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Uma das marcas mais profundas de um país civilizado é a sua investigação

Portugal necessita de investimento plurianual e consistente, diz António Vaz Carneiro, director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

O crescimento da investigação científica em Portugal nos últimos anos é uma “história de sucesso”, sublinha António Vaz Carneiro, director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Mas há ainda um caminho a prosseguir nesta área, havendo a necessidade de “mais investimento a longo prazo”. Segundo António Vaz Carneiro é necessário “guardar uma via de investimento sólida, plurianual e consistente para a área da investigação científica médica” que permita realizar estudos clínicos e não apenas “investigação biomédica básica, a nível celular, do genoma, aquilo que mais se faz actualmente”.

Especialista em medicina baseada na evidência, ou seja a prática explícita e conscienciosa da utilização da ciência como base de apoio à decisão, António Vaz Carneiro não tem dúvidas que investir em investigação científica não é despesa mas sim ganho.

“Os norte-americanos são dos que mais investem em investigação científica. Por cada dólar investido recebem 1,8 dólares. Um investimento que se paga desta maneira vale a pena. Uma das marcas mais profundas de um país civilizado é a sua investigação científica”, sublinha o entrevistado.

No seu percurso profissional, António Vaz Carneiro passou pelos Estados Unidos da América onde tomou contacto com a Medicina Baseada na Evidência, uma tradução de sua autoria do original inglês Evidence-Based Medicine. “Em inglês «evidence» significa prova. «Evidência» em português não tem esse mesmo significado, mas achei que traduzir por “medicina baseada nas provas” se perdia a conotação”, adianta o director do CEMBE, criado em 1999.

A Medicina Baseada na Evidência é a prática explícita e conscienciosa da utilização da ciência como base de apoio à decisão.
O centro nasceu no seio da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa com o intuito de disseminar esta metodologia de trabalho que passa por utilizar “a melhor evidência científica possível” no momento de tomar uma decisão clínica.

O CEMBE tem três departamentos e uma equipa multidisciplinar constituída por 15 pessoas de áreas de conhecimento diversas como a saúde, gestão, farmácia, enfermagem, economia. No departamento de formação, o CEMBE tem uma oferta que passa pela pré e pós-graduação, mestrados, doutoramentos.

No departamento de investigação desenvolvem trabalhos observacionais e revisões sistemáticas da literatura, ou seja sínteses estruturadas de estudos publicados tornando-os mais acessíveis a todos. Nos estudos observacionais tenta-se perceber, por exemplo, o impacto económico e social de uma determinada doença em Portugal. As áreas de investigação com maior interesse para o CEMBE, entre outras, são as doenças cardiovasculares, a diabetes, o cancro e as doenças generativas do sistema nervoso central.

Por fim, a consultoria científica tem projectos com hospitais, centros de saúde e outras entidades. António Vaz Carneiro sublinha que na essência o “CEMBE produz conhecimento”. Um conhecimento importante na tomada de decisão clínica, mas também aplicável à decisão política e de gestão.

O director do CEMBE pormenoriza: “se num hospital não tratam determinado tipos de doentes com artrite reumatoide avançada então não têm de ter medicamentos para isso. Nesse caso, que medicamentos devem utilizar? E de que forma? Quais são eles? Estas decisões não têm de ser tomadas com a intuição, mas sim baseadas em produção científica sólida de milhares e milhares de estudos”.

Vaz Carneiro defende que o “médico tanto, quanto possível, deve estar bem informado sobre as áreas científicas do seu campo de actuação”.
O entrevistado considera ainda que a maioria dos problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “não são políticos, mas técnico-científicos”. Vaz Carneiro explica que decidir, por exemplo, sobre fazer uma campanha antitabágica ou de vacinação para hepatite é uma decisão que deve ser baseada na melhor evidência científica disponível, para além das naturais prioridades políticas.

“Esta decisão não pode ser baseada naquilo que se acha, o decisor político tem de ter acesso a relatórios sobre qual a epidemiologia do tabagismo e seus problemas, a epidemiologia da hepatite e seus problemas, tem de perceber o impacto da vacinação da hepatite, que vacinas existem, se são eficazes em todos os cidadãos. No tabagismo deve saber se é melhor apostar em consultas ou numa campanha publicitária e se esta deve passar na rádio, na televisão. Para tudo isto existem dados científicos sólidos”, afirma.

Contudo, tomar decisões com base científica pode ser difícil devido ao elevado número de informação publicada. Nas duas maiores bases de dados de artigos reúnem-se mais de 30 milhões de artigos científicos.

Mas é aí que o CEMBE tem o seu papel mais relevante porque faz uma gestão cuidada, explícita e racional da informação.

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