é que normalmente são esperadas respostas
simples e diretas para perguntas tais como: "Cruzamento é bom?", "Qual o melhor sistema de cruzamento?", "Quais as
melhores raças?". Naturalmente, estas perguntas que podem parecer simples, mas que na verdade são complexas,
exigem respostas bem elaboradas que vão muito além de uma simples recomendação técnica
semelhante a uma receita de bolo.
Para se chegar a orientações que possam ser repassadas com segurança ao criador é necessário,
no mínimo, que seja feita uma análise que contemple sistema de produção a ser adotado, disponibilidade/acesso
a insumos (fertilizantes, suplementos alimentares, genética, etc), mercado, qualificação da mão-de-obra
disponível, ou seja, uma análise holística de toda a cadeia de produção. Todavia, infelizmente,
é comum que a decisão pelo uso do cruzamento seja tomada com base em análises superficiais e sem embasamento
técnico o que, frequentemente, leva ao insucesso, à ineficiência e, principalmente, a uma visão
negativa sobre cruzamento.
Fato é que a adoção de cruzamento para produção de alimentos, seja na área
vegetal ou animal, é antiga e tem sido usada intensamente em todo o mundo, destacando-se as cadeias da soja, do frango,
do suíno e mesmo a do boi, com destaque para os Estados Unidos da América – maiores produtores mundiais
de carne bovina. E em relação à cadeia da carne bovina brasileira? Seria interessante sua adoção?
Seria viável?
Há aspectos que criam um contexto favorável à adoção do cruzamento tais como: a grande
diversidade de condições de produção do Brasil, a intensificação dos sistemas de
produção com crescente demanda por eficiência, o crescimento da demanda por qualidade com a consolidação
de programas de bonificação por qualidade de carcaça e carne, dentre outros.
Por outro lado, outros fatores concorrem para dificultar sua adoção: gestão deficiente da maioria
das propriedades rurais com falta de planejamento estratégico para elementos básicos do sistema de produção
como alimentação e sanidade dos rebanhos, escassez de mão-de-obra qualificada, tímida remuneração
por qualidade (boi vale o que pesa) com pouca agregação de valor no produto e cadeia produtiva desunida com
baixa integração de seus elos salvo raras exceções.
Enfim, a decisão em usar cruzamento para produção de carne bovina no Brasil não é
fácil, porém, nos últimos anos seu uso tem experimentado significativo crescimento, o que reforça
a importância da constante discussão e estudo do tema com envolvimento de todos os atores do processo: fornecedores
de insumos, produtores, frigoríficos, varejistas, consumidores e, principalmente, de corpo técnico qualificado
para auxiliar os demais em uma tomada de decisão acertada.
Independentemente dos motivos que levarem à sua adoção, um ponto decisivo para o sucesso do cruzamento
é o uso de indivíduos da melhor qualidade genética possível de cada uma das raças envolvidas
no cruzamento.
É inegável que a heterose proporciona ganhos importantes, no entanto, não faz milagre. A literatura
especializada mostra ganhos na ordem de 5 a 30%, dependendo da característica e da distância genética
entre as raças utilizadas. Características ligadas à adaptação e reprodução
tendem a apresentar os maiores acréscimos, enquanto aquelas ligadas ao desempenho e carcaça os menores. Quanto
à distância genética, maiores ganhos são obtidos quando se utiliza raças geneticamente mais
diferentes, ou seja, por exemplo, espera-se maior efeito da heterose quando se cruza raças zebuínas com taurinas
do que quando zebuínas ou taurinas são cruzadas entre si.
Mas a heterose não é tudo. Quando se fala em desempenho total do animal cruzado, temos que considerar além
da heterose, o efeito aditivo tanto das raças utilizadas quanto dos indivíduos dentro de cada raça. A
heterose mede a superioridade em relação à média dos pais e se uma das raças tiver desempenho
muito baixo, a heterose pode não ser suficiente para que o animal cruzado seja superior ao animal da raça pura
mais produtiva.
O mesmo ocorre para o valor genético dos indivíduos utilizados. Se forem utilizados no cruzamento animais
de baixo valor genético, isto irá impactar o resultado final dos cruzados, podendo até chegar a ser mais
produtivo que o animal puro que era originalmente produzido, mas certamente comprometendo a eficiência do sistema de
cruzamento e o resultado econômico da atividade.
Assim sendo, a forma de obter o máximo benefício do cruzamento é conduzi-lo com animais de qualidade
genética superior, o que depende de um processo de seleção conduzido com seriedade, seja pelo criador
ou por seu fornecedor de touros. Por este motivo, o criador que falha em considerar a avaliação genética
para os caracteres produtivos na seleção de reprodutores usados no seu rebanho ou naqueles fornecidos ao mercado,
contribui para o menor desempenho dos animais cruzados dos seus clientes, para um menor interesse na sua raça e um
menor retorno financeiro e produtivo de seus clientes.
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