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Publicado em 04/09/2014
Você é daquelas pessoas resignadas, que comem frango pensando que estão ingerindo um monte de hormônios? Se é, faz parte da maioria dos brasileiros. Nada menos do que 72% dos consumidores que compram o produto têm essa percepção, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O que muitos não sabem é que isso não passa de um mito, garantem governo e especialistas. Não há hormônios nesses alimentos. Na verdade, a grande preocupação hoje no consumo de carnes em geral é com o uso de antibióticos nos animais vivos. Uma avaliação que ganha força é que esses fármacos podem contribuir para o surgimento de bactérias e outros microorganismos cada vez mais resistentes a remédios.
As autoridades sanitárias impõem restrições, tanto em relação aos produtos que podem ser utilizados, quanto ao período de carência entre a aplicação e o uso de alimentos oriundos desses chamados animais de fazenda. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de se reduzir o volume de medicamentos, que vem crescendo em todo o mundo.
“A resistência aos antibióticos está se desenvolvendo e se espalhando a uma velocidade que não pode ser contida (...) Se não forem tomadas medidas urgentes para reduzir o consumo global de antibióticos, podemos enfrentar um regresso a uma era na qual as infecções simples podem matar", alerta a ONG Consumers International, que congrega 240 organizações de defesa de consumidores, de 120 países.
IDEC VÊ FISCALIZAÇÃO INSUFICIENTE
Segundo o coordenador geral de inspeção do Ministério da Agricultura (Mapa), Luiz Marcelo Martins Araújo, é permanente a fiscalização da presença de resíduos e contaminantes dos alimentos, por meio da análise de amostras, para a verificação de substâncias proibidas ou em concentrações acima das permitidas. No caso de hormônios, frisou Araújo, a utilização dos produtos jamais foi permitida no Brasil.
— Embora permitido o seu uso, os antibióticos, quando administrados aos animais de produção, trazem consigo a obrigatoriedade de que seja cumprido um período durante o qual a substância é eliminada do organismo animal, possibilitando que o consumo dos produtos não carregue consigo essas substâncias — explicou o técnico.
A nutricionista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Borboletto, concorda que a presença de resíduos é quase inexistente, com base em uma pesquisa feita pela própria instituição em frangos congelados há alguns anos. Porém, não é essa a preocupação do instituto.
— A questão não é a presença de resíduos. Apesar de sabermos que há normas específicas que permitem o uso de antibióticos em animais, sabemos que a fiscalização é insuficiente e nem sempre é garantido que o medicamento foi utilizado em quantidade adequada. Mesmo em quantidades mínimas, os antibióticos podem causar problemas no futuro — disse a nutricionista.
Uma forma de melhorar esse cenário, avalia, seria a consolidação de um sistema de rastreabilidade dos alimentos. Ana Paula avalia que a cadeia produtiva não tem esse controle. Outro caminho, disse, seria o consumidor optar pela carne orgânica, livre de antibióticos. Só que o produto é mais caro do que o convencional. Levantamento feito pelo GLOBO em um supermercado mostra que um frango da mesma marca pode ser até 18% mais caro por ser orgânico.
O zootecnista e especialista em nutrição animal da Universidade de Brasília (UnB) Sergio Lucio Salomon Cabral Filho reforçou que o risco não consiste na existência de resíduos de antibiótico nas carnes, mas no surgimento de bactérias mais resistentes nos animais e no consequente contato com o ser humano pelo consumo. Segundo ele, nos Estados Unidos, onde a maioria dos bovinos é criada em confinamento, o antibiótico é usado como promotor do crescimento em cerca de 60% dos casos.
No Brasil, observou, o índice de utilização dessas substâncias com o objetivo de promover o crescimento deve ficar perto de 15%. Mas há os casos de sua administração para prevenir e combater doenças. No caso dos frangos, o antibiótico é utilizado em quase toda a produção, tanto com objetivo terapêutico quanto de promover o crescimento, ao diminuir a população de patógenos no intestino das aves e melhorar a absorção de nutrientes. De acordo com o zootecnista, países como a Dinamarca proibiram o uso de antibióticos em animais com a finalidade de promover o crescimento.
— Hoje, os produtores trabalham com doses aceitáveis de antibióticos e os resíduos que ficam são em proporção aceitável para o consumo humano. Mas o problema é o surgimento de bactérias mais resistentes — disse Cabral Filho, que defendeu o desenvolvimento de políticas públicas no Brasil para o controle do uso dessas substâncias.
O empresário Paulo Cesar Thibes, sócio-diretor da Frangos Pioneiro, garante que os antibióticos são de uso profilático, para prevenir ou atenuar doenças, "uma realidade em vários países produtores de carne de frango":
— Mercados exigentes, como União Europeia e Japão, estão entre os importadores de carne de frango do Brasil. Tudo isso mostra que o produto ofertado ao consumidor brasileiro é da mais alta qualidade, sem qualquer risco para o seu consumo. Não é por acaso que a carne de frango é a mais consumida no Brasil e na maior parte do mundo.
SEM HORMÔNIOS, AVES ABATIDAS COM 45 DIAS
Os dados da ABPA mostram que, de fato, embora 72% das pessoas acredite que há hormônios de crescimento nos frangos, continuam consumindo aves por considerar que são mais saudáveis que a carne vermelha, perdendo apenas para os peixes.
A ABPA tem promovido eventos com médicos e nutrólogos, para desfazer o mito sobre os hormônios e informar os profissionais de saúde. De acordo com o diretor de produção da associação, Ariel Antônio Mendes, existe melhoramento genético, na nutrição e no meio ambiente dos galpões, o que permite que as aves sejam abatidas com 45 dias.
O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, disse que, no caso dos bovinos, o fato de o Brasil produzir com foco na exportação contribui para a preocupação com a qualidade.
— No Brasil, é proibido usar hormônio. Além disso, não temos interesse nenhum em usá-los. Isso pode ameaçar o mercado de exportação — disse.
Fonte: Com informações de OGlobo
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