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Empresa de biotecnologia quer vender moscas transgênicas no Brasil

Publicado em 07/11/2016

A gigante da área de biotecnologia Intrexon, que controla a Oxitec –famosa por causa dos mosquitos aedes transgênicos–, quer trazer mais um inseto geneticamente modificado para o país.


Trata-se de uma versão da mosca-do-mediterrâneo, popularmente conhecida como mosca-da-fruta, não à toa considerada a pior praga para o cultivo de frutas, com prejuízo anual mundial na casa dos US$ 2 bilhões. A mosquinha transgênica possui um mecanismo de limitação do crescimento semelhante ao do aedes transgênico: seus filhotes não chegam à fase adulta. A tática é liberar somente os machos nas áreas de cultivo de frutas como manga, uva, acerola, goiaba e laranja (para citar só algumas das 200 espécies afetadas) para que eles encontrem e copulem com as fêmeas selvagens. Como desse encontro não haverá filhotes, o tamanho da população diminui.


Em conversa com a Folha, Sekhar Boddupalli, presidente da área de proteção à lavoura da Intexon, afirmou que a ideia é dar entrada no pedido para que os primeiros testes sejam realizados no Brasil já no começo de 2017. "O Brasil é um dos líderes mundiais na produção de alimentos. Essa solução não é só boa para o produtor local –que está fazendo um ótimo trabalho nos últimos 20 anos–, mas também para o mundo. No inverno europeu, melões, mangas e outras frutas são importadas do Brasil."


A Intrexon está celebrando a inauguração da biofábrica da Oxitec em Piracicaba, com capacidade para produzir 60 milhões de Aedes aegypti semanalmente. Para a produção das moscas-das-frutas modificadas, utiliza-se da mesma tecnologia.


Como a nova fábrica foi montada em apenas cinco meses, o mesmo tipo de planta pode ser facilmente replicado em outras partes do país, como o Vale do São Francisco, na região de Juazeiro, onde os produtores de manga sofrem com a peste. Por lá já existe a Moscamed, Organização Social que produz insetos estéreis por raios X capazes de limitar o crescimento populacional, tal qual os transgênicos. Essa tecnologia usada ali é mais antiga e já está consolidada. O problema na região é que não há verba governamental para que insetos possam ser produzidos e liberados, afirma o presidente da Moscamed, Jair Virgínio. 

O custo de produção na fábrica, que fica em Juazeiro, na Bahia, varia entre US$ 400 e US$ 700 para cada milhão de moscas liberados.

A meta da Intrexon, diz o chefe de operações, John McLean, é ter moscas-do-mediterrâneo mais baratas e "previsíveis" do que as irradiadas, já que há risco de elas levarem mutações não mapeadas para o ambiente.


Virgínio, que também estudou os insetos transgênicos, acha difícil a Oxitec conseguir um preço mais baixo. "Nós não precisamos pagar royalties dessa linhagem que irradiamos", diz. "O custo de produção dos dois tipos de mosca é parecido, e o investimento inicial com os irradiadores já foi absorvido pelo Brasil."


Para ele, existem outros problemas na fruticultura, como a falta de aprovação para o uso de inseticidas e de outros insetos importados como controle biológico. "O jeito é cada produtor rezar para seu santo de devoção."


A Ceratitis capitata chegou ao país no começo do século 20, relata João Maria de Souza, geneticista da UFRN. Logo, por causa do alto número de possíveis hospedeiros, ela estava em todo lugar. Até frutas selvagens praticamente sem polpa servem de alimento para as larvas. "Com ela, é assim: 'Se só tem tu, vai tu mesmo'", brinca. Para ele, outra técnica que pode ser usada no combate à mosca é a infecção dos insetos com a bactéria wolbachia, técnica que tem ganhado espaço em testes para controlar a população de A. aegypti.


PRAGA


A mosquinha foi terrível na década de 1980, quando arrasou produção de frutas na Califórnia, nos EUA. Na época, houve grande resistência ao uso de inseticidas, pulverizados por helicópteros e aviões. No fim das contas, houve pulverização e posterior controle com o uso de insetos irradiados. A área atualmente é considerada livre da praga. Mesmo assim, ainda hoje são utilizados insetos irradiados para prevenir o retorno das moscas. No Brasil, o Vale do São Francisco não é considerado uma região livre da mosca. Lá, as mangas devem passar por um processo "hidrotérmico" para matar eventuais larvas –por afogamento e calor. Só dessa maneira é possível atender aos critérios mais exigentes de exportação, explica Virgínio.

Fonte: Brasil Agro

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