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Melhoramento genético: novas técnicas e olhares

Publicado em 01/04/2016

Para a Ph.D em Genética Alison Van Eenennaam, a agricultura e a pecuária estão no centro da discussão sobre como alimentar a crescente população do planeta. Segundo ela, tecnologia será fundamental para que essas atividades consigam um esperado, e necessário, ganho de produtividade.  A australiana, que há 30 anos trocou a Oceania pela América do Norte, argumenta que existem diversas técnicas de melhoramento genético para plantas e animais e abrir mão de qualquer uma delas é também dar as costas para a sustentabilidade.

Na Universidade da Califórnia-Davis, Estados Unidos, Alison se dedica a diversas pesquisas independentes. Ela foi responsável por um dos mais abrangentes estudos sobre a biossegurança de alimentos transgênicos e atualmente está envolvida no desenvolvimento de vacas sem chifres por meio de uma técnica inovadora chamada de ‘edição’ genética. A AgroAnalysis conversou com a cientista sobre essas e outras descobertas que podem revolucionar a produção de alimentos no mundo.

Qual é a sua principal linha de pesquisa atualmente?

Trabalho com melhoramento de animais de criação. Tenho projetos que envolvem o desenvolvimento de espécies que expressam características desejadas, a exemplo de resistência a doenças ou a ausência de chifres, por meio de diversas abordagens de manipulação do DNA. A maior parte desses projetos envolve uma nova técnica chamada ‘edição’ genética.

No que consiste a ‘edição’ genética?

É uma ferramenta da biologia molecular que não introduz um novo gene no DNA do organismo a ser transformado. Ao invés disso, trabalhamos com os genes da própria espécie, editando-os para obter a sequência que nos interessa e, consequentemente, fazer com que o organismo expresse a característica que estamos tentando melhorar.

É possível introduzir novas características por meio dessa técnica?

Sim, mas de maneira diferente da transgenia. Façamos uma alegoria com o alfabeto. Na engenharia genética, para obter uma nova palavra, introduz-se uma nova letra. Já com a “edição” genética, buscamos novas combinações com as letras pré-existentes a fim de obter novas palavras. As palavras, nessa metáfora, representam as características que estamos buscando.

Me pergunto se essa técnica deve ser regulamentada da mesma maneira que a engenharia genética. Do ponto de vista da biossegurança, parece óbvio que se levantem menos questões a respeito de um organismo geneticamente editado, uma vez que, a exemplo das vacas sem chifres, esse animal já está na alimentação das pessoas e nenhum gene foi adicionado. Com essa técnica, não cruzamos a barreira entre espécies. Em outras palavras, diferentes técnicas de melhoramento genético merecem olhares distintos, inclusive do ponto de vista regulatório.

Você mencionou que a transgenia transpõe a barreira entre espécies. Há motivos para as pessoas se preocuparem com alimentos produzidos a partir dessa técnica?

Não. O que a transgenia faz é introduzir uma proteína específica de um organismo em outro. Devemos garantir que essa proteína não é alergênica nem tem outra característica indesejável. O fato de vir de uma espécie ou de outra não é, realmente, a questão. O que importa é o produto final. Se a avaliação concluir que o produto é equivalente, à exceção da proteína adicionada, então ele é um alimento tão seguro quanto as variedades convencionais.

Além disso, em vinte anos de consumo de alimentos desenvolvidos por meio dessa tecnologia, não há um só caso em que os alimentos transgênicos fizeram algum tipo de mal simplesmente pelo fato de serem geneticamente modificados (GM). Todas as mais respeitadas sociedades científicas do mundo chegaram à conclusão de que os transgênicos aprovados são tão seguros quanto seus equivalentes convencionais.

Podemos confiar nas análises de biossegurança que atestam a segurança dos transgênicos?

Sim. Porém, as agências de análise de biossegurança dos países não dizem se um alimento é seguro. O que elas fazem, com o respaldo da ciência, é garantir que eles são tão seguros quanto as variedades convencionais. Não é possível dizer, por exemplo, que o amendoim é 100% seguro porque algumas pessoas são alérgicas a esse alimento. Na hipótese de ser desenvolvido um amendoim transgênico, o que a agência faria, é dizer se a variedade geneticamente modificada é tão segura quanto a convencional.
Dessa maneira, a questão é, seria o alimento transgênico menos seguro do que os cultivos convencionais? Se a resposta das agências de análise independentes, como a Food and Drug Administration (FDA) nos EUA e a Comissão técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no Brasil, for não, esse organismo geneticamente modificado (OGM) não representa risco adicional à saúde humana, animal ou ao meio ambiente. Até hoje, todas as evidências científicas apontam nesse sentido.

Existem estudos de longo prazo comprovando que os transgênicos são tão seguros quanto variedades convencionais?

Sim. Coordenei um estudo publicado na revista científica Journal of Animal Science que oferece uma avaliação bastante completa sobre o impacto dos OGM na alimentação animal. A pesquisa analisou 29 anos de produção pecuária e colheu dados sobre a saúde dos animais antes e depois da introdução dos transgênicos. A conclusão do estudo é que a alimentação transgênica é equivalente à não transgênica e não há evidências de reações adversas associadas aos produtos GM. A amostra foi de mais de 100 bilhões de animais. O estudo também mostrou que não existem diferenças na qualidade nutricional da carne, leite ou de outros produtos derivados de animais alimentados com ração contendo ingredientes GM.

Na área agrícola a biotecnologia é uma ferramenta bastante consolidada, entretanto, não há uma frequência tão grande de animais transgênicos no mercado. Por que essa diferença?

Em geral, as tecnologias de transferência de um gene de uma espécie para outra têm uma taxa de sucesso baixa. De 100 embriões que passam pelo processo de transformação, pode ser que em apenas um deles o gene inserido seja viável e estável. Quando nós estamos falando de um milho, isso não é um grande problema pois é possível gerar várias gerações da planta em um curto espaço de tempo. Porém, no caso de embriões de animais, o processo é extremamente custoso e demorado. Ainda assim, isso tem sido feito e há exemplos de animais GM nos EUA e pesquisas avançadas na Argentina e no Brasil.

Devemos esperar mais animais GM no futuro?

Nos EUA eles já são uma realidade. Recentemente a FDA aprovou um salmão GM para consumo humano e uma galinha em cujos ovos é produzido um composto medicinal. Antes deles também foram liberados coelhos e cabras transgênicos que produzem substâncias úteis para a indústria farmacêutica em seus leites.
No mundo, há diversas pesquisas envolvendo resistência a doenças, principalmente em aves, bovinos e suínos. Atualmente, doenças causam a perda de aproximadamente 20% de toda proteína animal produzida. Com essa tecnologia, seria possível evitar ou reduzir essa perda. Do ponto de vista econômico, um rebanho mais resistente produz mais carne em um espaço menor. Além disso, se não adoecerem, também não será necessário medicá-los. Por todos esses benefícios, a criação de animais GM é mais sustentável.

Como lidar com movimentos anti-ciência e anti-OGM que usam abordagens violentas de protestos?

Devemos sempre tentar a abordagem do diálogo. A maioria das pessoas é bastante razoável e está disposta a aprender e debater. No meu caso, por exemplo, quando explico que meu trabalho de desenvolvimento de vacas sem chifres é bom para a criação de animais por facilitar o manejo, é sustentável porque será possível produzir mais com menos e não envolve nenhuma grande empresa porque seu financiamento é público, as pessoas tendem a dar uma resposta positiva. Esse trabalho tem impactos positivos para os animais e para as pessoas. Quando o público descobre isso ele tende a ser mais receptivo. Em minha experiência, percebo que os pontos de discordância geralmente não dizem respeito à tecnologia em si, mas sim sobre questões comerciais, éticas e sociais. Hoje, como a maioria dos produtos da biotecnologia traz benefícios para o produtor, uma parte do público das cidades não consegue ver vantagens nos transgênicos. Porém, na medida em que características como benefícios nutricionais forem cada vez mais incorporadas aos OGM, acredito que as manifestações contrárias também vão diminuir.

Ao analisarmos a necessidade de aumento de produtividade na agricultura e na pecuária, fica claro que a tecnologia é uma aliada. Não podemos abrir mão de ferramentas inovadoras como a engenharia ou a ‘edição’ genética na busca por uma produção de alimentos cada vez mais sustentável.

Fonte: Cib

O  Roadmapping da Biotecnologia aplicada às Indústrias Agrícola e florestal, vislumbrando a importância da biotecnologia, faz interagir grupos de especialistas e induz, de forma compartilhada, a criação de visões de futuro que têm como objetivos desenvolver a biotecnologia agrícola e florestal paranaense.

A visão de futuro para a Indústria Agrícola e Florestal  como referência a genética e melhoramento vegetal tem a biotecnologia como principal vetor de desenvolvimento de novos produtos e processos. O reconhecimento na área demanda investimentos em pesquisa em biotecnologia aplicada à genética e melhoramento vegetal.

Diante disso, os Observatórios do SESI/SENAI/IEL desenvolve grupos de trabalhos que envolvem pessoas com amplo conhecimento e vivência na área de biotecnologia que tem como objetivo expandir esse setor industrial no Paraná. 

Para maiores esclarecimentos entrar em contato pelo telefone (41) 3271-7471 ou pelo e-mail observatorios.rota.biotecagroflorestal@fiepr.org.br

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