O que achou do novo blog?
e receba nosso informativo
Publicado em 06/06/2018
Principal produtor de laranja e exportador de suco de laranja do mundo, o Brasil tem enfrentado desde 2004 uma das pragas
agrícolas mais complexas para controle no que serefere às culturas de citros (laranjas, tangerinas, limões e limas ácidas).
Trata-se do greening ou huanglongbing (HLB), doença causada pelas bactérias Candidatus Liberibacter
asiaticus e Candidatus Liberibacter americanus. Relatos evidenciam a presença da doença nas principais regiões
citrícolas do mundo, com exceção dos países do Mediterrâneo e da Europa. Na Flórida (EUA), cerca de 90% dos pomares estão
contaminados.
Estima-se, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que o greening foi responsável
pela erradicação de mais de 45 milhões de árvores no parque citrícola paulista nos últimos 14 anos. O Brasil é referência
no controle da doença. Atualmente, o greening está presente em 32,2 milhões de plantas. Nesse cenário, a citricultura ganha
um novo aliado para o controle da doença, já que agora conta com o primeiro bioinseticida e importante peça inovadora no quebra-cabeça
do controle do psilídeo Diaphorina citri, vetor de transmissão da doença. ?O greening é um problema mundial e a transmissão
se dá sempre pelo psilídeo. Além do Brasil, os EUA sofrem muito com as bactérias?, explica Diogo Rodrigues Carvalho, engenheiro
agrônomo e gerente para grandes clientes da Koppert do Brasil. A empresa, em parceria com o Fundecitrus e a Escola Superior
de Agricultura ?Luíz de Queiroz? (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP) ? campus Piracicaba/SP, desenvolveu ao longo de
sete anos de pesquisa o Challenger, nome comercial da primeira alternativa biológica para o controle do psilídeo Diaphorina
citri. O lançamento comercial oficial do produto foi feito no dia 23 de maio durante o II Simpósio Internacional de Greening,
realizado em Araraquara/SP e promovido pelo Fundecitrus.
TRANSMISSÃO DO GREENING
?Por
ser um inseto sugador, ao se alimentar da seiva de uma planta infectada com o greening, ele adquire a bactéria e passa a transmiti-la
para plantas até então sadias, daí a importância do controle do inseto, pois se trata do principal vetor da doença. Outro
fato que contribui para que o greening seja altamente disseminado é que tanto a bactéria quando o vetor são encontrados em
plantas da família das Rutaceae (Murta), árvores que são popularmente usadas como ornamentação em diversas cidades?, detalha
José Leonardo Santos, engenheiro agrônomo e consultor técnico de vendas da Koppert. Essa é a doença mais grave que atinge
os citros no mundo. ?Além de não ter cura, árvores novas não chegam nem a produzir frutos, enquanto as plantas mais velhas
reduzem de forma significativa a produção. Plantas com os sintomas do greening devem ser erradicadas do pomar?, completa Santos.
PESQUISA
Na ESALQ/USP os estudos foram conduzidos pelo professor Ítalo Delalibera Júnior
e resultaram na seleção do fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea. ?Trata-se de uma grande conquista. É o primeiro produto
biológico à base de Isaria fumosorosea no Brasil e existem poucos no mundo. É uma ferramenta com grande potencial e que vem
contribuir muito com o setor da citricultura?, comemora o pesquisador.
A ação deste fungo se dá através do contato
direto. Os conídios do fungo, após a pulverização são depositados sobre o alvo, aderindo ao tegumento (corpo) do inseto. Então,
inicia-se o processo de germinação do fungo, produzindo um complexo de enzimas que atuam na degradação do corpo do inseto,
permitindo que o fungo penetre em seu hospedeiro. Uma vez no interior do inseto, o fungo continua seu processo de desenvolvimento.
A partir daí outras enzimas passam a ser liberadas, ocasionando um processo infeccioso que, aliado a metabolitos liberados
pelo fungo, causam a morte do inseto. Logo em seguida, o fungo inicia um processo de extrusão, onde contamina todo o corpo
do inseto, que passa a ser uma fonte de novos esporos do fungo. Comumente o inseto fica recoberto com uma fina e pulverulenta
camada de conídios de tom rosáceo, então passando a ser uma fonte de esporos do fungo naquele ambiente. A ação de esporular
só acontece em ambiente ideal (caso não haja condição, mata mas não esporula). Por se tratar de um fungo entomopatogênico,
o Isaria fumosorosea atua em todas as fases do inseto. Tanto ovos, ninfas e adultos do Diaphorina citri são suscetíveis à
ação do fungo.
?Por se tratar de um produto biológico, o mesmo não deixa resíduos no fruto, nem necessita de carência
para entrada de pessoas no pomar, pois o ingrediente ativo, o fungo, atua somente no inseto, não sendo prejudicial ao ser
humano?, completa Santos, da Koppert. Para o diretor industrial da empresa, Danilo Pedrazzoli, outro importante ponto a ser
considerado é a compatibilidade do produto Challenger com defensivos químicos contidos na lista de Produção Integrada dos
Citros (PIC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), demonstrando que a tecnologia biológica poder
ser consorciada em campo com outras metodologias de controle de pragas, o que evidencia a importância do Manejo Integrado
de Pragas [MIP] no controle de resistência do psilídeo. A opinião é compartilhada pelo gerente da empresa, Diogo Carvalho:
?Ele pode dar mais equilíbrio no MIP, diminuindo a carga de defensivos químicos, que pelo uso contínuo causam desequilíbrio
em outras pragas, podendo vir a gerar resistência do psilídeo?.
?Estamos muito satisfeitos em poder oferecer ao
citricultor uma ferramenta sustentável, que reduz o risco de seleção do Diaphorina citri, o que o torna resistente
a inseticidas químicos. Estamos continuando a pesquisa e acreditamos que o produto possa ter controle em pragas secundárias
da citricultura. O Challenger também pode ser associado à Tamarixia radiata, parasitoide inimigo natural
do psilídeo Diaphorina citri, o qual o Fundecitrus produz em sua biofábrica, inaugurada em março de 2015?, detalha Juliano
Ayres, gerente do Fundecitrus.
Para ele, o objetivo do Fundecitrus é contribuir com o manejo sustentável do greening,
proporcionando um meio natural de reduzir a população de psilídeo e, consequentemente, diminuir incidência da doença nos pomares.
IMPACTO DO GREENING
É a doença mais severa e letal que afeta a citricultura
mundial devido ao seu poder destrutivo, causando queda de produtividade e diminuição da qualidade do fruto e do suco. No Brasil,
está atualmente presente nos estados de São Paulo (desde 2004), Minas Gerais (desde 2005) e Paraná (desde 2007).
Em São Paulo, ocorre em todas as regiões produtoras de citros localizadas em mais de 300 municípios, tendo sua incidência
média estimada em cerca de 17% das plantas de laranja. Em Minas Gerais está presente no sul do Triângulo Mineiro, na região
Sul e Sudoeste do estado, em cerca de 20 municípios. No Paraná, foi identificado em 89 municípios das regiões Norte e Noroeste,
com incidência entre 10 e 15% de laranjeiras afetadas. A área de citros plantada em SP passou de 650 mil hectares em 2005
para 430 mil hectares em 2016, principalmente devido à saída de pequenos e médios citricultores com dificuldades de manejar
a doença pelos custos e queda de produção.
Na Flórida (EUA), o greening foi descoberto em 2005. Devido
à ausência de medidas efetivas de contenção do avanço da doença, como um sistema de produção de mudas em viveiros protegidos
do inseto vetor, controle sistemático do psilídeo e, sobretudo, a eliminação de plantas doentes, a produtividade e a longevidade
dos pomares caíram drasticamente na última década. De uma produção de 149,8 milhões de caixas em 2005/06, a safra de 2016/17
atingiu apenas 67 milhões de caixas (dados do USDA, o Departamento de Agricultura dos EUA).
A produtividade dos
pomares de laranja da Flórida, que em 2004, antes da doença, era de 43 toneladas/hectare, atualmente é inferior a 24 toneladas/hectare.
Na Flórida, de 2006 a 2014, o greening causou prejuízos estimados em US$ 9 bilhões ao setor e a perda de mais de
7.500 empregos.
CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS COM GREENING
Os sintomas se manifestam com o surgimento de ramos inicialmente setorizados com folhas amarelas e a presença de folhas
mosqueadas ou com clorose (amarelecimento ou branqueamento) assimétrica.
Na medida em que a bactéria se espalha
sistemicamente pelos vasos do floema da planta, ocorre obstrução do transporte de nutrientes dentro da planta e os sintomas
tomam conta de toda a copa, inclusive das raízes, com a redução do sistema radicular, desfolha, brotações atípicas, definhamento
da planta, presença de frutos deformados, de coloração esverdeada, imaturos e com sementes abortadas que caem prematuramente.
Plantas jovens infectadas nem chegam a produzir e plantas adultas infectadas têm sua produção reduzida em mais de 60% em quatro
a cinco anos. Não há métodos práticos e viáveis para a cura da doença.
MERCADO DE CITROS NO PAÍS
Dados do Fundecitrus de maio de 2018 mostram que a área plantada com citros nos parques com cultivo da cultura em
São Paulo e no Triângulo/Sudoeste Mineiro abrange 465.635 hectares, divididos em 401.470 hectares com as principais variedades
de laranja, 12.883 hectares com outros tipos de laranjas, 39.078 hectares de limões verdadeiros e lima ácida, além de 12.204
hectares com tangerinas.
As exportações brasileiras responderam por cerca de 60% do consumo mundial de suco de
laranja. Em 2015, de acordo com os dados publicados pela Markestrat gerados a partir da TetraPak, estima-se um consumo de
1,938 milhão de toneladas nos 40 principais mercados de suco, que juntos somam quase a totalidade da demanda global. A cada
cinco copos de suco tomado em qualquer parte do mundo, três foram produzidos no Brasil.
Uma estimativa da movimentação
financeira de todos os elos da cadeia da citricultura no Brasil alcança US$ 14,6 bilhões. O setor gera, entre empregos diretos
e indiretos, 150 mil posições estimadas a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Foi o segmento que mais gerou
empregos durante o ano de 2016 entre todas as categorias da agropecuária no Estado de São Paulo, segundo dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.
No último dia 9 de maio o Fundecitrus
divulgou que a estimativa para a safra da laranja 2018/19 no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro
deve ser de 288,29 milhões de caixas, de 40,8 kg cada. O número é 27,62% menor do que a safra passada, que foi a quarta maior
da história, e 17,52% maior em comparação à safra 2016/17. A quantidade para esta temporada é 11% menor do que a média dos
últimos dez anos.
Fonte: Grupo Cultivar
Envie para um amigo