Reduzida ameaça de extinção do caprino Marota
Publicado em 05/08/2015
clique
para ampliarCaprinos da raça marota mantidos pela Embrapa. A importância
da variabilidade genética em um rebanho é evitar a perda de vigor causada pela endogamia (Foto: Fernando Sinimbu)
O
mapa genético do caprino Marota, traçado recentemente, trouxe uma boa notícia para
os pesquisadores e criadores da raça: a ameaça de extinção desse animal está afastada a
curto e médio prazos. O estudo constatou que a
diversidade genética entre os 108 animais do
plantel de pesquisa da Embrapa Meio-Norte, em Teresina (PI), é ampla o suficiente para multiplicar com segurança
a população da raça.
A boa-nova está na tese de doutorado em Ciência Animal da Universidade Federal do Piauí, elaborada
pela bióloga Jeane de Oliveira Moura, professora do Instituto Federal de Educação no Piauí. O
caprino marota ocupa posição de destaque na lista de animais ameaçados de extinção, segundo
relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO). O estudo revela também que, a cada mês, uma raça de animal domesticada é extinta no mundo.
A importância da variabilidade genética em um rebanho, segundo Jeane Moura, é evitar a perda
de vigor causada pela endogamia, reprodução entre animais de parentesco próximo, consanguíneos,
refletindo em menor capacidade de reprodução e maior probabilidade de ocorrência de doenças genéticas.
O trabalho da bióloga começou há nove meses e foi fundamentado nos estudos de variabilidade e diversidade
genética do plantel da Embrapa. A ideia do mapeamento era conhecer o fluxo gênico (passagem de um determinado
gene de uma geração à outra) para que os cientistas pudessem conduzir melhor e com mais segurança
trabalhos de melhoramento genético e conservação da raça.
A coleta de amostras do material biológico, cerca de três mililitros de sangue de cada animal, foi o primeiro
passo. Enviado ao laboratório Deoxi Biotecnologia, no Município de Araçatuba, em São Paulo, o
material foi submetido à moderna tecnologia de genotipagem, o BeadChips, que contém mais de
50 mil marcadores moleculares. A análise confirmou a variabilidade e a diversidade genética do plantel.
A partir de agora, a equipe da Embrapa e da Universidade Federal do Piauí vai propor um modelo de manejo genético
que busque o acasalamento de animais distintos geneticamente, para manter a maior proporção de variabilidade
da raça Marota.
"O outro foco do estudo," diz a professora, "será o descarte dos animais geneticamente semelhantes, já
que manter um plantel sem variabilidade não atinge o objetivo maior, que é a preservação da raça".
Esse esforço é importante para melhor uso dos recursos disponíveis à pesquisa na região
Nordeste. O trabalho manterá informações genéticas para futuros cruzamentos com raças sem
resistência a doenças, seca e altas temperaturas.
Mais de mil indivíduos para afastar extinção
A ciência estabeleceu que um grupo de animais domésticos é considerado em risco de extinção
quando existem menos de 100 fêmeas no rebanho ou menos de 20 em reprodução. O alerta dos cientistas
é que, assim como os animais silvestres, os grupos genéticos dos animais domésticos ameaçados
de extinção não podem ser recriados, sendo uma perda irreversível à biodiversidade, à
agricultura e à alimentação.
Para a pesquisadora Adriana Mello, da Embrapa Meio-Norte, e orientadora da bióloga Jeane Moura, quanto menor o
tamanho de uma população animal, mais vulnerável ela está às variações demográficas
e ambientais e a fatores genéticos que podem levá-la à extinção. Portanto, segundo Adriana,
a ameaça de extinção da raça Marota só vai desaparecer se o número de reprodutores
e matrizes de puro-sangue superar mil exemplares. O animal puro-sangue é aquele que não passou por cruzamento
ou recebeu material genético de outra raça.
Ela acredita que a multiplicação dos rebanhos de marota em parceria com produtores é a base da luta
dos pesquisadores pela conservação da raça. Segundo Mello, se for mantida a diversidade genética
no núcleo de conservação da marota na Embrapa, a multiplicação de animais elevará
o tamanho da população e acabará de vez o risco de desaparecimento, pondo fim ao ciclo de ameaça
de extinção, conhecido no meio científico como "vórtex de extinção".
Simpósio Internacional sobre raças nativas
Teresina vai sediar, de 19 a 22 de agosto próximo, no Parque de Exposições Dirceu Mendes Arcoverde,
o I Simpósio Internacional de Raças Nativas: sustentabilidade e propriedade intelectual-2015. O evento, que
é uma realização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com apoio da Embrapa,
vai reunir pesquisadores e professores do Brasil e do exterior, que discutirão também a conservação
e melhoramento de recursos genéticos animais e sistemas produtivos sustentáveis. Paralelamente ao simpósio,
serão realizadas a
I Exposição
de Raças Nativas Brasileiras, a Exposição Nordestina de Anglo-Nubiano e a ExpoTeresina.
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