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Publicado em 26/01/2015
A 5ª Conferência Nacional de Defesa Agropecuária, que aconteceu entre os dias 25 e 28 de novembro em Florianópolis -SC, teve a participação da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA) a convite do presidente da CIDASC, Dr. Enori Barbieri.
A ABRA foi uma das palestrantes no painel “Trânsito de Animais Mortos e Destinação de Cadáveres: necessidade de discussão e normatização” sobre a coordenação da Dra. Eliana Bodanesi da Aurora Alimentos e com participação do coordenador técnico da ABRA, Lucas Cypriano, do pesquisador da Embrapa Aves e Suínos, Luizinho Caron e do deputado estadual (SC) Mauro Denadau.
Em sua palestra, a Dra Eliana Bonadesi abordou “A visão da agroindústria – trânsito de animais mortos e destino de cadáveres” onde descreveu o trabalho realizado pela Aurora em busca de soluções válidas para destinar a mortalidade nas granjas de aves e suínos ocasionadas por casualidades que ocorrem naturalmente. Para a Dra. Bonadesi a compostagem se tornou inviável em alguns casos pelo grande volume de mortalidade. “As granjas estão cada vez maiores e concentrando mais animais”. Em alguns casos a compostagem não atende mais a demanda, seja por ausência de maravalha, por falta de EPIs adequados ao trabalho nas granjas ou por falta de mão-de-obra para realizar o serviço nas granjas.
Como alternativa a palestrante apresentou o sistema de estocagem e congelamento de carcaças de suínos da cooperativa que acontece entre a área limpa e a área suja da propriedade, onde as carcaças das casualidades regulares da granja são estocadas a -18ºC até a sua retirada que se dá na área suja sem o contato de operadores do sistema.
Em seguida, o Dr. Luizinho Caron falou sobre “Proposta de procedimentos para a retirada de animais mortos das propriedades de aves e suínos”. O Dr. Luizinho mostrou as opções de destino de carcaças que atualmente são apresentadas para o produtor rural. Segundo o pesquisador, o produtor tem duas opções: valer-se de tecnologias que atuem dentro da propriedade e tecnologias externas às propriedades rurais. Apesar da compostagem se destacar nas propriedades e ser amplamente utilizada no Brasil, para o Dr. Caron, esse sistema já não se adéqua a grandes operações de suínos. Em sua apresentação ele também citou como possibilidades o incinerador e secador de carcaças, opções que por motivos econômicos ou por falta de mão de obra ainda não são largamente adotados.
Como técnica de processamento realizada fora das propriedades foi citado o envio dessas carcaças para as indústrias de Reciclagem Animal como explica o pesquisador. “De acordo com o capítulo 4.12 do manual de Saúde de Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o envio de produtos para a Reciclagem Animal talvez seja uma das opções mais seguras em uma matriz de tomada de decisões, considerando-se todos s riscos envolvidos no processo”. Como um exemplo dessa técnica, Luizinho citou a visita da Embrapa que, acionada pela CIDASC, fez a dois projetos pilotos, um em Minas Gerais e o outro em Santa Catarina que resultaram em um parecer técnico mostrando a atual necessidade de se gerar uma legislação a respeito desse tema.
A terceira palestra foi ministrada pelo coordenador técnico da ABRA, Lucas Cypriano que falou sobre a legislação adotada por outros países em relação à coleta de carcaças a campo. Lucas usou como exemplo os outros grandes países produtores cárneos, como os EUA, Canadá, Comunidade Europeia, Austrália, Nova Zelândia e China que coletam animais em fazendas. De acordo com Cypriano, nos EUA onde a coleta não é obrigatória, foram coletados em fazendas e granjas 1,7 bilhões de quilos no ano de 2012. Já na Comunidade Europeia, onde a prática é obrigatória, em 2013, foram coletados 2,4 bilhões de quilos.
O palestrante ressaltou que todos os países adotam restrições no destino de farinhas produzidas a partir de ruminantes para a alimentação de ruminantes. Já a farinha produzida com carcaças de suínos é restrita apenas pela Comunidade Européia, que não permite a utilização dessa matéria-prima na produção de ração para animais de produção, mas que por ter classificação de risco 2, pode ser usada para a alimentação de cães e gatos, animais que produzem peles (p.ex.:raposas, martas e guaxinins), animais de zoológico, podendo ainda ser exportada.
O deputado Estadual (SC) Mauro Denadau foi o quarto palestrante que citou o caos vivido por produtores leiteiros que com a mortalidade de animais que eram sua fonte de renda passam a ter custos para a destinação correta dessa carcaça. Para o descarte da carcaça o produtor geralmente aciona a prefeitura para que o animal seja enterrado, ele exemplifica a dificuldade dessa prática com casos ocorridos em Cunha Porã em Santa Catarina, onde foi prefeito por dois mandatos e que registrava a mortalidade média de 3 cabeças de gado por dia. Para enterrar estas carcaças, na maioria das vezes o município deslocava equipamentos por até 40 km. Ele reconhece que o enterramento não é mais uma técnica adequada e que os problemas são diários com a mortalidade.
Para reverter a situação, o deputado protocolou na Câmara dos Deputados do estado de Santa Catarina um projeto de lei que habilita a coleta e o processamento desses animais pelas indústrias de Reciclagem Animal permitindo que o setor que tem a capacidade e expertise destine corretamente esses resíduos.
Ao final das palestras, o Dr. Inácio Kroetz, diretor presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) pediu palavra. O Dr. Inácio chamou a atenção das autoridades presentes para que se posicionem definitivamente em relação ao assunto e que seja confeccionada uma legislação adequada, seguindo os passos indicados no relatório da Embrapa/CNPSA. O diretor finalizou cobrando soluções viáveis para o Brasil e para os produtores rurais. “Temos que sair do ‘vácuo legal’ que nos encontramos, achando soluções que sejam boas para o Brasil e para os produtores rurais”, conclui.
A ABRA discute o tema desde maio de 2013 quando realizou o II Painel Novos Horizontes para a Reciclagem Animal na Avesui. Esta associação é integrante do grupo de trabalho da Articulação da Rota Estratégica de Biotecnologia Animal que, desde 2013, vem discutindo com os diferentes elos da cadeia - indústria, governo e terceiro setor - a possibilidade da normatização da retirada de carcaças oriundas de mortalidades diárias das granjas para uso na reciclagem animal.
Com informações de Associação Brasileira de Reciclagem Animal.
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