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Publicado em 25/11/2014
Há 27 anos, o produtor Sérgio Käfer e a mulher Luciane acordam antes das 6 horas para começar a ordenha de dezenas de vacas criadas em Estrela, no Vale do Taquari. Com o dinheiro da venda do leite, recebido todo o fim do mês, após 30 dias de trabalho de domingo a domingo, o casal criou três filhos e estruturou a propriedade com equipamentos e galpões. Neste ano, pela primeira vez, pensaram em abandonar a atividade que sempre foi a principal renda da família.
O desânimo veio depois de entregarem leite durante 51 dias para a Promilk Laticínios, de Estrela, e não receberem nenhum real. Em agosto, a empresa chegou a pagar 33% do volume com a promessa de quitar o restante no mês seguinte. Em outubro, a Promilk parou de coletar leite e deixou quase cinco mil produtores gaúchos esperando pelo pagamento. Käfer, 52 anos, tem R$ 39,6 mil a receber.
Sem conseguir dormir, preocupado com contas a vencer e com financiamento feito neste ano para compra de um pulverizador, precisou tirar dinheiro da poupança e pedir ajuda a amigos. A última saída encontrada foi vender três das 37 vacas que tinha.
O drama da família Käfer é semelhante ao vivido por pelo menos outros 7 mil dos 130 mil produtores gaúchos de leite, conforme a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag). São pecuaristas que entregaram a produção às empresas Promilk, Mondaí, LBR, Hollmann e Pavlat e não receberam. As dívidas passam de R$ 20 milhões.
— Infelizmente, não há lei que proteja o produtor. Ele produz, vende e não tem segurança — critica Rogério Heemann, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Estrela.
A crise no setor, a mais grave da história, é atribuída à descoberta de fraudes e adulterações do produto e às dificuldades financeiras de diferentes empresas do setor lácteo.
Devedoras na mira do Ministério Público
Das cinco empresas com débitos com produtores de leite, três foram alvo de investigação do Ministério Público — Hollmann, Pavlat e Mondaí. As indústrias foram acusadas de aceitar cargas de leite adulteradas com produtos químicos.
A Hollmann, com sede em Imigrante, e a Pavlat, de Paverama, tiveram seus proprietários presos em maio deste ano na quinta etapa da operação Leite Compen$ado. A fraude descoberta no Estado em 2013 teve desdobramentos em Santa Catarina, onde foram deflagradas operações em agosto deste ano. Uma das empresas envolvidas é a Laticínios Mondaí, que não pagou pelo menos 800 gaúchos desde então.
— Produtores da região noroeste do Estado vendiam a produção para a indústria catarinense, que interrompeu as atividades depois da operação, o que nos preocupa mais ainda — explica Cleonice Back, coordenadora-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS).
Como medida para socorrer os produtores, entidades representativas pedem um seguro diferenciado. A médio prazo, o setor quer buscar uma revisão da legislação brasileira sobre falência e recuperação judicial de empresas.
— Queremos incluir o produtor como credor preferencial. Hoje, ele é o último da fila para receber — reclama Airton Hochscheid, assessor de Política Agrícola da Fetag.
Pela legislação atual, a preferência para pagamento de débitos é de trabalhadores, impostos e tributos e garantias a instituições financeiras. Os produtores rurais entram na relação de demais credores.
Para mais informações acesse: Zero Hora
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