Os pesquisadores precisam se conscientizar sobre todas as normas do novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação
para evitar a burocracia no desenvolvimento das pesquisas científicas. Esse foi um dos temas discutidos no Fórum
da RNP2016, realizado em parceria com o Consecti (Conselho de Secretários Estaduais de Ciência, Tecnologia e
Inovação), em Brasília, e que tratou das contribuições dos órgãos de controle
na elaboração do marco regulatório.
Mediado pela presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, o debate reuniu a professora Rozângela Pedrosa, coordenadora da regional
Sul da Fundação de Formação Tecnológica (Fortec); o vice-presidente do Conselho Nacional
das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica
e Tecnológica, Fernando Peregrino. E também os representantes da Controladoria Geral da União (CGU),
Alexandre Gomide, e do Tribunal de Contas da União (TCU), Mauro Giacobbo.
A presidente da SBPC voltou a
defender a criação de uma cartilha para facilitar o entendimento sobre as normas do Marco Legal e contribuir
para que a nova legislação seja implementada de forma eficaz, trazendo contribuições para o avanço
econômico por intermédio da ciência, tecnologia e inovação.
A ideia é que
todas as instituições de CT&I, públicas e privadas, juntamente com os órgãos de controle,
tracem um roteiro esclarecendo os pontos que devem ser seguidos na utilização do Marco Legal de CT&I. “Precisamos
fazer a legislação chegar na ponta”, defendeu.
O Marco Legal foi aprovado no ano passado nas
duas casas do Congresso Nacional por unanimidade e sancionado em janeiro deste ano com oito vetos. A nova legislação
ainda encontra-se em processo de regulamentação e há uma corrida de todas as partes interessadas para
derrubar os vetos, seja por medida provisória, seja por projetos de lei.
O vice-presidente do Confies acha
que é necessário desamarrar os nós que travam a área científica e afirmou que a “micro
burocracia” excessiva está asfixiando a pesquisa e provocando danos irreparáveis. Em razão da burocracia,
Peregrino, diretor de orçamento do Centro de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que na área que dirige o número de pesquisadores foi reduzido
de 1,050 mil para 850 no ano passado. “Quando eu demito uma equipe de pesquisadores desenvolvida há 10 anos ela
se dispersa.”
Para ele, a burocracia é um dos motivos pelos quais o Brasil figura hoje na 70ª.
posição do ranking mundial de 2015 e um dos piores no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 74º.
em 2014. Ele apresentou dados que reiteram que em competitividade o País figura no 75º. lugar em 2016, enquanto
na burocracia está em 116º.
Na opinião do pesquisador, para evitar a burocracia com o Novo Marco
Legal as instituições de pesquisa precisam se inteirar sobre a nova legislação, já que
a maioria que utiliza as normas nas pesquisas não são advogados. “O Marco Legal só conseguirá
resolver a burocracia se ele ajudar a conscientizar os agentes implementadores. Todos nós temos de dominar a ferramenta
para atingir o objetivo final, que é a inovação no Brasil”, disse.
Segundo ele, as fundações
de apoio às instituições de ensino superior movimentam por ano R$ 6 bilhões em pesquisas, mas
a burocracia asfixia as fundações, que no total somam 104 e são responsáveis por 15 mil projetos
de pesquisas em 2015, a maior parte deles apoiado pela indústria. “As regras burocráticas e irracionais
atingem a todos os órgãos de fomento”, afirma.
Citou, por exemplo, o manual de contratos da
Petrobras, que exige a apresentação de um recibo manual do bolsista sobre o pagamento mensal – além
do recibo bancário. Afirmou que se o recibo manual não for apresentado toda prestação de contas
das fundações é bloqueada. Disse que a Petrobras investe R$ 500 milhões em pesquisa nas fundações
de apoio que estão sujeitos a regras muito burocráticas e rígidas. Citou o exemplo que precisou devolver
R$ 0,83 (centavos) e ver paralisada uma parcela de R$ 350 mil mensais para a pesquisa. “Será que não tem
ninguém com bom senso para olhar isso?”, questionou.
A coordenadora da regional Sul do Fortec, Rozângela
Pedrosa, destacou os principais pontos do Marco Legal de CT&I para estimular a parceria entre a universidade e a empresa
e disse que a implementação deve facilitar a redução da burocracia.
Para ela, a nova
legislação representa segurança jurídica, simplificação dos processos administrativos,
de pessoal e financeiro nas instituições públicas de pesquisa. “Sofremos no dia a dia com uma lei
ainda de 2004”, disse, referindo-se à Lei de Inovação (10.973, de 2 de dezembro de 2004). Rozângela
destacou que a nova lei traz conceitos importantes para inovação.
O representante do CGU, Alexandre
Gomide, lembrou que o órgão de controle participou da elaboração o Marco Legal de CT&I e disse
que o foco da instituição está partindo para auditoria de desempenho. “Algumas coisas fazemos até
pela exigência legal. E o Marco Legal para nós é positivo, porque era complicado para avaliar um convênio,
quando o projeto envolvia pesquisa científica”, disse. Segundo ele, o Marco Legal deve ajudar a fazer “nossas
avaliações com viés no resultado e aumentar o volume de inovação no País”.
Já o representante do TCU, Mauro Geraldo, disse que o órgão está à disposição
para colaborar, atacando as micro burocracias pela utilização da tecnologia no controle.
Envie para um amigo