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Publicado em 12/09/2017
Até 2010, o pequeno produtor Adeílson Gomes de Souza, o seu Dedé, do Município de Maués (AM), produzia em média 70 kg de guaraná por hectare. “Essa produtividade que obtinha em uma área de seis hectares, estava inviabilizando o trabalho com a cultura e se não tivesse adotado novas tecnologias, com certeza teria abandonado o guaraná”, ressalta seu Dedé.
Esse quadro começou a mudar quando o produtor decidiu adotar as cultivares de guaraná desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM). Em sete anos, seu Dedé viu sua produção aumentar em mais de cinco vezes: saltou de 70kg por hectare para uma média 400kg a 500kg de semente seca por hectare. “O que eu produzia na minha área toda, hoje eu produzo em apenas um hectare”, comemora.
O produtor planta em uma área de dez hectares, sendo cinco já em produção de frutos e outras cinco em fase de implantação. Com essa produção, o agricultor afirma que a cultura é rentável, o que não acontecia antes. “Com a tecnologia da Embrapa, a produção de guaraná compensa, mesmo com as despesas altas, principalmente com a mão de obra na época de colheita”, explica.
Potencial dez vezes maior
As cultivares de guaranazeiros desenvolvidos pela Embrapa têm potencial para aumentar em mais de dez vezes a produtividade da cultura. Já foram lançadas 18 cultivares para uso comercial pelo Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, sendo que algumas dessas variedades podem chegar a uma produção de 2,5 kg de semente seca por planta, enquanto a média estadual é de cerca de 0,2 kg. Além de maior produção, essas cultivares são resistentes à principal doença que ataca o guaranazeiro, a antracnose.
Para chegar a esses resultados foi um longo processo, iniciado há mais de quatro décadas, com a seleção de plantas matrizes, desenvolvimento de progênies, testes em campo até chegar às cultivares clonais lançadas e disponibilizadas para os produtores. Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Firmino José do Nascimento Filho, na década de 1970, a produção de semente de guaraná chegou a níveis muito baixos, principalmente em decorrência da antracnose, doença causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola, que ataca as folhas, atrofia galhos e impede a frutificação, muitas vezes levando à morte da planta. Na época, praticamente todos os guaranazeiros do Município de Maués, maior produtor do estado, foram atacados pela antracnose.
“A Embrapa, ainda no início de suas atividades, teve a missão de solucionar esse problema, momento em que começa o Programa de Melhoramento Genético do Guaraná, com estudos mais sistematizados sobre a cultura”, relata Nascimento Filho.
O primeiro passo para o programa de melhoramento foi a busca de matrizes. Foram selecionadas plantas de guaraná que apresentavam resistência à doença e produtividade alta. Essas matrizes foram levadas para o campo experimental da Embrapa em Maués e iniciou-se a formação de progênies com potencial comercial.
Porém, segundo Nascimento Filho, os primeiros experimentos não deram os resultados esperados, e as novas progênies continuavam sendo suscetíveis à antracnose. “Numa área de um hectare, das 400 plantas cultivadas, metade morria antes de começar a produzir. E, da outra metade, 80% apresentava problemas da doença com o tempo. Ou seja, sobrava apenas 10% do cultivo inicial produzindo.”
Solução
A solução encontrada pelos pesquisadores na época foi a reprodução vegetativa das plantas, formando cultivares clonais a partir daquelas matrizes que apresentavam as características desejadas. A técnica escolhida foi a estaquia, e a partir de testes foram definidos os protocolos para a produção de mudas. Com o sucesso das avaliações em campo, em 1999 foram lançadas as duas primeiras cultivares clonais comerciais, a BRS Maués e a BRS Amazonas.
“Quando cheguei na Embrapa, vários clones já estavam prontos para ser disponibilizados para o produtor. Então, em 2000 lançamos mais dez cultivares clonais de guaranazeiros”, conta o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental André Atroch, hoje responsável pelo programa de melhoramento genético da cultura.
Entre as vantagens do uso da propagação vegetativa pelo método de enraizamento de estaca, está o tempo gasto para a formação de mudas para o plantio definitivo, que é de sete meses, enquanto no método tradicional com o uso de sementes, o período necessário é de cerca de 12 meses. Além disso, mudas clonais possuem precocidade para o início da produção, que é, em média, de dois anos, em oposição a quatro anos para plantas tradicionais. E a produção comercial estabiliza-se após o terceiro ano do plantio, no caso dos clones, sendo que nas mudas obtidas por semente é somente após o quarto ano.
Segundo André Atroch, com o banco genético formado, continuou o trabalho de seleção e avaliações em campo, o que resultou no desenvolvimento de novas cultivares. A partir de 2007, foram lançadas quatro novas cultivares clonais: BRS Cereçaporanga, BRS Mundurucânia, BRS Luzéia e BRS Andirá. E em 2013 mais duas foram disponibilizadas ao mercado, BRS Saterê e BRS Marabitana. Todas elas mantendo as mesmas características, com uma produtividade média acima de 1,5 Kg de semente seca por planta.
Novas cultivares propagadas por sementes
Uma cultivar desenvolvida pela Embrapa está em processo de registro e proteção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A novidade é que as mudas dessa variedade são obtidas a partir de sementes. De acordo com Atroch, com a estabilização do banco genético e uso de novas técnicas, foi possível desenvolver essas cultivares utilizando sementes, mantendo as mesmas características de alta produtividade e resistência à antracnose.
A BRS Noçoquém já está registrada no Mapa e aguarda apenas o processo de proteção e autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) para o seu lançamento oficial, sendo que deve estar disponível para o produtor em menos de um ano após o lançamento. Já a outra cultivar, ainda não batizada, se encontra em processo de validação e deve demorar um pouco mais para chegar ao mercado. André Atroch relata que uma das principais diferenças dessas cultivares propagadas por sementes é a maior facilidade de formação de mudas pelos agricultores.
Nas variedades clonais, é necessário credenciar viveiristas para a produção das mudas, uma vez que a técnica requer mais cuidados, o que eleva o custo para o produtor. “Já com as sementes, o próprio agricultor pode fazer suas mudas e depois plantá-las em suas áreas de cultivo. Mesmo que elas tenham um tempo maior até chegar ao ponto de plantio, o agricultor terá menos gasto e mais controle de todo o processo”, ressalta o pesquisador. Avaliações nos campos experimentais da Embrapa revelaram que a BRS Noçoquém alcançou produtividade média anual de 2,3 kg de semente seca por planta.
Banco Ativo de Germoplasma do Guaraná
O desenvolvimento do programa de melhoramento do guaraná só foi possível graças ao Banco Ativo de Germoplasma (BAG) que a Embrapa Amazônia Ocidental mantém nos campos experimentais em Maués e Manaus. Segundo André Atroch, o BAG atualmente abriga cerca de 300 acessos da planta e possui uma ampla variabilidade genética, o que contribui para os trabalhos de melhoramento. “Temos materiais bem promissores que estamos trabalhando, alguns chegam a produzir até seis quilos de semente seca por planta. Mas são dados iniciais e precisamos realizar ainda testes e avaliações para estimar o potencial verdadeiro”, diz.
O BAG começou a ser formado no fim da década de 1970 com a seleção de plantas no Município de Maués. Essa seleção foi ampliada para outras regiões do estado, incorporando novas variedades da espécie. Segundo Nascimento Filho, o banco chegou a ter mais de mil acessos, mas com o tempo foram mantidas as mais representativas e com maior potencial para o programa de melhoramento genético.
Fonte: Embrapa
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